Velha e Nova Europa em busca da afinação
9 de maio de 2003Dar novo impulso ao Triângulo de Weimar — assim chamado em alusão à cidade no leste alemão em que se realizou o primeiro encontro entre os ministros do Exterior da Alemanha, França e Polônia, já em 1991 — é o objetivo central da cúpula que se realiza nesta sexta-feira (09) em Wroclaw, cidade que já foi alemã sob o nome de Breslau. O Iraque é, porém, um tema inevitável no encontro entre o chanceler federal Gerhard Schröder e os presidentes Jacques Chirac e Aleksander Kwasniewski.
Foram justamente as divergências na questão iraquiana — sobretudo no que diz respeito à relação com os Estados Unidos — que criaram uma contraposição que precisa ser pelo menos minimizada. De um lado, os dois países ocidentais, contrários a uma intervenção militar no país do Golfo Pérsico e intitulados, por isso, pelo secretário de Estado norte-americano, Donald Rumsfeld, de "Velha Europa". Do outro, o ex-componente do Pacto de Varsóvia, agora candidato a ingressar para a União Européia em maio de 2004, com seu apoio incondicional à política norte-americana e recompensado, por isso, com o comando de uma das divisões militares destinadas a estabilizar o Iraque pós-Saddam Hussein.
Relativizando as diferenças —
Os pontos em comum, porém, predominam, e a importância de relações estreitas e estáveis entre os três é tão indiscutível que, de todos os lados partem sinais do desejo de relativizar as diferenças. "Estamos no momento na fase de reconstrução no Iraque. A Alemanha e a França são parceiros importantes nessa tarefa", afirmou o presidente Kwasniewski em entrevista radiofônica poucas horas antes de receber Schröder e Chirac. Varsóvia, aliás, também defende a necessidade de um mandato da ONU para as medidas de estabilização no Iraque.O presidente polonês admitiu ter sido uma "falta" não consultar Berlim e Paris antes da publicação da Carta dos Oito. Em fins de janeiro, os chefes de Estado e de governo do Reino Unido, Polônia, Espanha, Itália, Portugal, Dinamarca, Hungria e República Tcheca declararam, em manifesto, apoio incondicional aos Estados Unidos, sem consultar antes os demais parceiros na União Européia.
Kwasniewski desculpa-se com o fato de o documento não ter sido escrito pelos poloneses. "Só que em vez de ir brigar com Tony Blair, o presidente Chirac encrencou conosco", afirma, referindo-se ao "sermão" que o presidente francês dirigiu à Polônia na ocasião e que — ao que tudo indica — ainda não foi esquecido.
"Mais urgente do que nunca" —
Desde que foi selado o ingresso de dez países do Centro e do Leste do continente para a União Européia, questiona-se a importância das deliberações em triângulo, que vêm se realizando regularmente entre Alemanha, França e Polônia desde sua instituição pouco após a derrocada do Bloco Leste.Em entrevista atual à DW-TV, o responsável pela iniciativa da parte alemã, o então ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher, definiu o encontro como "mais urgente do que nunca". Ele lamenta que a consolidação de uma posição conjunta entre os três países não tenha sido impulsionada com a devida energia, de uns anos para cá. Preocupado com o fato de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seja "cada vez mais colocada de lado", Genscher insiste em que o papel da Polônia no Iraque pós-guerra seja debatido, tanto dentro da aliança atlântica quanto na União Européia.
Motor da Europa dos 25 —
Os encontros trilaterais, que no momento incluem, além das conferências de cúpula, consultas regulares entre os respectivos ministros da Defesa e do Exterior, vão ser ampliados por meio de reuniões entre os representantes das pastas de Economia e Fazenda. Da mesma forma como Alemanha e França são consideradas o motor da União Européia, o Triângulo de Weimar deverá se tornar o motor da comunidade de 25.