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Trump sugeriu à Espanha que construísse muro no Saara

20 de setembro de 2018

Similar à promessa do líder americano em relação à fronteira com o México, barreira serviria para frear entrada de refugiados na Europa. Chefe da diplomacia espanhola rechaçou proposta.

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Neve no deserto do Saara
Deserto do Saara se estende por aproximadamente 4.800 quilômetrosFoto: Reuters/H. B. Jerad

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu ao governo da Espanha que construísse um muro ao longo do deserto do Saara para combater a crise migratória no Mediterrâneo e reduzir a chegada de refugiados à Europa, afirmou o ministro espanhol do Exterior, Josep Borrell.

Os comentários do chefe da diplomacia foram feitos durante um almoço em Madri nesta semana e amplamente divulgados pela imprensa do país nesta quarta-feira (19/09). Ao jornal britânico The Guardian, um porta-voz do Ministério do Exterior da Espanha confirmou a informação, mas se negou a dar mais detalhes.

Segundo Borrell, durante a conversa com Trump, diplomatas espanhóis teriam apontado para as dificuldades de tal estratégia, lembrando que o Saara se estende por cerca de 4.800 quilômetros. O presidente, por sua vez, teria levantado dúvidas sobre o número: "A fronteira com o Saara não pode ser maior que nossa fronteira com o México".

Em 2016, ainda durante sua campanha à presidência, Trump prometeu construir um "grande e bonito muro" em toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México, que tem aproximadamente 3.200 quilômetros de extensão.

Um plano semelhante no Saara, no entanto, seria complicado, pois a Espanha possui apenas dois pequenos enclaves no Norte da África – Ceuta e Melilha. Dessa forma, o muro teria que ser construído em território estrangeiro.

Segundo o diário espanhol El País, Borrell se manifestou contra a ideia de construir um muro para frear a imigração, tanto no Saara como em qualquer outro lugar.

Fontes diplomáticas afirmaram que a sugestão de Trump ao governo espanhol pode ter ocorrido em junho, durante uma viagem do ministro espanhol do Exterior aos Estados Unidos, por ocasião da visita do rei Felipe 6ª e da rainha Letícia à Casa Branca.

Durante o almoço nesta semana, além de relatar o episódio com Trump, Borrell teria feito ainda um diagnóstico bastante sombrio do debate sobre a crise migratória na Europa.

"O problema econômico, bem ou mal, tem sido resolvido. O migratório não, porque esse problema não se resolve com dinheiro, é um problema emocional", afirmou ele, segundo o El País. "As sociedades europeias não estão estruturadas para absorver mais do que uma determinada percentagem de migrantes, especialmente se forem muçulmanos."

Presidente do Parlamento Europeu entre 2004 e 2007, Borrell também aproveitou para criticar a estratégia da Itália para conter o fluxo de migrantes no sul da Europa e afirmou que a Espanha defende "métodos mais civilizados".

"Não vamos resolver isso no estilo Salvini", disse ele, referindo-se às decisões tomadas pelo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, de impedir que navios carregados de estrangeiros atracassem nos portos de seu país.

Em junho, o chefe de governo da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, aceitou receber 630 refugiados a bordo do navio Aquarius, que havia sido recusado pela Itália e por Malta.

A Espanha tem se visto na linha de frente da crise migratória. Somente neste ano, mais de 33.600 migrantes chegaram ao país pelo mar, enquanto 1.723 morreram na tentativa.

O aumento da chegada de refugiados – equivalente a três vezes o número registrado no mesmo período do ano passado – significa que a Espanha ultrapassou a Itália e a Grécia como o principal destino dos migrantes que cruzam o Mediterrâneo.

EK/efe/ots

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