Terrorista era monitorado por ligação com extremismo
26 de julho de 2016Dois homens armados com facas invadiram uma igreja no norte da França nesta terça-feira (26/07) e fizeram reféns durante cerca de 40 minutos. Antes de serem mortos pela polícia, eles degolaram um padre de 86 anos e feriram gravemente outro refém, que já não corre mais risco de vida.
A identidade de um dos terroristas, obtida por impressão digital, foi divulgada durante a noite (horário local) pelo promotor francês François Molins. Adel K., um jovem de 19 anos nascido na França, já tinha passagem pela polícia por suspeita de ligação com o terrorismo islâmico.
Segundo Molins, o jovem foi detido duas vezes ao tentar viajar para a Síria: uma vez na Alemanha, em março de 2015, usando o passaporte do irmão, e dois meses depois, na Turquia, com o passaporte de um primo. Ele ficou preso por dez meses, sendo depois encaminhado para prisão domiciliar.
Atualmente, Adel K. vinha sendo monitorado e usava um bracelete eletrônico. Ele tinha permissão para sair de casa por cerca de quatro horas todos os dias, período em que o dispositivo era desativado. O intervalo corresponde com o horário do crime, disse Molins. A polícia ainda tenta identificar o segundo terrorista.
O ataque
Os terroristas invadiram a igreja, que fica em Saint-Étienne-du-Rouvray, na região da Normandia, norte da França, durante uma missa matinal. Além do padre, duas freiras e dois fiéis foram reféns.
Uma freira conseguiu fugir e alertou as autoridades, que rodearam o local com agentes do corpo de elite da Brigada de Investigação e Intervenção (BRI) da polícia. Imagens da TV mostraram rodovias de acesso à igreja bloqueadas, e paramédicos foram vistos puxando macas de ambulâncias.
A religiosa contou mais tarde que os agressores obrigaram o padre a ficar de joelhos antes de matá-lo. "Eles forçaram-no a se ajoelhar, e ele tentou se defender. Foi quando a tragédia aconteceu", relatou a freira Danielle à rádio RMC. "Eles se filmavam. Parecia um sermão em árabe ao redor do altar."
Os agressores foram mortos quando saíram para o átrio da igreja. Nesse momento, eles teriam gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe), de acordo com Molins. Segundo fontes policiais citadas pelo jornal Le Figaro, um deles tinha barba grande e trajava um gorro de oração muçulmano.
A vítima, o padre Jacques Hamel, de 86 anos, nascido na cidade de Darnétal, serviu à Igreja Católica durante quase 60 anos, segundo a revista cristã francesa La Vie. Aos 75 anos, ele teria se recusado a se aposentar porque queria "permanecer no serviço comunitário", disse a publicação.
EI reivindica
A cidade de Saint-Etienne-du-Rouvray fica perto de Rouen, onde nasceu o presidente francês François Hollande. Ao lado do ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, ele se dirigiu ao local.
Hollande classificou o incidente de ataque terrorista e afirmou que os dois agressores disseram pertencer ao "Daesh", nome em árabe do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).
Em comunicado divulgado por meio da agência do EI, Amaq, o grupo assumiu a autoria do atentado, que teria sido perpetrado por dois de seus "soldados".
Para Hollande, trata-se de mais um sinal de que a França está em guerra contra o EI, que reivindicou uma série de ataques no país. "Precisamos liderar essa guerra com todos os nossos meios", declarou. O presidente manifestou solidariedade a todas as igrejas católicas do país e disse que o crime na Normandia tem como alvo "todos os franceses".
"Dor e horror"
O primeiro-ministro Manuel Valls expressou em uma primeira reação através do Twitter seu "horror" contra o "bárbaro ataque" na igreja, que "fere todos os franceses".
O papa Francisco expressou "dor e horror" pela "violência absurda". "Estamos particularmente sentidos por essa violência horrível, esse brutal assassinato de um padre, que ocorreu em uma igreja, um local sagrado em que se anuncia o amor de Deus", disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
O incidente é o mais recente em uma série de ataques na Europa. Na França, acontece 12 dias após um tunisiano matar 84 pessoas com um caminhão em Nice, em atentado também reivindicado pelo "Estado Islâmico". O país está em estado de alerta máximo.
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