Vitória eleitoral reacende temores de avanço da extrema direita na França
14 de outubro de 2013Neste fim de semana, a Frente Nacional venceu uma eleição local em Brignoles, no sul da França, que alguns observadores consideram um teste para as próximas eleições municipais. Embora a vitória não tenha grande importância em nível nacional, ela demonstra a crescente aprovação da extrema direita entre uma população abalada pela insegurança da crise.
Segundo os resultados oficiais definitivos, Laurent Lopez, candidato da Frente Nacional na eleição em Brignoles (cidade de 17 mil habitantes com um prefeito comunista), ficou com 53,9% dos votos no segundo turno. Em segundo lugar ficou a candidata da conservadora União para um Movimento Popular, Catherine Delzers.
A presidente da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, saudou imediatamente a "bela vitória" de seu candidato em Brignoles, afirmando que se tratava da "morte da frente republicana", numa referência à frente formada pela oposição.
Segundo Le Pen, mesmo que se tratasse de uma eleição local, "ela aponta uma vontade de mudança dos franceses, que irão se expressar, irão se mobilizar" para as eleições municipais no início de 2014.
Apesar de Marine Le Pen querer dar um tom mais respeitável à Frente Nacional, tentando angariar votos dos conservadores ao se apresentar de forma menos radical, ainda é controversa a afirmação de que o pleito do fim de semana seja uma prévia de futuros resultados nas eleições municipais francesas e para o Parlamento Europeu em 2014.
Crescimento da Frente Nacional
Um candidato da Frente Nacional já havia ganhado essa eleição – para um representante no Conselho Geral do Departamento de Var, onde se localiza Brignoles – em 2011. O resultado, no entanto, foi anulado, como também a eleição subsequente, em 2012. A atual eleição é a terceira tentativa.
A Frente Nacional obteve impressionantes resultados de aprovação em recentes pesquisas de opinião realizadas em nível nacional. De acordo com a projeção publicada na semana passada pela revista Le Nouvel Observateur, o partido de Marine Le Pen poderá ganhar até 24% dos votos na eleição para o Parlamento Europeu, no ano que vem.
A Frente Nacional se tornaria, assim, o partido mais forte, à frente do Partido Socialista, do presidente François Hollande, que segundo a pesquisa obteria somente 19% dos votos, e dos conservadores da União para um Movimento Popular (UMP), com 22%.
Causas da extrema direita
A decepção dos franceses com os partidos estabelecidos é vista como o motivo da grande aprovação da extrema direita. Os socialistas são acusados de não conseguir controlar o alto desemprego e de negligência em relação à criminalidade e ao problema dos refugiados. Por sua vez, desde a derrota do ex-presidente Nicolas Sarkozy contra Hollande, em maio de 2012, a conservadora UMP vem sendo abalada por brigas internas.
Enquanto a gestão socialista-verde de Hollande perde cada vez mais popularidade e a oposição tradicional de direita continua sem projeto político alternativo, esfacelando-se em brigas pessoais, a Frente Nacional colhe agora os frutos de um discurso apoiado na insegurança, na crise econômica e na campanha local. Em Brignoles, a Frente Nacional disse ter sido "o único partido a ter feito realmente campanha", com a distribuição de panfletos, encontro com os simpatizantes e a população.
Para uma habitante de Brignoles, que preferiu ficar anônima, votar na Frente Nacional é "algo normal". Fazendo alusão à população de origem magrebina no centro da cidade, a sexagenária afirmou que "hoje, nesta pequena cidade, você pergunta onde você se encontra."
Crise e insegurança
Comentando o resultado eleitoral em Brignoles, o jornal Libération afirmou que "os esquerdistas no governo não conseguem mais mobilizar os eleitores. O presidente aborda a política econômica e promete êxitos, seu ministro do Interior discursa sobre a minoria Roma, imigrantes e segurança. Na ala da direita, despenca sob a crise e as derrotas eleitorais a moral que rejeitou qualquer acordo com a extrema direita. Enquanto o veneno da Frente Nacional e de sua política se infiltra em todo o país. (...) Sob o pretexto da prioridade nacional, a FN defende teses racistas – seja em nome do pai [o fundado do partido Jean-Marie Le Pen], seja da filha [a líder partidária Marine Le Pen]."
E, de fato, apesar das polêmicas declarações do ministro do Interior, Maneul Valls, defendendo a expulsão da França de membros da minoria roma provenientes da Bulgária e Romênia, o poder socialista não consegue mais controlar o crescimento da extrema direita, como também não consegue mais atenuar o sentimento de insegurança crescente em uma França que se esforça para sair da crise.
CA/dpa/afp