Crise espanhola
11 de outubro de 2009Nada divide mais a Espanha do que o mercado de trabalho. E os efeitos da atual crise econômica variam de acordo com a idade, localização geográfica e setor de trabalho.
A jovem população espanhola é um dos grupos mais afetados pelo crescente desemprego, duas vezes mais do que a média dos países da zona do euro. A taxa de desemprego na Espanha é 18,5%, porém entre os espanhóis de 15 a 24 anos, ela sobe para 37%, segundo dados do Eurostat, o departamento de estatísticas da UE.
A perda de empregos se concentra na indústria da construção e no setor de serviços – os mesmos setores que impulsionaram o crescimento exponencial do país.
Dados do Observatório de Empregos para Jovens da Espanha mostram que a maioria dos trabalhadores demitidos tinha contrato temporário – o que se aplica a um quarto dos postos de trabalho do país – e que metade desses postos era preenchida por pessoas abaixo dos 30 anos.
Entrando e saindo
Quando a crise econômica forçou o encolhimento dos negócios na Espanha, empregados jovens foram os primeiros a ir embora, o que fez com que um terço dos trabalhadores abaixo de 25 anos de idade tivessem que enfrentar um longo período de desemprego.
"A crise causou exclusão social e desemprego para os jovens", confirmou Alex Martin, da ala jovem do sindicato UGT (União Geral dos Trabalhadores), um dos maiores da Espanha. Martin afirmou que muitos jovens estão voltando para a casa dos pais e pretendem retomar o estudo.
O jovem sindicalista denunciou que mais da metade dos 3,7 milhões de desempregados espanhóis têm menos de 35 anos. Isso torna o índice de desemprego entre os jovens espanhóis, de longe, o maior da UE. Segundo a Comissão Europeia, a taxa aumentou 13,5 pontos percentuais no país, em relação ao ano passado.
Muita habilidade, pouca abertura
A falta de mobilidade do mercado de trabalho dificulta que jovens ponham o pé na profissão desejada. A UGT afirma que somente um em cada sete jovens espanhóis exerce sua profissão no campo de trabalho desejado, e que para chegar até lá, é preciso passar por nove empregos, em média.
Essa foi a experiência que atravessou Virginia Fernandez, desempregada durante oito meses. Uma graduação e dois mestrados na área de administração artística resultaram em empregos remunerados em companhia de seguro, call centers e mais recentemente, como arquivista.
"Realmente, ficou mais difícil do que no passado. Os únicos empregos disponíveis parecem ser os de recepcionista ou telefonista – não há muito mais do que isso", afirmou. Agora mais do que nunca, os empregados preferem manter os principiantes indo e vindo, através de contratos temporários. Em setembro de 2009, o número de funcionários permanentes é 33% menor do que no mesmo período de 2008.
Reforma do mercado de trabalho
Líderes econômicos insistem que o mercado de trabalho espanhol é muito rígido e propõem medidas com vista a uma maior flexibilidade – uma posição compartilhada também pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central espanhol.
Mas os sindicatos e, por enquanto, o atual governo socialista rejeitam esse ponto de vista. O primeiro-ministro José Luis Zapatero se recusou a tomar qualquer medida que possa acelerar a perda de empregos.
O economista e antigo secretário-geral do Emprego, Valeriano Gómez, afirmou que as leis trabalhistas de seu país oferecem proteção semelhante à da maioria dos países europeus. "A Espanha é um dos países menos protecionistas quanto à redução em massa de postos de trabalho, está no mesmo nível que o Reino Unido e oferece menos garantias para o trabalhador do que os suecos, alemães e dinamarqueses", disse Gómez.
Reforma da economia
Santos Ruesga, professor de economia da Universidade Autônoma de Madri, acredita que o problema do desemprego entre os jovens está na estrutura da economia espanhola. "O desafio não é como reformar o mercado de trabalho, mas como reformar a economia."
"Precisamos de um modelo de produção diferente – com investimento de capital bem maior, com uso mais intensivo de tecnologia – que dependa bem menos de profissões de baixa qualificação, como a construção civil", explicou.
Na opinião de Ruesga, uma economia reestruturada que crie empregos requerendo maior qualificação terá sucesso em absorver lentamente a força de trabalho jovem.
Modelo econômico sustentável
Até o momento, o governo espanhol tem procurado garantir o bem-estar social através de importantes medidas de emergência de alto custo. Isso incluiu um pacote mensal de 100 milhões de euros que assegura um pagamento de 420 euros mensais aos espanhóis que esgotaram a cobertura do seguro social.
O Estado também defendeu uma guinada significante na direção de um modelo econômico sustentável baseado em inovação e tecnologia, estimulando a criação de empregos de maior qualificação. No entanto, o déficit público espanhol é de 8%, e o FMI prognosticou que ele duplicará em 2010. Em consequência, o governo anunciou cortes no Departamento de Investimento, Desenvolvimento e Pesquisa, que era aclamado como o principal motor do modelo econômico da Espanha.
Autora: Hazel Healy (ca)
Revisão: Augusto Valente