Ucrânia anuncia prisão de oligarca próximo a Putin
13 de abril de 2022O Serviço Ucraniano de Inteligência (SBU) anunciou nesta terça-feira (12/04) a prisão de um dos principais aliados do Kremlin, no mesmo dia em que o líder russo, Vladimir Putin, sinalizou que as negociações de paz chegaram a um impasse sem solução à vista.
Em fevereiro, autoridades ucranianas denunciaram que Viktor Medvedchuk, líder do maior partido de oposição na Ucrânia – a Plataforma de Oposição - Pela Vida – fugiu de sua prisão domiciliar, três dias após o início da invasão do país pela Rússia, e estava foragido.
O oligarca de 67 anos é alvo de um processo por alta traição. Medvedchuk, que costuma dizer que Putin é padrinho de sua filha, nega as acusações.
"Traidores pró-Rússia e agentes dos serviços de inteligência russa, lembrem-se: seus crimes não prescrevem", afirma uma postagem no Facebook dos serviços de segurança da Ucrânia, com uma foto de Medvedchuk algemado e vestindo um uniforme camuflado do exército ucraniano.
Ele é considerado uma figura-chave no conflito entre Moscou e Kiev. Sua ligação com Putin fez com que pudesse agir como uma espécie de mediador entre os dois lados. Mas, seus projetos políticos e as emissoras de televisão que controlava na Ucrânia tinham um forte viés pró-Rússia.
Em maio de 2021, ele foi colocado sob prisão domiciliar por acusações de tentar roubar recursos naturais da Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e por vazar segredos militares ucranianos para Moscou.
Um porta-voz do Kremlin, citado pela agência de notícias russa Tass, disse que não era possível confirmar a veracidade da foto de Medvedchuk divulgada pelos ucranianos.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, elogiou a atuação do SBU na prisão do oligarca, e propôs trocá-lo por prisioneiros de guerra. "Proponho trocar esse sujeito de vocês pelos nossos rapazes e moças que estão sob a custódia russa", afirmou.
Negociações de paz emperradas
Horas antes, Putin frustrou as esperanças de que o fim da guerra pudesse estar mais próximo, ao dizer que a Rússia prosseguirá em sua ofensiva em solo ucraniano. Ele disse ainda que as conversações de paz entre os representantes dos dois lados no conflito chegaram a um beco sem saída.
Nesta terça-feira, Putin esteve presente em um evento para celebrar o 61º aniversário da viagem do primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin. Ele estava acompanhado do presidente belarusso, Alexander Lukashenko, um de seus poucos aliados políticos, em visita ao Cosmódromo de Vostochny, no extremo leste da Rússia.
Ele disse que o conflito na Ucrânia "é uma tragédia", mas que a Rússia "não teve escolha" a não ser lançar o que ele chamou de "uma operação militar especial" - o eufemismo usado pelo Kremlin para a guerra de agressão no país vizinho.
Putin afirmou que a Rússia triunfará em todos os seus "nobres" e "claros" objetivos na ex-república soviética, mas não mencionou as denúncias de atrocidades cometidas por tropas russas e o bombardeio indiscriminado de áreas civis.
O chefe do Kremlin também destacou que o confronto "com as forças antirussas" que surgiram na Ucrânia era inevitável e que era apenas uma questão de tempo para que ocorresse.
Foco em Donbass
"O principal objetivo é ajudar o povo de Donbass [região onde se localizam as "repúblicas" separatistas no este da Ucrânia], que reconhecemos e que fomos forçados a defender, porque as autoridades de Kiev, pressionadas pelo Ocidente, se recusaram a cumprir os Acordos de Minsk visando uma solução pacífica dos problemas", afirmou.
Esta foi uma de suas primeiras declarações em vários dias. No início da invasão, o líder russo aparecia com frequência nas emissoras de televisão, mas passou a evitar aparições públicas desde o início da retirada de suas tropas do norte da Ucrânia, há duas semanas.
Ele assegurou que a "operação militar" prosseguirá conforme o planejado. "Nossa tarefa é cumprir e alcançar todas as metas estabelecidas, minimizando as perdas. E vamos agir ritmicamente, com calma, de acordo com o plano originalmente proposto pelo Estado-Maior", disse.
Nos últimos dias, autoridades ucranianas e ocidentais vêm alertando que a Rússia prepara uma ofensiva de grande porte no leste ucraniano, depois da fracassada tentativa de conquistar Kiev e outras cidades no norte e oeste do país.
Zelenski disse que o conflito na região deverá ser de proporções semelhantes a algumas das batalhas ocorridas na Segunda Guerra Mundial.
Momento decisivo em Mariupol
A região inclui também a cidade sitiada de Mariupol, alvo de fortes bombardeios desde o início da invasão. A Ucrânia afirma que dezenas de milhares de civis ainda estão encurralados na cidade, e acusa a Rússia de bloquear a entrada comboios com ajuda humanitária.
A batalha por Mariupol parece ter chegado a um momento decisivo, em meio a denúncias de um suposto uso de armas químicas pelas forças russas, o que não pôde ser confirmado por fontes independentes. O governo ucraniano em Kiev também disse não ser possível concluir que esse tipo de armamento tenha sido utilizado na cidade portuária.
rc/lf (Reuters, DPA, AFP)