Triste imperador: Guilherme 2º no exílio
27 de abril de 2014Foi uma queda de muito alto: a partir 9 de novembro de 1918, um dos homens mais poderosos da Europa não passava de mero fugitivo. Guilherme 2º, imperador da Alemanha e rei da Prússia, foi forçado a abdicar.
Grande parte da população via o líder com desprezo. Após quatro anos de uma terrível guerra contra metade do mundo, os alemães tiveram de admitir a derrota. O Império Alemão estava derrotado. Soldados e trabalhadores rebelaram-se e tomaram o poder em muitas cidades. Alvo de todo o ódio: o supremo comandante Guilherme 2º.
Imperador em fuga
Para sua sorte, Guilherme 2º não se encontrava na Alemanha, mas sim em seu grande quartel-general na cidade de Spa, na Bélgica. E ali, em 9 de novembro de 1918, dia da proclamação do fim da monarquia, continuava representando o papel de homem forte: "E mesmo que nos matem a todos, não temo a morte! Não, daqui não saio!".
Os alemães já estavam fartos de saber aonde davam as declarações infladas de Guilherme 2º. E dessa vez não foi diferente: já na madrugada do dia seguinte, ele debandou a caminho da Holanda. Dessa forma, conseguiu escapar dos revolucionários e dos adversários, que gostariam de tê-lo levado a tribunal.
Na Holanda, o ex-imperador virou uma curiosidade pública. Por algum tempo, o castelo de Amerongen, onde Guilherme 2º inicialmente encontrou refúgio, foi literalmente sitiado: todos queriam ver o imperador sem império. Não é de se admirar que o antigo monarca logo procurasse uma nova morada.
Exílio num antigo burgo
Sua escolha foi o palácio Huis Doorn, na província holandesa de Utrecht. As origens do antigo burgo remontam ao século 14. A propriedade, porém, não satisfazia às exigências de Guilherme. Grandes reformas foram necessárias para agradar ao ex-monarca. Um grande número de trabalhadores foi contratado para modernizar os cômodos, construir um novo portal de entrada e renovar o prédio, para receber o último imperador alemão.
Os meios para financiar tal luxo vinham da Alemanha. A república democrática liberou parte dos bens do ex-monarca, inicialmente confiscados. E mais: 59 vagões de carga abarrotados de móveis requintados, obras de arte, armas e roupas deixaram a Alemanha em direção à Holanda.
Guilherme se instalou na Huis Doorn e passou a fazer aquilo que um imperador costuma fazer: manter uma corte. Lustres suntuosos, quadros dos antigos reis da dinastia Hohenzollern e delicadas porcelanas adoçavam um pouco seu exílio.
Grande paixão: serrar madeira
Mas o monarca continuava sempre sonhando com o retorno à Alemanha. Após o fracassado golpe de Estado de Adolf Hitler em Munique, Guilherme escreveu a dois de seus antigos oficiais: "Se precisarem de mim é só me chamar, estarei sempre pronto a voltar."
Entretanto, ninguém pensava em chamá-lo, pois ele era detestado por todas as vertentes políticas. Apesar disso, conseguiu reunir à sua volta um bando de monarquistas, em cujo meio proferia livremente seus temidos monólogos.
O antissemita descreveu, por exemplo, judeus e imprensa como uma "peste da qual a humanidade teria de se livrar de um jeito ou de outro". E em 1927 escrevia: "Gás seria a melhor solução", palavras que hoje chocariam qualquer um.
Quando não proclamava discursos cheios de ódio, Guilherme se entregava à sua verdadeira paixão, no gigantesco parque adjacente à Huis Doorn: serrar madeira. Uma a uma, as árvores da propriedade sucumbiram à mania de Guilherme. Um confidente anotou: "O parque fica cada vez mais pelado, as árvores tombam, uma atrás da outra."
Morte no exílio
Apesar de suas declarações antissemitas, Guilherme não era benquisto pelos nazistas, que em 1933 tomaram o poder na Alemanha. O mesmo valia para a fracassada democracia de República de Weimar. Para Adolf Hitler, estava fora de cogitação trazer de volta o velho ex-monarca.
"Os alemães ainda irão amaldiçoar a bandeira com a suástica", profetizou Guilherme, antes de fechar os olhos para sempre em 1941, aos 82 anos de idade. Ele foi sepultado num mausoléu na Huis Doorn.
Atualmente, o palácio é um museu que permite aos visitantes vislumbrar os anos de exílio do último imperador alemão.