Turismo de massa
9 de março de 2011Para muitos turistas, viajar é uma forma de adquirir conhecimento e cultura, além de ampliar os próprios horizontes. Teoricamente, é praticamente impossível se opor a tais afirmações. No entanto, em tempos de turismo de massa, parece que quase ninguém pára para se perguntar à custa de quem os turistas passam suas férias.
A ONG Anistia Internacional e o Serviço de Desenvolvimento da Igreja Luterana apresentaram em Berlim, por ocasião da Feira Internacional do Turismo (ITB), uma pesquisa que aborda a questão das viagens sob esse aspecto normalmente ignorado.
Tourism Watch é o nome do departamento dentro do Serviço de Desenvolvimento da Igreja Luterana encarregado de analisar sob quais condições as viagens são hoje feitas no mundo. O fato de que o setor do turismo tem seus lados obscuros está mais que comprovado.
Turismo sexual no Brasil
O chamado turismo sexual, sobretudo em países asiáticos, mas também no Brasil e na região do Caribe, já foi várias vezes manchete de jornais. Trata-se de situações nas quais os direitos humanos são ignorados.
O diretor do Tourism Watch, Heinz Fuchs, não pretende chamar mais uma vez a atenção, porém, para essa forma de exploração e abuso já conhecida de todos, mas sim para o contexto geral em um setor em crescimento, no qual, via de regra, só uma pequena maioria lucra muito e todos os outros acabam sendo explorados.
Para Fuchs, quem viaja precisa deixar de lado a ideia de que o turismo tem algo a ver com "o paraíso na Terra" e apela para a consciência dos que se locomovem por prazer. Ele lembra que, assim como nossa vida cotidiana, "o turismo acontece à sombra das discórdias e rupturas desse mundo, da situação do mercado de trabalho e da situação política de um país e das pessoas que nele vivem".
Egito e Tunísia
É interessante observar os fatos decorrentes das reviravoltas no Egito e na Tunísia, países que normalmente atraem grande número de turistas. Fuchs diz que se surpreendeu com a forte influência dos militares sobre o setor: "O fato de famílias e investidores privados dominarem os negócios com o turismo nesses países já era conhecido, mas essa relação estreita entre militares, políticos e o setor de turismo foi novidade para mim", diz ele.
Não surpreende, contudo, que o regime autocrata e ditatorial leve pouco em consideração as necessidades da população do país, quando o assunto é atrair turistas dispostos a gastar. Katharina Spiess, da Anistia Internacional, conhece vários casos, entre eles o do Camboja, em que projetos de hotéis foram levados a cabo sem a menor atenção às necessidades dos nativos.
O exemplo do Camboja
"O Camboja é um exemplo no qual se pode ver claramente que, num país onde há um dinamismo em termos econômicos, o crescimento do turismo se dá à custa dos pobres. As pessoas são expulsas de suas casas para abrir espaço para instalações turísticas", completa.
Spiess espera dos políticos maior atenção para os direitos humanos quando se fala em turismo. E acredita que suas ambições são ouvidas. "Conseguimos sensibilizar o governo alemão para essa problemática no Camboja, pois Berlim desenvolve lá grandes projetos de ajuda ao desenvolvimento, nos quais está também em jogo a distribuição de terras", completa a especialista da Anistia Internacional.
Segundo Fuchs, a Comissão Parlamentar de Turismo no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) está ciente do problema. Em relação às agências de turismo, ao contrário, a experiência de Fuchs não é positiva. Ele salienta que até mesmo grandes empresários do setor afirmam que poderiam fechar suas portas, caso tivessem que levar em consideração o respeito aos direitos humanos nos países para os quais levam turistas.
Turismo consciente
Linda Poppe, da organização de defesa dos direitos humanos Survival International, confirma essa afirmação. "Tentamos obviamente chamar a atenção das empresas do setor para o que acontece no local para onde elas levam os turistas. E pedimos que se empenhem em prol dos direitos humanos. Tentamos exercer influência em vários níveis, para que os turistas se informem bem a esse respeito e tomem suas decisões também considerando esse aspecto".
Fuchs apela às agências de viagem e empresas do setor para que levem a sério "a obrigação de vigilância do respeito aos direitos humanos". Mas cada turista, individualmente, é chamado a pensar bem para que não se torne também cúmplice deste círculo vicioso.
"Os relatórios da Anistia Internacional, as informações do ministério das Relações Exteriores são algumas das várias fontes de informação neste sentido às quais os turistas deveriam recorrer. Assim, cada um poderia evitar tornar-se cúmplice. O desrespeito aos direitos humanos é uma situação que ninguém deseja e sobre a qual um viajante pode se informar", conta.
Ele sugere que a Organização Internacional de Turismo forneça relatórios regulares ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Já os investidores do setor, diz Fuchs, deveriam levar em consideração as questões sociais e ambientais antes de fecharem seus negócios.
Autor: Marcel Fürstenau (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer