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Trump tentou silenciar presidente do México sobre muro

3 de agosto de 2017

"Washington Post" revela transcrição do primeiro telefonema entre o presidente americano e Peña Nieto desde a posse na Casa Branca. "Você não pode afirmar à imprensa" que o México não pagará pelo muro, teria dito ele.

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Peña Nieto e Trump, em foto de agosto do ano passado, na Cidade do México
Peña Nieto e Trump, em foto de agosto do ano passado, na Cidade do MéxicoFoto: picture-alliance/AP Photo/D. Lopez-Mills

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou o presidente do México, Enrique Peña Nieto, para que parasse de dizer publicamente que não financiaria o polêmico muro na fronteira, revelou nesta quinta-feira (03/08) o jornal americano The Washington Post.

"Você não pode dizer isso [que o México não pagará pelo muro] à imprensa", afirmou Trump repetidas vezes durante um telefonema com o presidente mexicano em 27 de janeiro passado, o primeiro após assumir a Casa Branca. O veículo disse ter tido acesso à transcrição desse diálogo.

Na conversa telefônica, o presidente americano teria deixado claro ter consciência de que as verbas para a construção teriam que partir de outras fontes, e não da Cidade do México, mas teria ameaçado interromper o contato com o país caso Peña Nieto continuasse fazendo declarações desafiantes.

O financiamento "vai dar certo de alguma forma", disse Trump, segundo a transcrição, acrescentando que "isso vai ser resolvido, e está tudo bem". No entanto, alertou: "Se você disser que o México não vai pagar pelo muro, então eu não quero mais encontrar com vocês, porque não posso viver com isso".

Em vez de dizer "'não vamos pagar', poderia dizer 'vamos solucionar', que isso será solucionado de algum modo", recomendou o líder americano ao presidente mexicano, segundo o jornal.

Num momento da conversa, Trump chegou a ameaçar Peña Nieto com a imposição de taxas de 35% às importações mexicanas, afirmando que, como presidente, ele concedeu "poderes fiscais tremendos".

Os dois líderes tinham um encontro marcado para 31 de janeiro em Washington, mas a visita acabou sendo cancelada pelo mexicano dias antes, em 26 de janeiro, em meio à insistência do republicano de que o México financie a construção. Mais cedo no mesmo dia, Trump havia dado um ultimato: "Se não quer pagar pelo muro, cancele a visita".

A controversa proposta de construir um muro na fronteira com o México foi uma das principais promessas de campanha de Trump durante a corrida eleitoral no ano passado. Na conversa com Peña Nieto, no entanto, ele teria descrito a obra como "o tema menos importante" a tratar com o presidente mexicano, mas, "em termos políticos, poderia ser o mais importante".

Antes de desligar o telefone, o líder republicano ainda teria provocado o colega afirmando que, naquele dia, pelo menos um de seus telefonemas ocorreu de forma mais suave. "A conversa com [Vladimir] Putin foi agradável", disse Trump, referindo-se ao presidente russo. "Isso soa ridículo."

Os diálogos ocorreram em meio a uma série de ligações telefônicas realizadas pelo então recém-empossado presidente americano a diversos líderes estrangeiros. A transcrição da conversa com Peña Nieto, especificamente, foi produzida pela própria equipe da Casa Branca, afirmou o Washington Post.

Em reportagem publicada nesta quinta-feira, o jornal afirma que o documento "fornece uma ideia da abordagem de Trump no aspecto diplomático de seu cargo, sujeitando um vizinho próximo e aliado de longa data a uma série de ameaças e ofensas como se fossem direcionadas a um adversário dos EUA".

A conversa em 27 de janeiro passado ocorreu dois dias depois de uma mensagem televisiva transmitida pelo presidente mexicano em reação à decisão de Washington de construir um muro na fronteira entre os dois países e à atitude de Trump de forçar o vizinho do sul a pagar a conta.

"Lamento e condeno a decisão dos Estados Unidos de continuar com a construção de um muro que por anos nos dividiu em vez de nos unir", disse Peña Nieto na ocasião. "O México não acredita em muros. Repito o que disse outras vezes: o México não pagará por nenhum muro."

EK/afp/dpa/efe/rtr/ots