Trump ameaça iniciar guerra judicial após eleições
2 de novembro de 2020No último dia de campanha eleitoral nos EUA, o presidente Donald Trump, que permanece atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas, executou uma estratégia dupla de alimentar incerteza sobre a segurança do processo eleitoral e de minimizar a pandemia para agitar sua base.
Nesta segunda-feira (02/11), Trump afirmou que pretende iniciar uma série de batalhas judiciais em torno da apuração assim que a votação for concluída. O alvo do presidente é a votação antecipada pelo correio, em especial a forma como ela ocorre em alguns estados, que permitem a contagem de votos que chegarem depois de 3 de novembro. No estado da Pensilvânia, por exemplo, a data limite para a contagem é a próxima sexta-feira. Na Carolina do Norte, o prazo vai até 12 de novembro.
"É terrível que não possamos saber os resultados na noite da eleição", disse o presidente. "Assim que a eleição acabar, na mesma noite, vamos entrar com nossos advogados", completou, apontando que deseja que a contagem seja definitivamente encerrada na noite do pleito, algo que seria inédito na história eleitoral do país.
"Vocês sabem o que teria sido realmente bom? Se nossa Suprema Corte tivesse decidido que tudo deve ser contado até a noite de nossa eleição, nosso grande dia de eleição, não seria bom?", disse Trump a apoiadores na cidade de Rome, no estado da Geórgia.
Até o momento, mais de 96 milhões de americanos já votaram, tanto pelo correio quanto em seções eleitorais que abriram antecipadamente, segundo contagem do Projeto Eleições da Universidade da Flórida, sinalizando uma participação recorde do eleitorado no pleito. O número já corresponde a 70% de toda a participação nas eleições de 2016.
Ao longo da campanha, Trump alimentou, sem apresentar provas, acusações de que a votação pelo correio é suscetível a fraudes em larga escala. Mas a rejeição desse formato de votação pelos republicanos tem outra explicação, segundo a imprensa americana: os eleitores que enviam seus votos pelo correio são na maioria democratas, enquanto republicanos costumam votar presencialmente.
No domingo, o temor de que Trump conteste o resultado ou provoque incerteza sobre o resultado cresceu após o site Axios noticiar que o presidente estava pretendendo se declarar vencedor se os primeiros resultados da noite o mostrassem à frente na contagem.
Posteriormente, Trump negou que estaria se preparando para fazer algo neste sentido. No entanto, as falas de Trump sobre contestar os votos pelo correio já são suficientes para aumentar a incerteza nesta que está sendo considerada uma das eleições mais tensas da história dos EUA.
Diante das manobras de Trump para minar a fé no processo eleitoral, o desafiante Joe Biden afirmou: "O presidente não vai roubar esta eleição".
Ao longo do último dia de campanha, Trump tem se deslocado por quatro estados considerados decisivos no pleito – Carolina do Norte, Pensilvânia, Wisconsin e Michigan. Biden, por sua vez, se concentrou na Pensilvânia e em Ohio.
Trump tenta evitar ser o primeiro presidente em exercício a perder a reeleição desde o republicano George H. W. Bush, em 1992. No entanto, o declínio econômico provocado pela pandemia e a explosão de casos de mortes por covid-19 nos EUA têm enfraquecido a candidatura do presidente.
Nesta segunda-feira, em um dos seus últimos comícios, Trump voltou a minimizar a pandemia, e sugeriu que pretende demitir Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, a organização que tem concentrado os esforços para combater a covid-19.
"Não contem a ninguém, mas deixe-me esperar até um pouco depois da eleição", disse Trump, em resposta a apoiadores que gritaram para que ele se livrasse de Fauci. Na ocasião, Trump reclamou da cobertura que a imprensa tem feito sobre a pandemia.
A reação do público e de Trump também ocorreu após a divulgação de uma entrevista do infectologista, que disse que o presidente ignorou suas recomendações para conter o coronavírus. Fauci ainda relatou que não falava com Trump há mais de um mês.
O médico ainda afirmou que Biden está levando a pandemia "a sério de uma perspectiva de saúde pública", enquanto Trump está "olhando para isso de uma perspectiva diferente".
JPS/ots