Apresentador de TV desafia governo ultraconservador polonês
27 de abril de 2021Jornalista experiente, Szymon Holownia sabe como lidar com a mídia, sabe a importância de uma boa iluminação em entrevistas de TV e responde com serena soberania mesmo as perguntas mais críticas. Há algum tempo, ele vem se tornando cada vez mais o que pode ser chamado de um político profissional. No ano passado, fez campanha para ser presidente da Polônia e conseguiu chegar em terceiro lugar.
No final de março, o movimento fundado por ele ganhou seu registro oficial como partido político. De acordo com pesquisas de opinião, o "Polônia 2050 de Szymon Holownia" pode ser uma ameaça ao governista Lei e Justiça (PiS) liderado por Jaroslaw Kaczynski. Uma pesquisa do site investigativo OKO.Press e do diário liberal Gazeta Wyborcza mostra que 23% dos eleitores votariam na nova agremiação – apenas 3% abaixo do que obteria o partido ultraconservador de Kaczynski, que governa o país desde 2015.
Holownia ficou conhecido como apresentador na televisão do show de talentos Mam talent! (tenho talento). Ele também ganhou fama como chefe do canal cristão liberal Religia.tv, extinto em 2015. Era para ele que os jornalistas ligavam quando precisavam de uma entrevista sobre questões da igreja. Ele também era popular por proporcionar uma lufada de ar fresco aos temas religiosos: com sua maneira leve e irreverente.
No ano passado, ele provou que também pode dar certo como político, após chegar em terceiro lugar nas eleições para presidente da Polônia. A dinâmica política em torno de Holownia continuou desde então, assim como seu entusiasmo pessoal.
Outro tipo de conservadorismo
"Polska 2050 é certamente um movimento que Kaczynski teme, porque atrai eleitores que se afastaram do PiS. Holownia é atraente para eles porque incorpora um tipo diferente de conservadorismo", afirma Marek Czyz, jornalista, analista político e chefe do portal de opinião e informação Czyz Tak!. "Ele é conservador o suficiente e, ao mesmo tempo, também suficientemente liberal", acrescenta.
Czyz afirma que Holownia incorpora uma espécie de conservadorismo de que as pessoas não se envergonham de apoiar, enquanto alguns dos próprios eleitores do PiS passaram a ter vergonha do partido governista pelo seu ultranacionalismo e sua rígida hierarquia. Já Holownia tem um certo charme de modernidade. Contribui para isso o fato de ele, autor de vários livros sobre temas religiosos, ter criado duas fundações que ajudam mais de 40 mil pessoas em todo o mundo. Além disso, Holownia se engaja pelos direitos das crianças e pela proteção dos animais.
Sem aliança, fica difícil
"Mas sozinho, Holownia não tem chance alguma", pondera Czyz, observando ser necessário unir forças com outros partidos se ele realmente quiser ser perigoso para Kaczynski. Nas pesquisas, Polska 2050 estava sempre à frente do principal partido de oposição Plataforma Cívica (PO). Mas o chefe do novo partido evita se aproximar dos liberais poloneses. Em uma entrevista à DW, Holownia disse que o cenário político polonês precisa de uma "mudança completa de sistema".
Holowina, entretanto, diz não ser um "simetrista", que é como os poloneses chamam eleitores que consideram tanto o PiS e como o PO como os dois grandes males da política nacional. Mas ele afirma que a Polônia não precisa mais dos dois grandes partidos que lutam pelo poder há anos.
Entretanto, ele reconhece que os ultraconservadores do PiS estão causando muito mais danos ao país do que os liberais do oposicionista PO. "O PiS e a direitistas unidos estão promovendo o desmantelamento do Estado de direito e da democracia na Polônia, pisoteando a Constituição. Desmantelam instituições criadas especialmente para cuidar para que a democracia nunca se torne uma mera ditadura da maioria parlamentar", avalia.
Política climática para futuras gerações
A meta de Holownia é adaptar a política polonesa ao século 21. Ele afirma que Kaczynski ficou preso na década de 1980; já o novato na política quer olhar para a frente, por exemplo com a perspetiva do que o ano de 2050 trará para a sua filha, hoje com três anos e meio. Daí o "2050" do nome do partido de Holownia.
"É muito importante para mim não deixar grandes somas de dinheiro na conta bancária para minha filha, mas criar um mundo consciente do clima", disse ele à DW. Em um país onde o carvão ainda é, de longe, a mais importante fonte de energia, isso soa como uma visão futurística.
Nova política para a Igreja
Quando se trata da Igreja, Holownia também quer abrir novos caminhos. Ele tem seu conhecimento na área: quando jovem, foi um noviço dominicano. Hoje, ele critica abertamente a Igreja Católica em seu país natal e se diz a favor de uma "separação coordenada" entre Estado e Igreja – algo longe de ocorrer sob o regime do PiS, em que bispos fazem eco ao governo, atacando o movimento LGBT na Polônia e membros do partido usam a Igreja para seus próprios fins políticos.
"Aqui o Estado deve dar um passo para trás e dizer claramente: a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", diz Szymon Hołownia. Ele lembra que na Polônia a Igreja vive uma profunda crise como instituição, em meio a escândalos de abuso sexual e pedofilia por parte de padres.
Captando eleitorado do PiS
Ao contrário dos liberais, que estão bastante distantes da Igreja, Holownia pode marcar pontos entre eleitores decepcionados com o ultraconservador PiS, através de seus fortes vínculos com a religião, numa época em que o radicalismo do partido governista em questões de política religiosa parece ir longe demais para alguns. Mas a tarefa não será fácil, pois o eleitorado do partido no poder é considerado particularmente fiel; perdoando muitos deslizes do governo.
Analistas acreditam que a oposição da Polônia terá de se unir se quiser enfrentar o PiS. Na campanha para as eleições presidenciais de 2020, Holownia apoiou apenas parcialmente, no segundo turno, o prefeito de Varsóvia Rafal Trzaskowski do PO, adversário derrotado do presidente Andrzej Duda, que se reelegeu. Trzaskowski atualmente goza de altos níveis de popularidade. Mais de 40% dos entrevistados numa pesquisa recente expressaram sua confiança no político. Há muito tempo não eram vistos valores tão bons para um representante da oposição.
Trzaskowski deixa claro não ter simpatia especial pelo novato na política Holownia. "Parece-me que Holownia entrou na política para mudá-la – mas infelizmente a política está mudando Holownia", disse Trzaskowski em entrevista na emissora de televisão Polsat acrescentando que já que nem liberais, nem esquerda, nem Polska 2050 terão votos suficientes para governar sozinhos, é necessário unir forças.