Vitória republicana mesmo sem Ohio
3 de novembro de 2004O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush não foi apenas reeleito: de seu ponto de vista, o resultado das eleições de 2 de novembro foi quase um triunfo. Com uma participação eleitoral recorde de 58 milhões de votantes, ele conquistou 3,5 milhões votos a mais do que seu oponente principal, o democrata John Kerry.
Em face ao descontentamento generalizado quanto à guerra no Iraque, a manifestação do povo norte-americano votante foi mais decidida do que se esperava: eles querem um "homem forte" na Casa Branca, e uma política conservadora no Congresso. Os republicanos conseguiram ampliar sua maioria no Senado e na Câmara dos Representantes, e nos plebiscitos – como, por exemplo, sobre o casamento homossexual – os conservadores se impuseram em praticamente todo o país.
Bin Laden como coringa
O trauma sofrido pelos cidadãos norte-americanos com os atentados de 11 de setembro de 2001 ressoou nestas eleições, após mais de três anos. A estratégia de Bush – colocando o combate ao terrorismo internacional no centro de sua política – logrou sucesso.
O vídeo do líder terrorista Osama Bin Laden, divulgado pouco antes do pleito, demonstrou aos americanos mais uma vez a ameaça representada pelo "inimigo público número um". A maioria aceitou a visão de Bush, de que os EUA e o mundo livre se encontram numa "guerra mundial" contra o terrorismo e o islamismo.
Nesta campanha eleitoral, marcada pela política externa e de segurança, um dos trunfos de Bush era sua mensagem clara e compreensível: guerra aos terroristas e inimigos dos EUA, democracia para o mundo islâmico, redução de impostos como receita milagrosa para uma economia florescente.
"Simplicidade, simplicidade, simplicidade", assim explicou o cronista e partidário de Kerry, William Saletan, o sucesso de Bush. O ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, ufanou-se de que "jamais na história dos EUA um candidato teve tantos votos quanto o presidente".
Insistindo na unidade
O telefonema em que John Kerry reconheceu a vitória republicana durou menos de cinco minutos. Admitindo por antecipação a derrota no disputado Estado de Ohio – que conta 20 votos no Colégio Eleitoral –, o democrata congratulou Bush: "Parabéns, Sr. Presidente".
Segundo fontes de ambos os partidos, Bush classificou Kerry como um adversário digno e honrado". Este aproveitou a ocasião para lamentar que o país esteja tão dilacerado, com o que Bush concordou. "Precisamos realmente fazer algo para combater isso", concluiu Kerry.
Bom perdedor, este insistiu na unidade também em seu discurso, duas horas após a conversa com o presidente reeleito. As últimas esperanças dos democratas se baseavam nos milhares dos chamados "votos provisórios" do Estado de Ohio. Porém ao que tudo indica, já não era mais possível compensar a dianteira dos republicanos, e a perspectiva de um prolongado cabo-de-guerra político despertou desagradáveis lembranças.
Outro trauma americano
Calcula-se que um milhão ou mais não puderam votar no pleito que elegeu Bush, há quatro anos, devido a empecilhos burocráticos. As cédulas provisórias permitem o voto mesmo àqueles cujo nome não consta da lista de eleitores, ou cujo direito de votar esteja em questão, por qualquer motivo. Elas são guardadas em separado e só consideradas na apuração após estar provada a legitimidade do votante.
Esta possibilidade de votação foi introduzida em diversos estados somente após o fiasco na Flórida, em 2000, quando milhares de eleitores em potencial, na maioria afro-americanos, foram mandados de volta para casa, por não estarem cadastrados.
A lei de Ohio dita que as cédulas provisórias só sejam apuradas 11 dias após o pleito. O resultado oficial das eleições terá que esperar até lá. Enquanto não for realizada a apuração em Ohio, Iowa e Novo México, Kerry e Bush permanecem com 252 e 254 votos dos grandes eleitores, respectivamente. Porém está afastado o maior temor de políticos e eleitores norte-americanos: uma repetição do caos de 2000, que abalou seriamente a (auto-) imagem da "maior democracia do mundo".