Trump volta a defender hidroxicloroquina contra a covid-19
29 de julho de 2020Uma aparente mudança de postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à pandemia de covid-19 durou apenas alguns dias. Nesta terça-feira (28/07), ele voltou a defender o uso de hidroxicloroquina como tratamento para a doença, embora não haja comprovação científica de que o medicamento funcione contra a doença provocada pelo novo coronavírus.
Segundo o presidente americano, a questão se tornou política. Trump disse que o medicamento antimalárico só foi rejeitado como tratamento contra a covid-19 porque havia sido defendido por ele. "Quando recomendo algo, eles gostam de dizer 'não use'", afirmou durante coletiva de imprensa.
As declarações foram feitas após nova polêmica envolvendo o presidente americano e redes sociais. Trump e seu filho mais velho, Donald Trump Jr, estão entre as pessoas que compartilharam na noite de segunda-feira um vídeo em que um grupo de médicos afirma que o uso de máscaras durante a pandemia é desnecessário e que a hidroxicloroquina é a "cura" para a covid-19. Trump Jr. chegou a ter a conta no Twitter suspensa por 12 horas após compartilhar as informações, que, de acordo com a rede social, violam as regras da plataforma.
Twitter, Facebook e YouTube correram para retirar as várias versões do vídeo do ar, mas ele já havia sido visto por milhões de pessoas e compartilhado centenas de milhares de vezes.
À BBC, o Facebook disse que removeu o vídeo "por compartilhar informações falsas sobre curas e tratamentos para a covid-19". Já Twitter e YouTube afirmaram, também à emissora britânica, que o conteúdo do vídeo viola as políticas da empresasobre desinformação em relação à covid-19.
Trump segue defendendo a hidroxicloroquina mesmo após vários estudos mostrarem a ineficácia do medicamento para tratar a covid-19. Em meados de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) interrompeu os experimentos com hidroxicloroquina no tratamento da doença, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados.
Na mesma época, a Food and Drug Administration (FDA), agência do governo dos EUA que regulamenta o uso de medicamentos no país, revogou a autorização para o uso emergencial da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Com base em novas evidências, a FDA afirmou não ser mais "razoável" acreditar que os medicamentos podem ser eficazes contra a doença causada pelo novo coronavírus.
Também durante a entrevista coletiva de terça-feira, Trump mostrou descontentamento com a popularidade do imunologista Anthony Fauci, membro da força-tarefa da Casa Branca contra o coronavírus e crítico à hidroxicloroquina, e de outros cientistas.
"Eles são altamente respeitados, mas ninguém me ama, deve ser minha personalidade", declarou Trump.
Na segunda-feira, Trump retuitou uma teoria da conspiração que afirma que Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, ajudou a impulsionar o vírus para impedir a reeleição do presidente. Diante dos ataques, o especialista manteve a calma.
"Eu não enganei os americanos sob nenhuma circunstância", disse em entrevista à rede ABC. "Estamos no meio de uma crise, uma pandemia. Foi para isso que fui treinado ao longo da minha vida profissional."
Polêmicas entre Trump e redes sociais
O presidente americano acusa as empresas de tecnologia do Vale do Silício de serem tendenciosas contra políticos conservadores. Na metade de junho, o Facebook removeu um anúncio da campanha eleitoral de Trump que continha um símbolo utilizado pela Alemanha nazista para designar prisioneiros políticos, incluindo comunistas, nos campos de concentração. Até então, a rede social vinha sendo criticada por não interferir em conteúdos políticos postados em sua plataforma.
No final de maio, o Twitter ocultou uma postagem do presidente por "apologia à violência" e alertou para conteúdo falso em outra postagem de Trump.
Antes de voltar a defender a hidroxicloroquina nesta terça-feira, Trump vinha apresentado uma postura mais moderada quanto à pandemia, reconhecendo a gravidade da situação. Na quinta-feira da semana passada, ele anunciou o cancelamento da Convenção Nacional Republicana, programa dapara ocorrer de 25 a 27 de agosto em Jacksonville, na Flórida. "Este não é o momento certo para ter uma grande convenção", declarou. Dias antes, ele havia incentivando o uso de máscaras, ato que chamou de "patriótico".
País mais afetado pela covid-19, os Estados Unidos já registram mais de 4,3 milhões de casos da doença e mais de 149 mil mortes, de acordo com dados da universidade Johns Hopkins. A situação é particularmente preocupante na Califórnia, Flórida e Texas, onde as autoridades foram forçadas a impor restrições novamente.
LE/lusa, afp, ap, rtr, ots
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