Technobrega chega a Berlim e abre festival Worldtronics
28 de novembro de 2012Para muitos estrangeiros, o norte do Brasil se resume à Floresta Amazônica. Porém nos últimos anos, o estado do Pará tem ganhado destaque por um inusitado estilo musical. O technobrega rompe preconceitos e se torna cada vez mais popular no país. A nova geração da região parece ter encontrado sua voz através de tecnologia barata e da internet. E a renovação cultural local está pronta para conquistar o mundo.
O estilo surgido no Pará na década passada é uma fusão da tradicional música brega com música eletrônica. Ritmos como o carimbó, síria, lindu e calypso são incorporados a simples batidas eletrônicas feita por sintetizadores e programas de computador. Produzido de maneira quase caseira, o estilo se popularizou e se desenvolveu de maneira independente, não contando com o apoio de grandes gravadoras.
Os sintetizadores já eram usados na música pop regional, também conhecida como brega, desde os anos 1970. Na última década, o estilo evoluiu para uma versão eletrônica, em que as melodias do brega ganharam batidas intensas e extravagantes. As festas se popularizaram no Pará e o gênero foi se espalhando pelo país.
Com a ajuda do DJ e produtor Daniel Haaksman, a Alemanha ganha não somente sua primeira grande noite de technobrega – com a abertura do festival Worldtronics que começa nesta quarta-feira (28/11) em Berlim – mas também sua primeira coletânea do gênero lançada recentemente pela gravadora do produtor, a Man Recordings.
Novo Baile Funk
Haaksman foi um dos pioneiros do baile funk - nome internacional do funk carioca - na Europa. "Entrei em contato com o technobrega no Rio em 2005. Fiquei impressionado como eles transformavam famosas músicas pop em brega, criando uma música eletrônica local, como o baile funk. As primeira faixas que ouvi eram muito brega e pensei que nunca funcionariam na Europa, mas ultimamente a produção tem melhorado e achei que era o momento certo para lançar uma compilação por aqui", disse o produtor em entrevista para à DW Brasil.
Assim com o "batidão" carioca, Haaksman acredita que o technobrega tem um grande potencial para o sucesso nos clubes na Europa, apesar de suas raízes mais folclóricas. "A atitude dos produtores e DJs de não ligarem para regras ou direitos autorais é bastante punk para os ouvidos europeus. Para a geração de mais de 40 anos, a sonoridade do gênero lembra bandas como Trio, Tom Schilling ou Indochine, além de ser mais melódico que o baile funk", explicou.
Para a abertura do Worldtronics 2012, Haaksman queria não só trazer a Berlim o lado mais tradicional do technobrega, com nomes como o Waldo Squash e Felipe Cordeiro, mas também uma perspectiva mais internacional do gênero. "Como essa é a primeira noite de technobrega na Europa, queria trazer agentes culturais como o DJ João Brasil, que vive em Londres, e a Banda Uó. Eles têm abordagem e visual mais internacionais em seu trabalho, o que cria uma identificação mais fácil com o público", completou o curador.
Electrobrega
Uma das principais atrações da noite é a primeira apresentação internacional da Banda Uó. O extravagante trio composto por Mateus Carrilho, David Sabbag e Mel Gonçalves é uma das mais recentes sensações na cena alternativa no Brasil, com suas roupas descoladas, atitude irreverente e um grande amor pelo brega.
Com pouco mais de dois anos, a banda de Goiânia virou sensação na internet com versões technobrega de sucessos pop de Katy Perry e Willow Smith. "A internet é nossa principal ferramenta e foi responsável pela nossa projeção. Estamos felizes que nosso trabalho pode chegar ao público de todo Brasil", disse Mateus Carrilho em conversa com a DW Brasil.
A banda, que já declarou fazer electrobrega, não gosta de se rotular. "Fazemos uma grande mistura musical. Mas o technobrega foi o que fizemos no início e só ganhamos destaque por isso. Não tinha ninguém fora de Belém do Pará (onde o ritmo nasceu) fazendo, e nós acabamos ganhando muito destaque", explicou Carrilho.
O disco de estreia da banda, Motel, foi produzido por Rodrigo Gorky e Pedro D'Eyrot do Bonde do Rolê e conta com a participação da cantora Preta Gil e do produtor americano Diplo. A banda deixou para trás as versões e compôs grande parte das canções do disco. "Buscamos inspiração nos acontecimentos desse último ano. Algumas das letras são verídicas, outras são piadas entre amigos", disse o goiano.
Empolgados com o show e a viagem a Berlim, Carrilho promete um show inesquecível. "Cantamos brega, mas nosso show é como se fosse de hardcore. Não tem como ficar parado. Vamos quebrar tudo. Os berlinenses podem esperar muito calor. Vamos derreter esse frio aí," completou.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França