Universidade do Sarre e a amizade franco-alemã
18 de agosto de 2013Para um professor com uma boa dose de bom humor, Claude Witz tem um nome que combina com ele (Witz significa "piada" em alemão). "Mas meu humor francês nem sempre é bem recebido na Alemanha", lamenta o professor de Direito. "Ao mesmo tempo, como francês, eu às vezes fico impressionado com a seriedade e a profundidade dos alemães ao lidar com coisas menos importantes."
O professor francês circula muito bem em ambas as culturas. Afinal, ele trabalha há 30 anos na Universidade do Sarre. "Aqui é simplesmente maravilhoso, porque na cidade de Saarbrücken professores alemães e franceses trabalham juntos numa pequena faculdade francesa. Isso é algo único na Alemanha", diz.
Programas binacionais semelhantes existem em Colônia, Berlim, Munique e Paris, mas apenas a Universidade do Sarre possui desde a sua fundação, em 1948, duas disciplinas de Direito francês.
Boas perspectivas profissionais
Quem termina uma gradução dupla em Direito alemão e francês tem boas chances no mercado de trabalho. Grandes escritórios de advocacia, organizações internacionais e órgãos da União Europeia telefonam com frequência para Witz, para obter informações sobre recém-formados. "Eu tenho a impressão que nós somos os melhores", opina o professor, sem falsa modéstia, "pois nossos alunos são como crianças que crescem em um ambiente bilíngue".
No momento, o professor orienta 150 estudantes no Centre Juridique Franco-Allemand da Universidade do Sarre. Quarenta deles estão fazendo a graduação binacional. Eles não vão simplesmente para a França por alguns semestres, mas estudam paralelamente em Saarbrücken e em Saarguemines, onde há uma representação da Universidade de Metz.
O ritmo é intenso: tendo que viajar entre as duas cidades regularmente, o tempo dedicado aos estudos pode chegar a até 60 horas por semana ou mais. "É bem 'puxado'", afirma o futuro jurista Paul Sammel. "Sobra pouco tempo livre."
Uma ida rápida ao outro lado da fronteira
Estudar do outro lado da fronteira é possível em 22 cursos da Universidade do Sarre. Não é à toa que o título de "universidade regional" também faz parte do nome da instituição, visto que os 18 mil estudantes podem cursar cadeiras em universidades localizadas nos arredores, em países como Luxemburgo, Bélgica e França.
"Nossos alunos gostam de cruzar a fronteira para estudar, fazer compras ou visitar amigos", afirma Uwe Hartmann, vice-presidente para Assuntos Europeus e Internacionais da Universidade do Sarre.
Os estudantes continuam em contato com os amigos que fizeram durante os estudos binacionais. A alemã Doreen Kempf, por exemplo, encontra-se com amigos da cidade francesa de Nancy nos fins de semana. Ela passou três semestres lá, como parte da sua graduação em Ciência e Tecnologia dos Materiais. "Eu gostei sobretudo do fato de que, na França, há mais mulheres nos cursos da área de Ciências Naturais", conta a estudante de 21 anos. Ela também tem saudades da culinária francesa do restaurante universitário.
Trancrever ou discutir
Como muitos dos seus colegas alemães, Kempf levou algum tempo para se acostumar aos estudos na França. "A vida acadêmica lá é bem mais parecida com a de uma escola", descreve ela. O estudante de Direito Paul Sammel concorda: "Nas aulas, não são discutidos casos práticos. O professor fala e os estudantes trascrevem", diz.
A estudante de Biologia Mylene Lanter, da Alsácia-Lorena, cresceu nessa realidade. Mas ela diz gostar mais do sistema de ensino alemão. "Há uma maior proximidade entre os professores e estudantes, já que eles discutem mais", observa a estudante de graduação, também de 21 anos. Ela estudou durante dois anos em Estrasburgo e veio para Saarbrücken cursar o último ano e concluir a graduação.
Lanter ainda não sabe onde quer trabalhar em seguida. A estudante estaria disposta a ir tanto para a França quanto para a Alemanha, já que ela diz se sentir em casa nos dois países. O mesmo acontece com muitos estduantes e professores da Universidade do Sarre. "Durante quatro dias da semana, eu moro em Saarbrücken; os outros três dias, passo na França", conta o professor Witz. "Para mim, a fronteira não existe."