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Videla pode escapar de extradição para Alemanha

ef4 de dezembro de 2003

Uma extradição do ex-ditador da Argentina, Jorge Videla, para a Alemanha é discutível nos dois países. O mais provável é que o presidente Kirchner prefira acabar com a impunidade de Videla mesmo na Argentina.

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Jorge Videla acusado da morte de dois estudantes alemãesFoto: AP

O passo seguinte ao mandado internacional de prisão que a Procuradoria Geral de Nurembergue expediu, na quarta-feira, é uma decisão do governo em Berlim de pedir ou não à Argentina a extradição do ex-chefe e outros membros da junta militar. O ex-general Jorge Rafael Videla, de 78 anos, e os militares Carlos Guillermo Suárez Mason e Emilio Massera são acusados pelo seqüestro e assassinato de dois estudantes alemães, durante a ditadura de 1976 a 1983.

Der nächste Präsident in Argentinien Nestor Kirchner
Presidente Nestor Kirchner quer julgamento de Videla na ArgentinaFoto: AP

Observadores calculam, porém, que o presidente argentino, Nestor Kirchner, negaria um pedido de extradição, por preferir que a própria Justiça argentina acabe com a impunidade dos principais responsáveis pelo desaparecimento e morte de 30 mil pessoas naqueles tempos de chumbo.

A Justiça de Nurembergue já havia expedido mandado de prisão contra Carlos Suárez e outros dois militares argentinos em 2001, por causa da morte da estudante alemã Elizabeth Käsemann. Mas o Buenos Aires rejeitou o pedido de extradição e a Corte Suprema argentina nunca se pronunciou sobre a legalidade desta recusa. Suárez foi um dos mais importantes mãos longas da junta militar. Ele controlava as prisões ilegais e tinha mais de 360 centros secretos de tortura sob o seu controle. A ordem de prisão contra Suárez foi ampliada agora para Videla, Mason e Massera.

Presidente torturado

- O próprio presidente argentino foi vítima de tortura e, sob sua gestão, o Parlamentou anulou, poucos meses atrás, a lei de anistia que garantiu a impunidade dos militares até agora. Kirchner disse, reiteradas vezes, que quer por fim à impunidade na Argentina. O Prêmio Nobel da Paz argentino, Perez Esquivel, conta, no entanto, com a extradição dos quatro militares para julgamento na Alemanha. "A verdade e a justiça só podem se impor se os crimes cometidos durante a ditadura forem punidos", disse Esquivel em Nurembergue, onde se encontra a convite da Igreja Católica.

O advogado da família Käsemann, Roland Beckert, se disse surpreendido com o mandado internacional de prisão, mas acredita que "o momento político não é de se esperar uma extradição", Ele supõe que o julgamento aconteça mesmo na Argentina. A porta-voz da organização argentina de direitos humanos CELS, Maria Capurro, também se declarou segura de que uma extradição seria rejeitada.

Aproximadamente 100 alemães foram seqüestrados e assassinados pela ditadura da Argentina, uma das mais sangrentas na América Latina. Mas, depois de cinco anos de investigações contra 69 militares argentinos, a Procuradoria Geral de Nurembergue só levantou acusação nos casos dos estudantes Klaus Zieschank e Elizabeth Käsemann, filha do renomado teólogo Ernst Käsemann, falecido nesse meio tempo.

Corpo lançado ao mar

- O estudante de Munique, Zieschank, chegou em Buenos Aires em 1976 para fazer um estágio e foi seqüestrado dois dias depois do golpe militar em 24 de março do mesmo ano. Como milhares de vítimas da repressão, ele foi torturado, assassinado e seu corpo lançado de um avião militar ao mar. A socióloga e estudante Käsemann era engajada socialmente nos bairros pobres da capital argentina. Ela morreu imediatamente depois de ser baleada na nuca e na coluna vertebral, na noite de 24 de maio de 1977.

"Nunca se vai saber quem atirou," disse o porta-voz da Promotoria Pública em Nurembergue, Bernhard Wankel, "mas nós temos os mentores, os autores do assassinato". As suspeitas recaem sobre o presidente da junta militar, Videla, e o seu comandante da Marinha, Emilio Massera. Eles teriam dominado todo um aparato de poder, cujo funcionamento foi voltado intencional e planejadamente para matar.

O todo poderoso Videla só foi condenado por um único caso de seqüestro de crianças, embora durante a sua ditadura tenham desaparecido mais de 500 filhos de adversários políticos que foram levados aos centros de tortura. Por causa de sua idade avançada, 78 anos, o ex-general cumpriu sua pena em prisão em casa.