1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Terrorista de Nova York se radicalizou nos EUA"

2 de novembro de 2017

Autor de ataque é natural da Ásia Central, de onde muitos partem para se unir ao terrorismo. Mas região não pode ser vista como ninho do extremismo, e muitos se radicalizam como imigrantes em outros países, diz analista.

https://p.dw.com/p/2mwLZ
Homem segura cartaz após atentado em Nova York: "Nova York forte"
Vigília após atentado: "Nova York forte"Foto: Reuters/A. Kelly

O recente ataque terrorista em Nova York, cometido por um cidadão natural do Uzbequistão, chamou a atenção para o terrorismo oriundo da Ásia Central, de onde milhares de pessoas saíram para se unir a grupos extremistas na Síria e no Iraque.

Ainda assim, a região não pode ser considerada um ninho do extremismo, afirma a pesquisadora Deirdre Tynan, especialista em Ásia Central do centro de estudos International Crisis Group, e que mora no Quirguistão. "Acho que essa caracterização é muito forte", diz, em entrevista à DW.

Leia também: Quem é o terrorista de Nova York?

Porém, ela concorda que "um número significativo de centro-asiáticos" deixou a região para se unir ao "Estado Islâmico" ou a outros grupos na Síria e no Iraque e que "potenciais recrutas costumam mencionar sua situação financeira como uma motivação".

Tynan também destaca o fato de que tanto o autor do atentado em Nova York como os terroristas de Estocolmo e São Petersburgo se radicalizaram no exterior. "Eles foram radicalizados quando viviam uma vida de imigrante, num outro país. Isso cria tantas questões para os Estados Unidos quanto para os países da Ásia Central. Na verdade, até mais."

DW: Depois do atentado cometido por um cidadão natural do Uzbequistão, muitas pessoas estão se referindo à Ásia Central como um terreno fértil para o extremismo islâmico. A senhora concorda?

Deirdre Tynan, International Crisis Group
Deirdre Tynan: Propaganda do "Estado Islâmico" é produzida também nas línguas da Ásia CentralFoto: International Crisis Group

Deirdre Tynan: Não, eu acho que essa caracterização é forte demais. Certamente, um número significativo de centro-asiáticos deixou a região para se unir ao "Estado Islâmico" ou a outros grupos na Síria e no Iraque, mas estamos falando de alguma coisa entre 2 mil e 4 mil pessoas.

O que leva essas pessoas à guerra, ao "Estado Islâmico" e ao terrorismo?

Alguns de fato querem lutar. Outros partem por ter um zelo religioso. Muitos estão profundamente desiludidos. A sociedade, aqui, pode ser muito autoritária, e há uma distribuição extremamente desigual de riqueza. Com base nos nossos trabalhos de campo no Cazaquistão, no Quirguistão e no Tajiquistão, vemos que potenciais recrutas costumam mencionar sua situação financeira como uma motivação.

E o "Estado Islâmico" sabe explorar isso?

Com uma propaganda muito convincente, o "Estado Islâmico" tem apelo junto a uma ampla variedade de pessoas, por razões variadas. Ao longo das nossas pesquisas, começando em 2014, vimos desde um funcionário de segurança de alto escalão no Tajiquistão até garotas adolescentes se sentiram atraídas pela guerra e se tornarem apoiadores do "Estado Islâmico".

O que os governos da Ásia Central estão fazendo para resolver esse problema?

Algumas medidas estão sendo tomadas, mas elas são muito embriônicas. A ênfase frequentemente está em contraterrorismo em vez de prevenção. Os governos tendem a ver isso estritamente como um problema de segurança e não querem ou não são capazes de olhar para fatores socioeconômicos de radicalização.

Os autores dos atentados em Estocolmo, São Petersburgo e agora Nova York não eram guerreiros do "Estado Islâmico", que lutaram na guerra, mas imigrantes que deixaram a Ásia Central.

Ao que parece, o ponto em comum é que eles não foram radicalizados na Ásia Central. Eles foram radicalizados quando viviam uma vida de imigrante, num outro país. Isso cria tantas questões para os Estados Unidos quanto para os países da Ásia Central. Na verdade, até mais.

Trata-se de um problema de integração social?

Ontem falamos com uma pessoa que foi ligada a Sayfullo Saipov, o homem acusado pelo ataque terrorista de Nova York. Ele mora em Ohio, e perguntamos a ele como era a vida por lá. Ele nos passou a imagem de uma comunidade de relações muito próximas. Você poderia imaginar que haveria muito apoio para Saipov por lá, mas o que essa pessoa disse é que Saipov era um outsider mesmo entre os seus compatriotas uzbeques. Pode ser, portanto, que se trate de uma questão individual, de alguém que iria procurar problema em qualquer lugar.

Mas ainda assim ele decidiu matar pessoas em nome do "Estado Islâmico".

A propaganda do "Estado Islâmico" é muito diferente daquela de outras organizações, como o Talibã ou a Al Qaeda, pois ela é produzida em russo e também nas línguas da Ásia Central, incluindo uzbeque. Saipov deve ter tido acesso a exatamente o mesmo material de propaganda para recrutamento e instruções que um migrante uzbeque em Moscou ou alguém vivendo aqui, na Ásia Central. Eles são capazes de alcançar pessoas vulneráveis na língua delas. Acho que esse é um aspecto muito importante.

----------------

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App