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Thomas Bach, conquistas no esporte e negócios controversos

Joscha Weber (mas)11 de setembro de 2013

Ouro nos Jogos de 1976, novo presidente do Comitê Olímpico Internacional tem currículo elogiável como atleta e nos círculos políticos do esporte. Mas negócios polêmicos no Oriente Médio são foco de críticas.

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O alemão Thomas Bach, campeão olímpico e agora presidente do COIFoto: picture-alliance/dpa

Ele chegou ao topo do monte Olimpo, mas o caminho não foi fácil. Um suspiro de alívio tomou conta do salão do hotel em Buenos Aires. As primeiras palavras de Thomas Bach como presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) podem não ter sido inovadoras, mas foram certamente sinceras.

Bach é conhecido no mundo da política do esporte como um experiente profissional, muito bem conectado, relacionado e com um discurso eloquente. Mas foi com muito esforço, como quando ganhou ouro na esgrima nas Olimpíadas de 1976, que ele conquistou o posto de mais alto representante do esporte mundial.

Apesar de toda confiança demonstrada por ele e sua comitiva, o suspiro de alívio de Bach revela que seu caminho para a presidência não era fácil. Ele passou os últimos dias em inúmeras reuniões e conversas com a cúpula do COI. Antes de Buenos Aires, ele nunca havia perdido nenhuma eleição desde que começou a atuar oficialmente na política esportiva. Thomas Bach se tornou o nono presidente do COI, associação fundada em 1894 pelo francês Pierre de Coubertin.

Thomas Bach wird neuer IOC Präsident
O anúncio do novo presidente do COI aonteceu na terça-feira (10/09) em Buenos AiresFoto: Reuters

Assim como o fundador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Bach também foi um esportista e aprendeu com a esgrima duas habilidades fundamentais para seu sucesso na política esportiva: a paciência e a intuição para agir no momento certo. Durante anos, Bach construiu sua carreira, observou, esperou e buscou o momento certo para disputar o cargo mais alto no mundo dos esportes. Essa foi a primeira vez que ele se candidatou, depois de anos como alto funcionário do COI, o que lhe deu confiança, experiência e influência para chegar ao topo.

Sucessor natural

Durante cerca dois anos, observadores especulavam se Bach, então vice-presidente do COI, iria enfim se candidatar para substituir Jacques Rogge.

"Eu acredito que minha considerável experiência, a confiança que construí e paixão como atleta vencedor de uma medalha de ouro podem convencer algumas pessoas", disse Bach em maio passado.

Ele estava certo. Bach tem muitos amigos e simpatizantes no mundo do esporte. Além disso, sua "campanha" de quatro meses o levou ao redor do mundo. Segundo os estatutos do COI, os candidatos não podem fazer campanha oficialmente, mas eles podem ter conversas informais, fortalecer contatos e fazer lobby indireto, algo que Bach soube fazer muito bem.

Bach também foi criticado porque, além de presidente do COI, é presidente do grupo de empresas alemãs Ghorfa, que atua na área de defesa e tem muitos contatos no mundo árabe. Para John Mathias, da Anistia Internacional, a eleição de Bach foi um absurdo. Segundo ele, o COI "deveria ser um representante da paz e da compreensão internacional".

Sobre Bach, Mathias declarou ao canal de TV alemão ARD que "ele não passa uma boa impressão, principalmente em relação ao apoio do Ghorfa à importação de armas e quanto ao comportamento corporativo do grupo, que obviamente não se preocupa com os direitos humanos".

Pouco antes da eleição, Bach respondeu às acusações de forma evasiva e tentou, através de seus advogados, proibir a reportagem.

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Como esgrimista, Bach foi campeão olímpico e mundialFoto: picture-alliance/dpa

Críticas

Para o jornalista Jens Weinreich isso não é uma surpresa. Ele é um dos mais severos críticos do novo presidente do COI, a quem acusa, repetidamente, de tirar vantagem de sua posição política. Em sua defesa, Bach declarou que em "muitas situações o pessoal e o profissional se sobrepõem, com amigos e conhecidos nos dois círculos". As dúvidas permanecem.

Segundo reportagem da revista alemã Der Spiegel, Bach tinha um contrato de consultoria de aproximadamente 200 mil euros com o grupo Siemens e estava tentando usar seus contatos no IOC para convencer o ministro da energia do Kuwait, Sheikh Ahmad al-Sabah, a investir em larga escala em um projeto da multinacional alemã.

As acusações parecem não atingir a ascensão de Bach, que aparentemente tem uma trajetória impecável. Ele nasceu em 1953 em Würzburg e, com 5 anos, já era um promissor esgrimista, o que, em pouco tempo, levou o jovem à equipe nacional.

Com 22 anos, ganhou a medalha de ouro com a equipe de esgrima nas Olimpíadas de Montreal em 1976. Um ano depois, a equipe se tornou campeã mundial. Mas o ambicioso Bach construiu sua carreira também pós-esgrima. Em 1981, foi porta-voz do Congresso Olímpico. Dois anos mais tarde, se formou em direito.

Thomas Bach Olympische Ringe
Bach é acusado usar sua influência política para tirar vantagens pessoaisFoto: picture-alliance/dpa

Desafios

Bach trabalhou como diretor de relações internacionais para a Adidas, onde aprendeu as artimanhas do lobby esportivo e a importância de uma boa rede de contatos. Ele é fluente em inglês, francês e espanhol. Com o apoio do ex-presidente Juan Antonio Samaranch, entrou para o COI, aos 37 anos. Cinco anos depois, ele entrou para o círculo executivo do comitê. Finalmente, em 2000, tornou-se vice-presidente da mais importante federação esportiva do mundo.

Ao lado de Jacques Rogge, trabalhou de forma leal e confiável, esperando pacientemente por sua oportunidade. Durante uma das maiores crises vividas pelo COI, o escândalo ligados à corrupção nos jogos de Salt Lake City em 2002, Bach ganhou pontos por sua habilidade em lidar com problemas.

Rogge e Bach são bons amigos, e ele agredeceu pelos anos de lealdade fazendo declarações positivas sobre seu vice-presidente. Segundo Rogge, Bach é "um pilar importante para o movimento olímpico em todo o mundo" e tem "tudo que um presidente precisa".

Agora, o desafio de Bach é traduzir para realidade seu programa eleitoral Unidade e Diversidade, que sugeria reformas moderadas. Ele sabia que o anúncio de mudanças radicais poderia lhe custar votos. Sua principal preocupação é proteger a autonomia do esporte da influência da política e da justiça, o que deve lhe render pontos positivos no mundo esportivo.

Thomas Bach Quenn London 2012
Thomas Bach e a rainha Elizabeth 2ª na abertura das Olimpíadas em LondresFoto: AP

No momento, leis mais duras contra doping e corrupção não são bem vistas por muitos membros da elite esportiva. A questão encontra uma forte oposição na Alemanha, onde o Ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, próximo de Bach, se mostrou a favor de uma rigorosa lei anti-doping. Algo que Bach sempre foi contra.

Os desafios que esperam o novo presidente do COI são enormes. Uma necessária reforma precisa decidir quais esportes devem ser incluídos nos Jogos Olímpicos, o que pode gerar uma exposição lucrativa. Os custos para infraestrutura e principalmente segurança nas Olimpíadas estão se tornando cada vez maiores, o que tem afastado cidades candidatas.

Outro problema grave é o alto número de casos de doping no passado recente, que colocaram em risco uma importante imagem que o COI tenta passar: o fascínio pelo esporte profissional e seus atletas. Thomas Bach está sozinho em uma arena sem adversários reais – uma situação à qual terá que se acostumar.