Crise sul-europeia
28 de abril de 2010Diante do acirramento da crise financeira grega, os países da União Europeia estão sob uma pressão cada vez maior para evitar que o mesmo ocorra com outros membros do bloco.
Na terça-feira (27/04), a agência de rating Standard & Poor's havia rebaixado a Grécia para a menor categoria de credibilidade. Portugal, que está lutando para controlar seu alto déficit orçamentário, também voltou a ser rebaixado. Nesta quarta-feira, foi a vez de a Espanha cair no ranking internacional. Analistas econômicos advertem contra uma reação em cadeia dentro da União Europeia.
As bolsas de valores da Alemanha e do Japão fecharam em baixa nesta terça-feira. O euro também caiu, atingindo a menor cotação do último ano.
Ajuda a Grécia deverá ser maior e mais rápida
Ao que tudo indica, o auxílio financeiro a ser concedido à Grécia deverá ser muito maior que o suposto até então. Após um encontro com o presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, e com o chefe do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, em Berlim, políticos alemães divulgaram que a Grécia precisaria de 100 a 120 bilhões de euros para consolidar sua grave situação orçamentária. A ajuda de 45 bilhões de euros oferecida até então pelo FMI e pelos países da zona do euro seria só um começo.
Segundo Jürgen Trittin, líder da bancada verde no Parlamento alemão, os políticos e economistas reunidos nesta quarta-feira em Berlim discutiram como a situação da Grécia pôde chegar a esse ponto. A resposta foi unívoca, afirmou Trittin, que também participou do encontro: a hesitação da União Europeia em oferecer ajuda financeira imediata à Grécia agravou a crise, aumentando ainda mais os custos da consolidação orçamentária do país.
O FMI e o Banco Central Europeu querem finalizar, até o próximo domingo, as negociações com Atenas sobre as condições de empréstimo. Na Alemanha, país que até agora vem freando a liberação de verbas europeias para a Grécia, o gabinete de governo pretende acertar até segunda-feira sua contribuição ao pacote de ajuda ao país mediterrâneo. As duas câmaras do Parlamento poderão debater e votar a proposta a partir da semana que vem, de modo que a decisão possa entrar em vigor até 19 de maio. Essa é a data em que a Grécia emitirá novos títulos públicos.
Base instável de cálculos do déficit grego
Apesar de a Grécia estar tentando colocar em prática um austero plano de cortes orçamentários, em meio a greves e movimentos de resistência popular, o setor financeiro e bancário ainda desconfia da capacidade de o país superar a crise com os recursos aventados até agora. Mesmo que Atenas consiga economizar 15 bilhões de euros este ano, conforme pretende, a baixa arrecadação, o aumento dos encargos sociais e os juros altos poderão inviabilizar a meta de reduzir o déficit orçamentário para 8,7% do produto interno bruto (PIB).
Para a economista Giada Giani, do Citigroup, a base dos cálculos não deveria ser o déficit orçamentário de 32,3 bilhões de euros registrado na Grécia no ano passado. Com a recessão e seu efeito sobre a arrecadação e sobre as despesas públicas, a economista calcula que o déficit grego possa chegar – sem os cortes orçamentários – até 40 bilhões de euros neste ano.
"Certamente a Grécia vai conseguir reduzir seu déficit em seis pontos percentuais do PIB", explica a analista econômica. "O problema, no entanto, é que ninguém sabe o quanto isso vai prejudicar o crescimento econômico e a arrecadação. Por isso, o ponto de partida para os cálculos é um grande ponto de interrogação."
Fato é que o pacote de contenção de despesas de Atenas, que inclui aumentos fiscais, cortes salariais no setor público e o congelamento das aposentadorias, deverá agravar ainda mais a crise econômica do país. Outras fontes de dinheiro com que o governo grego está contando, como, por exemplo, a recuperação de recursos perdidos com a sonegação de impostos, também são incertas, apontam alguns economistas.
Consequências sérias
O fato de a agência Standard & Poor's ter rebaixado o rating da Grécia para o nível junk tem sérias consequências para o país. Para conseguir dinheiro no mercado de finanças, os gregos têm, no momento, que oferecer mais de 12% de juros. Isso corresponde a quatro vezes o valor pago pela Alemanha. A repercussão imediata desse anúncio sobre a cotação do euro e os índices das bolsas de valores levou a União Europeia a advertir as agências de rating.
O Comissariado de Regulamentação Financeira da UE alertou que as agências "devem fazer seu trabalho com responsabilidade". A UE assinalou que a credibilidade da Grécia deveria ser avaliada com base no pacote de ajuda já prometido e no programa de consolidação econômica planejado por Atenas.
De acordo com a Comissão Europeia, uma participação dos bancos no programa de reestruturação orçamentária da Grécia ainda não é considerada uma opção viável. Com isso, a UE descartou a proposta de políticos alemães de que o setor bancário também arque com os custos da crise grega.
SL/dpa/apn/rtdt
Revisão: Augusto Valente