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Temer para baixo, Lula para cima, Marielle para sempre

4 de abril de 2018

Enquanto o governo Michel Temer afunda de vez no caos, o ex-presidente Lula ganha nova esperança, opina o jornalista alemão Thomas Milz. Em parte também por conta da terrível morte de Marielle Franco.

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Brasilsiens Ex- Staatschef Lula
Foto: Reuters/L. Benassatto

Foram semanas difíceis para o presidente Michel Temer. No decurso da Operação Skala, que investiga supostas irregularidades no Decreto dos Portos, editado pelo governo em 2017, a Polícia Federal (PF) prendeu vários dos confidentes mais próximos de Temer. As detenções ocorreram apenas poucas semanas depois de o então diretor-geral da PF, Fernando Segovia, ter dito à imprensa que a investigação aparentemente decorria em direção ao arquivamento.

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Temer agora corre o risco de sofrer sua terceira denúncia em seu curto, mas turbulento mandato. Apesar de ter se apresentado como candidato presidencial para as eleições de outubro, é improvável que Temer leve a candidatura realmente a sério. Ele apenas não quer parecer com um "pato manco". Pois, se realmente se chegar a uma nova denúncia, ele terá que mostrar força para angariar votos suficientes para aniquilá-la.

A ideia espontânea de pontuar com a intervenção no Rio de Janeiro, por sua vez, ainda não surtiu efeito. Mesmo depois de seis semanas, não há aparentemente nenhum plano conclusivo sobre como conter a onda de violência. Pelo contrário, o assassinato da vereadora Marielle Franco mostrou quão impotente o aparato de segurança é em face ao crime organizado. Ruim para Temer.

Embora ainda não esteja exatamente claro quem está por trás do ato hediondo, o assassinato de Marielle mudou profundamente o Brasil. "O mundo ganhou um símbolo", disse seu companheiro político de longa data e deputado estadual Marcelo Freixo, na segunda-feira (02/04), no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

Marielle simboliza todo o espectro dos grupos consistentemente oprimidos da sociedade. As pessoas têm o sentimento de que Marielle é vítima do sistema dominante. Não importa quem puxou o gatilho. E com isso, Marielle é a bússola com a qual a recentemente tão desorientada esquerda pode se realinhar. Simultaneamente, os sórdidos ataques contra a ativista nas redes sociais desqualificam completamente seus oponentes. "O mundo está chorando por Marielle não porque conheceu Marielle. O mundo está chorando por Marielle porque queria ter conhecido Marielle", disse Freixo.

DW Kolumne Realpolitik | Thomas Milz
O jornalista Thomas MilzFoto: Arquivo Pessoal

E foi justamente essa sensação que também marcou a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Fórum Social Mundial, em meados de março, em Salvador. O evento, que visava reivindicar o direito de Lula à sua candidatura presidencial, aconteceu à sombra do recente assassinato de Marielle. Poucos realmente conheciam a vereadora, porque quase ninguém sabia pronunciar seu nome corretamente. Mas Lula, que se apresentou como vítima da Justiça, conectou habilmente seu próprio destino com o de Marielle.

Os ataques a sua caravana no Sul do Brasil lhe ajudaram. A estúpida violência dos apoiadores de Bolsonaro em numerosas aparições de Lula tirou o discurso moral das vozes que clamam por sua prisão. E os tiros em dois ônibus da caravana, na tarde de 27 de março, levaram a esquerda brasileira a se unir a Lula. Pouco importa quem efetuou os disparos e por quais motivos. Bolsonaro teve de cancelar dois eventos anti-Lula em Curitiba devido à falta de quórum.

Sob o lema de defender a democracia contra o fascismo, a unificada esquerda brasileira tomou uma forte posição. Pois é possível colocar tudo e todos sob a suspeita de fascismo: os "golpistas" de Temer com seus planos de privatização; o aparato de segurança, incluindo as Forças Armadas; todos os partidos de centro e de direita; as empresas midiáticas envolvidas no "golpe" e o juiz unilateral. Sem mencionar o capitalismo financeiro global e a CIA. Todos podem, dentro desse discurso, serem culpados pela morte de Marielle. E pela prisão iminente de Lula.

Nesta quarta-feira (04/04), o Supremo Tribunal Federal (STF) tem que decidir sobre o habeas corpus de Lula. O contestado tribunal enfrenta um dilema. Se votar pela prisão de Lula, transformará o ex-presidente num mártir, e as ruas do Brasil, de repente, num campo de batalha. Se conceder o habeas corpus, cairá também a possibilidade de prisão em segunda instância. E talvez até a lei Ficha Limpa. E assim toda a luta contra a corrupção.

Antes quase dado como perdido, Lula vislumbra novamente o amanhã. Também graças a Marielle. Enquanto isso, as instituições brasileiras balançam de forma preocupante.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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