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UE anuncia 1 bilhão de euros em ajuda ao Afeganistão

12 de outubro de 2021

União Europeia justifica que é preciso evitar "colapso" no país e fornecer ajuda humanitária aos afegãos. Paralelamente, representantes do bloco europeu e dos EUA se reúnem com membros do Talibã em Doha, no Catar.

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Muitas pessoas envolta de uma mesa circular.
Países envolvidos em diálogo com o Talibã afirmam que conversas não significam reconhecimento oficial do governoFoto: Stringer/REUTERS

O Talibã e representantes da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos se encontraram nesta terça-feira (12/10) em Doha, capital do Catar.

Paralelamente, líderes do G20 realizaram uma cúpula para debater a situação no Afeganistão. A UE prometeu 1 bilhão de euros em ajuda de emergência ao país, para evitar o que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chamou de "colapso humanitário e socioeconômico".

Von der Leyen enfatizou a necessidade de trabalhar rapidamente. "Temos sido claros sobre nossas condições para qualquer compromisso com as autoridades afegãs, inclusive sobre o respeito aos direitos humanos. Até agora, os relatórios falam por si. Mas os afegãos, as pessoas, não deveriam pagar o preço das ações do Talibã", afirmou.

Antes da reunião em Doha, o  chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que o bloco estava procurando aumentar sua ajuda direta ao povo afegão num esforço para evitar o "colapso". "Não podemos 'esperar para ver'. Precisamos agir, e agir rapidamente", declarou Borrell após discussões com os ministros do Desenvolvimento da UE.

Já o Talibã disse que busca "relacionamentos positivos com o mundo inteiro".

"Acreditamos em relações internacionais equilibradas. Acreditamos que tal relacionamento equilibrado pode salvar o Afeganistão da instabilidade", destacou o ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi.

A porta-voz da UE, Nabila Massrali, garantiu que as negociações "são uma troca informal a nível técnico" e que "não constituem um reconhecimento do 'governo provisório'". Ela acrescentou que as duas partes discutem o acesso à ajuda humanitária e os direitos das mulheres, entre outras questões.

Ajuda da Alemanha

Após a reunião virtual do G20 nesta terça-feira, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, disse que a comunidade internacional não pode ficar parada e assistir enquanto "40 milhões de pessoas caem no caos" porque não têm eletricidade e um sistema financeiro.

"Nós todos não temos nada a ganhar se no Afeganistão todo o sistema monetário ou o sistema financeiro entrarem em colapso, porque a ajuda humanitária também não poderia mais ser fornecida", disse Merkel.

Grande tela que mostra as telas individuais de cada um dos líderes do G20
G20 realizou cúpula virtual para debater situação no AfeganistãoFoto: Mustafa Kamaci/Anadolu Agency/picture alliance

A chanceler enfatizou que a Alemanha prometeu cerca de 600 milhões de euros em ajuda humanitária ao Afeganistão e disse que as agências da ONU devem ter acesso total para fornecer ajuda.

Merkel também reforçou que reconhecer o Talibã oficialmente como governo do Afeganistão não está nos planos da Alemanha.

Na segunda-feira, uma delegação alemã se reuniu com o Talibã em Doha. As autoridades que participaram dessas negociações incluíram o representante especial alemão para o Afeganistão e o Paquistão, Jasper Wieck, junto com Markus Potzel, embaixador designado da Alemanha no Afeganistão.

Após as discussões, a delegação alemã disse que o governo do Talibã é uma "realidade". O grupo assumiu o controle do Afeganistão em 15 de agosto, no momento em que Estados Unidos, aliados e OTAN retiravam suas forças do país após 20 anos.

Um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha informou que a delegação se concentrou "na passagem segura para alemães e cidadãos afegãos pelos quais a Alemanha tem uma responsabilidade especial", juntamente com "o respeito pelos direitos humanos e, especialmente, das mulheres", entre outros temas.

O Talibã teria dito aos alemães que está empenhado em proteger diplomatas estrangeiros e organizações de ajuda humanitária no Afeganistão.

ONU apela à ajuda

Enquanto o Talibã busca fortalecer os laços com a comunidade internacional, as Nações Unidas alertam que o Afeganistão enfrenta um colapso econômico iminente.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, exortou o mundo a "agir e injetar liquidez na economia afegã", já que muitos dos ativos do país no exterior foram congelados desde que o Talibã assumiu o poder.

Guterres acrescentou que injetar liquidez para evitar o colapso econômico é diferente de reconhecer o Talibã como governo.

Ao mesmo tempo, ele criticou as "promessas quebradas" do Talibã em relação à população feminina do Afeganistão.

"Apelo veementemente ao Talibã para que mantenha suas promessas às mulheres e meninas e cumpra suas obrigações de acordo com os direitos humanos internacionais e o direito humanitário", disse Guterres, acrescentando que "não há como a economia e a sociedade afegãs se recuperarem" sem a inclusão de mulheres.

Desde que o Talibã voltou ao poder, há relatos de mulheres afegãs impedidas de trabalhar e de praticar esportes, indicando um retorno à repressão que caracterizou o governo do grupo há duas décadas.

Caos iminente

Segundo dados da ONU, cerca de 18 milhões de afegãos -  aproximadamente metade da população do país - dependem de ajuda humanitária, e 93% das famílias não têm comida o suficiente. 

A Unicef alertou para consequências da "dramática crise de saúde e nutrição" no país. Estima-se que 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos podem sofrer de desnutrição aguda até o final do ano. Um milhão de crianças podem ficar gravemente desnutridas, a ponto de morrer.

Fabrizio Cesaretti, representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Afeganistão, disse que o país enfrenta a pior seca em mais de 35 anos, resultando em safras ruins. "A situação é realmente desesperadora. O longo conflito e a seca que assolou o país tornam difícil para as pessoas ganharem a vida", afirmou Cesaretti à DW. 

Isso também torna difícil "cultivar grãos como o trigo - um alimento básico que desempenha um papel importante para muitas famílias na sobrevivência ao inverno rigoroso". Cesaretti acrescentou que "as fronteiras com países como o Paquistão também estão fechadas, tornando difícil para os agricultores exportar seus produtos e ganhar a vida."

le (Reuters,AFP, dpa)