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"The Lancet" põe em dúvida polêmico estudo sobre cloroquina

3 de junho de 2020

Revista científica emite alerta sobre estudo publicado em maio que levou OMS a suspender suas pesquisas sobre hidroxicloroquina. Levantamento usou dados, agora questionados, de 96 mil pacientes.

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Coronavirus - Hydroxychloroquin
A cloroquina e hidroxicloroquina vêm sendo promovidas por líderes como Donald Trump e Jair BolsonaroFoto: picture-alliance/dpa/Zuma/Quad-City Times/K. E. Schmidt

A revista médica The Lancet divulgou nesta terça-feira (02/06) uma nota de preocupação com um estudo alvo de críticas sobre a cloroquina e hidroxicloroquina, publicado na própria revista, na qual reconhece que "questões importantes" pairam sobre o trabalho e afirma que está sendo feita uma auditoria independente dos dados utilizados.

A chamada "expressão de preocupação", emitida pela Lancet, não significa uma retirada total do estudo, mas coloca em dúvida o trabalho científico realizado.

A publicação do estudo, em 22 de maio, numa das revistas científicas mais renomadas do mundo, levou à suspensão de ensaios clínicos de hidroxicloroquina em todo o mundo, pois a pesquisa apontava que o medicamento não seria benéfico para pacientes hospitalizados com covid-19 e poderia até ser prejudicial. O estudo também levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) asuspender temporariamente, por precaução, o uso de hidroxicloroquina em pesquisas por ela coordenadas em vários países.

Depois da decisão da OMS, os governos da França, da Itália e da Bélgica interromperam o uso de hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com covid-19.

O estudo se baseia em dados de 96 mil pacientes hospitalizados entre 20 de dezembro e 14 de abril em 671 hospitais e compara a condição dos doentes que receberam tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina (cerca de 15 mil) com os que não receberam.

Os dados usados são da empresa Surgisphere, que se apresenta como uma empresa de análise de dados em saúde com sede nos Estados Unidos. O jornal britânico The Guardian colocou em dúvida a idoneidade da empresa, que tem apenas uma meia dúzia de funcionários, que aparentam ter pouca experiência científica, e pequena presença online. O dono da Surgisphere, Sapan Desai, é um dos autores do estudo publicado na Lancet.

Os autores do estudo dizem "não terem conseguido confirmar o benefício da hidroxicloroquina ou da cloroquina" nos doentes analisados, apontando um acréscimo de efeitos adversos potencialmente graves, incluindo "um aumento da mortalidade", durante a hospitalização de doentes com covid-19.

Muitos investigadores expressaram dúvidas sobre o trabalho, incluindo alguns cientistas céticos sobre o benefício da hidroxicloroquina contra a covid-19.

Numa carta aberta divulgada na semana passada, dezenas de cientistas expressaram preocupação com o trabalho e disseram que um exame detalhado levantou questões de metodologia e de integridade dos dados, apontando a recusa dos autores em dar acesso total aos dados e a falta de "revisão ética".

Entre os investigadores que assinaram a carta aberta está o francês Philippe Parola, colaborador em Marselha de Didier Raoult, promotor francês da hidroxicloroquina que contribuiu amplamente para popularizar esse tratamento que vem sendo promovido por líderes como Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Outra revista científica, a New England Journal of Medicine, também publicou um estudo com base em dados da Surgisphere, também assinado por Desai. As dúvidas quanto aos dados fornecidos por essa empresa levaram também esta revista a emitir uma "expressão de preocupação", nesta terça-feira, sobre um estudo publicado em 1º de maio e que sugere que medicamentos para tratar problemas cardiovasculares não elevam o risco de uma pessoa morrer de covid-19.

 

AS/lusa/afp/efe/rtr/ap

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