Um encontro histórico em Havana
11 de fevereiro de 2016O papa Francisco, chefe da Igreja Católica, e o patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa russa, se reúnem nesta sexta-feira (12/02), em Cuba, no primeiro encontro da história entre os líderes das duas confissões cristãs. Espera-se que a reunião, a portas fechadas no Aeroporto José Martí, seja um passo significativo na distensão entre as duas Igrejas.
De acordo com a Constituição russa, Igreja e Estado estão oficialmente separados. Apesar disso, com o presidente Vladimir Putin no poder, a Igreja Ortodoxa se tornou uma espécie de religião estatal. Os ortodoxos e o Kremlin lucram mutuamente: Putin se apresenta como um fiel devoto, vendo na Igreja e no patriarca um apoio de poder e um aliado na contenção de um estilo ocidental liberal na Rússia.
A Igreja, por sua vez, reforça a sua influência no Estado. Desde 2006, o ensino religioso voltou às escolas do país. Em 2010, a Duma (câmara baixa do Parlamento russo), aprovou uma lei para a restituição dos bens da Igreja, confiscados após a revolução de 1917. Na Rússia moderna, a Igreja segue a tradição ortodoxa, baseando-se no ideal da "sinfonia", ou seja, uma relação harmoniosa entre Igreja e Estado.
Moscou como "terceira Roma"
A história da Igreja Ortodoxa russa começou há mais de mil anos na Rússia Kievana, o predecessor medieval dos atuais Estados da Rússia, da Ucrânia e de Belarus. No ano de 988, o seu então governante, o grão-duque Vladimir 1°, recebeu o batismo cristão. Isso teve um motivo político: uma aliança dos russos kievanos com a família imperial bizantina em Constantinopla.
Com isso, Vladimir 1° esperava uma valorização do seu reino, como também vantagens econômicas e uma melhora no relacionamento com os povos vizinhos. Com a adoção da nova fé, o monarca cristianizou seus súditos.
Inicialmente, a Igreja Ortodoxa russa fazia parte do Patriarcado de Constantinopla. Em 1326, a sede dos metropolitas russos, como são chamados os arcebispos, foi transferida de Kiev para Moscou. Pouco antes da queda do Império Bizantino, os bispos russos se separaram da Igreja-mãe.
Quando Constantinopla foi conquistada pelos otomanos, em 1453, os soberanos russos assumiram o título de imperador. Eles viam Moscou como a "terceira Roma", como novo centro dos cristãos, após Roma e Constantinopla. No final do século 16, foi instalado o Patriarcado de Moscou.
No governo do czar Pedro, o Grande, a Igreja Ortodoxa russa ficou sob o controle completo do Estado. O czar aboliu o Patriarcado 132 anos após a sua fundação. Em vez disso, ele estabeleceu um Santo Sínodo, sujeito a ele.
O monarca também nomeava os bispos. Após a reforma, a Igreja passou a estar intimamente ligada à elite de poder na Rússia. O Patriarcado foi restaurado somente em 1917.
Encontro antes impensável
No entanto, o novo patriarca Ticon e a sua Igreja estavam sob pressão. Nos primeiros anos da União Soviética, houve perseguições em massa de cristãos e sérias destruições de igrejas e mosteiros. Somente após a Segunda Guerra Mundial, a Igreja Ortodoxa russa voltou novamente a ser tolerada – porém com restrições, sob o estrito controle do Estado. Nas celebrações de mil anos, em 1988, já havia fortes indícios de uma aproximação entre Igreja e Estado. O fim da União Soviética marcou um renascimento do Patriarcado. Cerca de 15 mil igrejas foram reabertas até hoje.
Desde o Grande Cisma do Oriente, em 1054, católicos romanos e ortodoxos seguiram caminhos distintos. O "mundo ortodoxo" fragmentou-se em muitas igrejas independentes. Com cerca de 150 milhões de fiéis em mais de 60 países, a Igreja Ortodoxa russa é a maior de todas. Ela é considerada extremamente conservadora. O patriarca Cirilo 1° vê, por exemplo, a homossexualidade como um perigo para a sociedade.
Teologicamente, pouco separa católicos e russos ortodoxos, especialmente em comparação com os protestantes. Esses valores já foram salientados várias vezes também por Cirilo 1°. Mesmo assim, durante muito tempo, um encontro entre o Papa e o patriarca foi considerado impensável.
Com a criação de dioceses católicas na Rússia, no final da década de 1990, o então papa João Paulo 2° provocou grande consternação no Patriarcado de Moscou, para quem a Santa Sé violava a soberania territorial da Igreja Ortodoxa.
Além disso, o papa polonês nomeou como bispos das novas dioceses clérigos da Polônia, que eram vistos como invasores devido a conflitos históricos. Foi motivo de descontentamento principalmente a existência de comunidades cristãs na Ucrânia que, apesar de seguirem o rito ortodoxo, reconhecem o papa como líder religioso.
Após a morte do patriarca Alexis 2° e a eleição de seu sucessor Cirilo 1°, a atitude negativa de Moscou diante de Roma assumiu um curso mais conciliador. No papado de Bento 16, melhorou a relação entre as duas igrejas. No entanto, somente agora o tão esperado encontro entre um papa e um patriarca se torna realidade.