UE assiste perplexa e impotente à violência no Egito
16 de agosto de 2013A União Europeia (UE) reagiu com perplexidade e impotência à recente onda de violência no Egito. No decorrer desta quarta-feira (14/08) – dia em que as forças de segurança desmontaram à força acampamentos de apoiadores do presidente deposto Mohammed Morsi no Cairo – a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reagiu com várias declarações, de forma cada vez mais contundente, à escalada de violência.
Por último, ela apelou às forças de segurança para exercer maior contenção e ao governo de transição para dar um fim "o mais rápido possível" à situação de exceção.
Antes, Ashton havia apelado aos islamitas para "evitar uma nova escalada e provocações" e condenou os ataques às igrejas da minoria copta – uma crítica dirigida claramente à Irmandade Muçulmana. Mas o principal alvo de suas acusações eram governo e forças de segurança. Ashton falou de um "futuro incerto" que o país teria pela frente se a violência continuar.
A chefe da política externa da UE disse que o Egito pode ter um "outro futuro" se todas as partes estiverem coesas em torno de um processo político, que restaure estruturas democráticas por meio de eleições e permita a participação pacífica de todas as forças políticas.
Recente missão de mediação fracassou
Declarações à parte, a verdade é que os representantes da UE se tornaram meros espectadores do processo, apesar de o enviado especial para o Oriente Médio, Bernardino Leon, continuar seus esforços por uma mediação entre as partes.
A mais recente tentativa dele, que fez acompanhado do diplomata americano William Burns, fracassou. Leon se queixou de que a Irmandade Muçulmana havia aprovado o plano, mas os militares, não. Poucas horas depois, os militares deram luz verde à intervenção nos acampamentos pró-Morsi no Cairo.
Ao afirmar que os militares haviam rejeitado o plano, Leon atribuiu indiretamente a responsabilidade pela violência principalmente a eles e ao governo de transição.
Já o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ressaltou o dever das autoridades de "assegurar que todos os egípcios, independentemente de sua filiação política, possam manifestar-se pacificamente." Segundo Schulz, é "obrigação do governo encontrar uma solução pacífica e justa para a crise atual."
Opção pelo terceiro grupo
À primeira vista, pode parecer que a UE pende para o lado da Irmandade Muçulmana. De fato, Ashton vem repetidamente defendendo a liberação de Morsi. Mas a questão é mais complexa: a UE acompanhou com grande irritação as tentativas de parte da Irmandade Muçulmana de instaurar um regime islâmico no Egito.
Por esse motivo, críticos acusam os europeus de hipocrisia: a UE condena os militares, mas no fundo aprova o afastamento de Morsi, afirmam.
O eurodeputado Elmar Brok, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu, disse que a União Europeia não deve optar por nenhum desses dois lados.
"Temos que ficar do lado de um terceiro grupo: a maioria da população, que exige um Estado laico", afirmou em entrevista à Deutsche Welle. Para ele, a UE deve pressionar os militares para cumprir um cronograma de reestabelecimento da democracia e também fazer com que eles empreendam mais uma tentativa de encontrar uma forma de convivência com a Irmandade Muçulmana.
O grande problema, segundo Brok, é que nenhuma dessas três partes – os militares, a Irmandade Muçulmana e os grupos seculares, em particular os grupos cristãos – está disposta a conversar com as outras.
Westerwelle pede reunião emergencial
Até agora, a União Europeia não impôs nenhum tipo de sanção ao Egito, como a suspensão da ajuda financeira. Nenhum dos grandes países-membros exigiu isso. Só a Dinamarca cancelou dois programas bilaterais de ajuda no volume de 30 milhões de euros. Brok disse não concordar com o fim da ajuda como instrumento de pressão para negociações.
"Porque isso significa que justamente os jovens, que se engajam por mais democracia e um Estado laico, teriam ainda menos oportunidades de um futuro melhor do que tiveram até agora. E uma situação social ruim implicaria nada mais nada menos que o surgimento de mais tumultos", argumentou.
Embora elas pareçam pouco promissoras, o político europeu aposta em novas tentativas de mediação. Caso elas fracassem, Brok disse temer o surgimento de "uma guerra civil ou de uma espécie de terrorismo islâmico."
Por sua vez, o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, propôs a realização de uma reunião de emergência sobre o Egito, "possivelmente em nível ministerial". Durante uma visita à Tunísia, ele disse que uma ação europeia conjunta seria de interesse dos próprios europeus: "Não é em qualquer lugar, é na nossa vizinhança."