Universidades de elite: sim ou não?
16 de novembro de 2004No momento, os estudantes alemães desfrutam de boas doses de liberdade: podem escolher local, duração e habilitações específicas de seus cursos de graduação. Além disso, podem, sem problemas, trocar de curso ou mesmo de universidade quando quiserem. E não precisam despender muito dinheiro. Um cenário que pode não perdurar mais por muito tempo. Pois o Tribunal Constitucional Federal, em Karlsruhe, determina no momento se alguns Estados da federação poderão passar a cobrar taxas em torno de 500 euros por semestre nos cursos de graduação.
Mas a questão envolvendo os estudos universitários na Alemanha não se resume ao dilema “pago ou não pago”. No cerne das discussões em torno do sistema de ensino superior está a polêmica sugestão de se criarem as chamadas “universidades de elite”. A dúvida sobre a viabilidade de tais “instituições perfeitas” é saber se vale a pena transformar o sistema de ensino superior no país, tido como relativamente democrático, em um modelo elitista.
"Pacto pela inovação": 1,9 bilhão de euros
O controverso debate, que vem se arrastando há meses, volta à cena mais uma vez após um encontro ocorrido na segunda-feira (15/11) entre a ministra da Pesquisa, Edelgard Bulmahn, e representantes dos Estados alemães.
Após longas discussões entre as duas partes – governo federal de um lado e os estaduais de outro – chegou-se a um consenso sobre o programa de fomento a centros de pesquisa de ponta e universidades de elite, que envolve investimentos em torno de 1,9 bilhão de euros. Os secretários de Educação e Cultura presentes ao encontro com Bulmahn estão esperando o aval dos governadores de seus Estados e o sim definitivo do chanceler federal Gerhard Schröder. Isso deverá acontecer até meados de dezembro próximo. De acordo com o programa, a federação arca com 75% e os Estados onde ficam as universidades com 25% dos investimentos.
Mesmo em tempos de vacas magras, União e Estados resolveram, durante o encontro em Berlim, incrementar o orçamento das grandes instituições de pesquisa do país em 3% até o ano de 2010, dentro do que intitulam de Pacto pela Pesquisa e Inovação.
Alto padrão, mas poucas excelentes
“Temos em toda a Alemanha várias universidades muito boas, um padrão médio bastante alto, mas o que nos falta são universidades realmente excelentes”, diz Barbara Dufner, porta-voz do Ministério da Educação e Pesquisa, em entrevista à DW-WORLD. A observação partiu de uma análise do ranking do Times Higher Educational Supplement (THES), listando as 200 melhores universidades do mundo.
Embora o ranking não tenha realmente surpreendido, trazendo a já esperada hierarquia que começa com Harvard e passa, logo a seguir, por Berkeley, MIT, Caltech, Oxford e Cambridge, a instituição alemã mais bem colocada foi a Universidade de Heidelberg, que atingiu apenas a 47ª posição. Mesmo que os critérios de avaliação de tais rankings sejam discutíveis, fato é que a publicação da lista foi uma ducha de água fria para as autoridades alemãs, que gostariam de ver o país situado de outra forma no cenário internacional.
Competição internacional
“Precisamos de universidades muito boas, que façam pesquisas e sirvam de exemplo. Temos que estar em condições de continuar a apoiar e incentivar bons engenheiros e impedir sua evasão para os Estados Unidos, de onde acabam recebendo o Prêmio Nobel”, diz Angela Bittner, da Universidade Humboldt de Berlim, à DW-WORLD.
O problema, segundo Bittner, está nas verbas. “A Alemanha precisa estar em condições de oferecer pesquisa de ponta, mas temos apenas recursos limitados, de forma que os pesquisadores costumam gastar metade do seu tempo em busca de fundos ou procurando formas de trabalhar com orçamentos baixos”, completa.
A idéia de criar universidades de elite, porém, esbarra na resistência dos próprios estudantes, que prefeririam ver as verbas destinadas à educação distribuídas igualitariamente pelas universidades do país. “Há trabalho suficiente a ser feito nas universidades, sem que isso implique na criação de qualquer tipo de sistema elitista”, observa o estudante Jürgen Winkelblech.