Turquia cogita se juntar à ofensiva ao "Estado Islâmico" na Síria
30 de setembro de 2014A cúpula do Exército turco se reuniu nesta terça-feira (30/09) com o governo para analisar o avanço do "Estado Islâmico" na Síria e os intensos combates cada vez mais próximos a sua fronteira. Em pauta, está como participar da coalizão sob a liderança americana, sem perder de vista seus próprios objetivos em território sírio.
Apesar do perigo representado pelos combates entre o "Estado Islâmico" (EI) e os curdos sírios na fronteira turca , e mesmo com a ameaça de atentados na Turquia, Ancara vinha se recusando, há semanas, a participar da aliança internacional. "Para a Turquia, o regime de Bashar al-Assad continua sendo o maior problema na Síria", afirma Okay Gönensin, articulista do jornal Vatan.
Ele acredita que, possivelmente, Washington assegurou à Turquia um maior engajamento na luta contra Assad. Em contrapartida, o presidente Recep Tayyip Erdogan teria prometido participar da aliança. Foi apenas depois de uma visita à Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que o chefe de Estado anunciou a mudança de posição.
"As condições mudaram", disse então Erdogan. Segundo ele, após a libertação dos quase 50 reféns turcos, que passaram três meses nas mãos do EI, a Turquia passou a ter mais capacidade de ação.
Além dos bombardeios
Erdogan exige uma ampliação dos ataques contra o EI. Outras exigências são uma zona de exclusão aérea sobre partes da Síria e a criação de uma área de proteção no país vizinho. O presidente turco afirmou no último fim de semana que já teria falado sobre o assunto com o presidente dos EUA, Barack Obama.
Após o retorno do recesso de verão, nesta quinta-feira, o Parlamento turco deverá discutir uma lei relativa a uma missão do Exército na Síria. O conteúdo exato da lei ainda não é conhecido. Ao mesmo tempo, também deverá ser criada uma base jurídica para uma possível missão no Iraque.
Para Oytun Orhan, especialista em Oriente Médio do centro de estudos turco Orsam, Erdogan quer que os EUA não se limitem aos bombardeios aéreos a postos do EI. "O problema são as causas sociais e políticas de longa data que contribuíram para o surgimento do EI", opina.
O governo turco enfatiza que a brutalidade do regime Assad na Síria, como também a discriminação sofrida pelos muçulmanos sunitas no Iraque governado pela maioria xiita, teriam contribuído nos últimos anos para a radicalização.
Um passo importante nessa direção para enfrentar o problema seria o fortalecimento das forças não jihadistas dentro da oposição síria. Unidades do Exército Livre da Síria (ELS), que foi fundado originalmente em solo turco, poderiam ser treinadas e equipadas com armas na zona de proteção exigida por Erdogan, escreveu o jornal turco Evrensel.
Além disso, cidadãos sírios em situação vulnerável poderiam ser recebidos nessa zona de segurança sem que tivessem de fugir para a Turquia. Ancara já acolheu cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios.
Suspeitas curdas
Os apelos por uma zona de segurança são vistos com desconfiança por curdos de ambos os lados da fronteira. Eles suspeitam que Ancara queira proceder contra as aspirações de autonomia dos curdos sírios. Hasip Kaplan, do partido curdo turco HDP, acusou o governo de querer combater a região autônoma de Rojava com a instalação de uma zona de proteção.
Segundo o jornal Evrensel, Enver Müslüm, líder do governo autônomo curdo em Kobane, teria afirmado que já há uma semana Ancara está repassando, intencionalmente, números muito elevados de refugiados, para legitimar o projeto de criação de uma zona de proteção na Síria.
Ainda não se sabe como tal zona de proteção seria criada. Também continua sem resposta a questão sobre que países, além da Turquia, poderiam assumir a segurança militar da zona. Erdogan, no entanto, não quer ser dissuadido de seu projeto.
"O EI não pode ser combatido unicamente a partir do ar", disse o presidente turco. "Sem operação terrestre, nenhum lugar poderá ter garantia duradoura de segurança."