"UE é cúmplice de crimes cometidos na Líbia", acusa AI
12 de dezembro de 2017A Anistia Internacional (AI) acusou nesta segunda-feira (11/12) a União Europeia (UE) de ser cúmplice das sistemáticas violações cometidas contra migrantes na Líbia por apoiar as autoridades do país. A organização de direitos humanos acusou o bloco europeu de fechar os olhos para as práticas brutais da guarda costeira do país e os perigos dos campos de detenção, para onde são levados os migrantes.
"Centenas de milhares de refugiados e migrantes retidos na Líbia estão à mercê das autoridades líbias, de milícias, grupos armados e traficantes que frequentemente operam em conjunto para obterem ganhos financeiros e dezenas de milhares são mantidos indefinidamente em centros superlotados, onde estão sujeitos a abusos sistemáticos", denunciou o diretor da Anistia Internacional para a Europa, John Dalhuisen.
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No relatório intitulado "A obscura teia de conspiração da Líbia: Abusos de refugiados e migrantes a caminho da Europa", a organização afirma que 20 mil pessoas são mantidas em campos de detenção e estão sujeitas a tortura, trabalhos forçados, extorsão e assassinato.
"Os governos europeus não só estão totalmente a par destes abusos como, ao ativamente apoiarem as autoridades líbias a barrarem as travessias marítimas e a reterem as pessoas na Líbia, são cúmplices destes crimes", frisou Dalhuisen.
A Líbia é a principal porta de saída para migrantes que desejam chegar à Europa por meio da travessia do Mar Mediterrâneo. Para controlar a recente onda migratória, a União Europeia vem apoiando o governo líbio desde 2015, através do treinamento e do fornecimento de equipamentos à guarda costeira e da doação de milhões de euros para melhorar as condições dos campos onde ficam retidos os migrantes.
A Anistia Internacional afirma ainda que a guarda costeira líbia – que opera em conjunto com a UE – trabalha com traficantes de escravos, inclusive torturando pessoas para extorquir dinheiro, e aceita propina para deixar barcos lotados partirem em direção à Europa. O relatório foi baseado em depoimentos de dezenas de migrantes e autoridades.
O documento sugere que os governos europeus repensem a cooperação com a Líbia na área da migração e possibilitem às pessoas a entrada na Europa por rotas legais, além de insistir que o governo líbio acabe com a política e a prática de detenções arbitrárias de refugiados e migrantes e liberte todos os cidadãos estrangeiros dos centros de detenção.
Caos e guerra civil
Denúncias de abusos semelhante cometidos contra migrantes na Líbia foram feitas por outras organizações nos últimos meses. Em abril, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) revelou a venda de migrantes e refugiados em "mercados de escravos" no país.
A Líbia é vítima do caos e da guerra civil desde que rebeldes apoiados pela Otan conseguiram, em 2011, derrubar o ditador Muammar Kadafi, no poder desde 1969. Atualmente há, basicamente, dois centros de poder no país, ainda que nenhum deles detenha um controle efetivo nem mesmo sobre os grupos armados que os apoiam.
CN/ap/rtr/lusa
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