Vioxx: alemães vão à Justiça nos EUA
11 de outubro de 2004As dúvidas sobre os efeitos colaterais do medicamento Vioxx surgiram há algumas semanas, depois que um estudo realizado pela Food & Drug Administration (FDA), órgão regulador do mercado de alimentos e medicamentos dos EUA, mostrou que o remédio pode duplicar os riscos de ataque cardíaco e derrames cardiovasculares a partir de 18 meses de uso contínuo.
O produto fabricado pela Merck, segunda maior companhia farmacêutica dos EUA, é usado no tratamento da artrite e dor aguda e havia sido retirado do mercado mundial no início do mês.
Vários casos documentados
O advogado berlinense Andreas Schulz, que representa os familiares de um paciente que morreu após ter ingerido o produto durante quase três anos, pensa em participar da queixa coletiva que está sendo movida nos Estados Unidos. O seu escritório representa ainda vários outros doentes potencialmente afetados pelo medicamento.
O uso contínuo do produto na Alemanha causou tromboses, derrames ou infartos em pelo menos 2500 pacientes alemães, acusa Peter Sawicki, chefe de um instituto de controle de qualidade e eficiência na área de saúde. "Considerando os estudos de risco feitos com o medicamento, conclui-se que parte destes pacientes certamente não sobreviveu a estes graves efeitos colaterais", analisa Sawicki.
125 milhões de doses na Alemanha em 2003
No ano passado, os convênios obrigatórios de saúde pagaram 125 milhões de doses do medicamento (não contando aí o consumo de pacientes de planos particulares), o que contabilizaria um mínimo de 340 mil pessoas na Alemanha que tomaram Vioxx regularmente.
Um estudo da FDA norte-americana havia feito uma projeção de que mais de 27.700 ataques cardíacos poderiam ter sido evitados nos EUA entre 1999 e 2003, se os pacientes tivessem substituído Vioxx por um medicamento similar.
O Vioxx, sucesso mundial de vendas da empresa, foi lançado nos Estados Unidos em 1999 e era comercializado em mais de 80 países. O faturamento mundial de Vioxx em 2003 atingiu 2 bilhões de euros. Desde que o produto chegou ao mercado, há cinco anos, foram feitas advertências sobre seus efeitos colaterais.
Também outras fábricas de medicamentos estão ameaçadas. Segundo Sawicki, todo o complexo de inibidores do chamado Cox-2 são suspeitos de provocar problemas cardiovasculares. Até o final da semana passada, foram enviados aos conselhos de medicina 1011 comunicados sobre complicações com Vioxx, dos quais 198 sobre problemas cardiovasculares. Em 28 deles, diagnosticou-se parada cardíaca.
Bayer já passou pela experiência Outra grande empresa farmacêutica envolvida em escândalo semelhante foi a alemã Bayer, que em 2001 retirou do mercado seu produto anticolesterol Lipobay, depois de várias mortes por insuficiência renal, principalmente nos Estados Unidos. Até agora, ela já resolveu 25% das queixas, para o que gastou 1,1 bilhão de dólares. Advogados que ganham este tipo de causa nos EUA levam 5% do valor da indenização, a título de gratificação. Por outro lado, desempenham um papel importante: eles obrigam os gigantes da indústria farmacêutica a levar outros fatores em consideração, que não os 20% de lucros.