Berlinale 2007
18 de fevereiro de 2007A concessão do prêmio máximo de festivais como Berlim, Veneza ou Cannes é sempre, ao lado de uma escolha cinematográfica, uma decisão política. Houve a fase dos filmes iranianos nos grandes festivais, a dos asiáticos, vez ou outra dá-se uma colher de chá à América Latina e quase sempre há uma homenagem a um dos grandes nomes do cinema europeu. Hollywood, embora presente nas mostras competitivas, raramente sai com um “ouro” na mão.
No quinto ano da era sob a direção de Dieter Kosslick, o festival de Berlim parece, à primeira vista, desviar um pouco do caminho prometido: o de ser um espaço para o cinema de viés político. A seleção insossa deste ano para a mostra competitiva levava a crer que o Urso poderia ir para um filme coreano ou até mesmo como reverência a Robert de Niro na direção. Mas, neste sábado (17/02), o festival deu a O Casamento de Tuya, do chinês Wang Quan'an, o Urso de Ouro por melhor produção.
Crítica à modernização da sociedade chinesa
O Casamento de Tuya, terceiro filme chinês a levar o Ouro em Berlim (em 1993 e 1988, produções do país levaram a premiação máxima na capital alemã), é uma crítica sóbria à modernização alucinante ocorrida na sociedade chinesa. O ponto de partida para falar do crescimento industrial descontrolado na Mongólia Interior é a história de uma família, cujo pai se tornou inválido após um acidente.
Diante da impossibilidade de assegurar a sobrevivência, ele toma a decisão de que sua mulher deve procurar um novo marido, capaz de sustentar todos. A narrativa, centrada na força das mulheres em situações de crise, oscila entre momentos de humor e tragicidade.
Alemã é considerada melhor atriz
Já que os cineastas alemães Fatih Akin e Hans Weingartner não conseguiram (ou não quiseram?) terminar seus novos filmes para serem exibidos em Berlim, a premiação "da casa" ficou com Nina Hoss, que recebeu o Urso de Prata como melhor atriz por sua atuação em Yella, de Christian Petzold. Embora o filme não tenha conseguido convencer a crítica.
O Urso de Prata de melhor diretor foi para o israelense Joseph Cedar, por Beaufort. O prêmio de melhor trilha sonora ficou com Hallam Foe, de David Mackenzie, e o de melhor contribuição artística com o elenco de O Bom Pastor, dirigido por Robert de Niro.
O Grande Prêmio do Júri (Urso de Prata), segunda maior premiação do festival, ficou com O Outro, de Ariel Rotter, uma co-produção da Argentina, Alemanha e França, estrelada por Julio Chávez, premiado com o Urso de Prata como melhor ator.
Ausências que falam
Entre as várias premiações concedidas por organizações paralelas no festival, o Prêmio Caligari, destinado a um dos filmes exibidos no Fórum do Jovem Cinema, foi entregue este ano à produção austríaca Kurz davor ist es passiert (Aconteceu pouco antes), de Anja Salomonowitz. O formato inusitado do filme usa da encenação para documentar a situação de imigrantes ilegais, tráfico humano e prostituição forçada.
Devido à ausência daquelas que seriam as protagonistas do filme, impossibilitadas de expor seus rostos à câmera, a diretora coloca suas histórias na boca de um motorista de táxi, um funcionário da polícia de fronteiras, uma vizinha ou a mulher de um cônsul estrangeiro na Áustria. Desta forma, o filme provoca o espectador, que deixa a sala de cinema sem saber onde terminam os limites do real e onde começa a ficção.