Vitória regional da CDU impulsiona candidatura de Merkel
15 de maio de 2017Na Alemanha não existem eleições primárias para uma eleição federal, como nos EUA. Também não há eleição direta para chanceler federal. Em vez disso, as eleições estaduais são consideradas um barômetro importante, tanto para as eleições nacionais como para os candidatos a chanceler. E a eleição na Renânia do Norte-Vestfália – estado mais populoso do país, com 20 milhões de habitantes – pode ser considerada um superbarômetro. Realizada neste domingo (14/05), a votação regional ocorreu a apenas quatro meses e meio da eleição geral, em setembro.
Visto nesse contexto, o resultado da eleição – derrota para o Partido Social-Democrata (SPD) e vitória para a União Democrata Cristã (CDU) – é vento em popa para a líder da CDU e chanceler federal, Angela Merkel. Trata-se, mais precisamente, de um "tufão" em popa.
Isso porque a mudança de poder ocorre no bastião do SPD, onde o partido até mesmo governou sozinho, com maioria absoluta, entre 1980 e 1995. Desde 1966, a CDU só esteve uma vez no comando local, entre 2005 e 2010. Não é á toa que o resultado das eleições é considerado pela mídia alemã um "terremoto político".
Já a CDU parece estar indo rumo ao sucesso garantido. Já é a terceira vitória seguida em eleição estadual. No Sarre, a governadora da CDU foi reeleita; em Schleswig-Holstein, os conservadores conseguiram uma mudança de poder – e agora foi a vez da Renânia do Norte-Vestfália. Há quem diga que uma reeleição de Merkel é fato consumado.
Schulz na defensiva
O adversário de Merkel na corrida pela Chancelaria, o presidente do SPD, Martin Schulz, agora é muito menos perigoso do que era no começo do ano. A tantas vezes citada "locomotiva Schulz" – em referência ao crescimento meteórico do social-democrata nas pesquisas e ao consequente aumento das filiações ao seu partido – parece ter sido freada. Os louros prévios se pulverizaram. Isso é o que mostram também as outras sondagens nacionais, tanto em relação a partidos, como aos seus líderes.
A opinião geral parece voltar aos tempos anteriores aos da candidatura de Schulz. Isso dói: ele chegou a admitir não ser "nenhum mágico". O adversário de Merkel quer continuar lutando, mas agora está danificado e tem que tentar se reerguer. Mas Schulz deixa em aberto como conseguiria fazer isso. De qualquer forma, seu tema favorito, "justiça social", no momento não parece realmente dar frutos. Em vez disso, o tema da "segurança interna", com o qual a CDU faz campanha, parece preocupar mais os eleitores.
Política pode mobilizar novamente
O pêndulo não apenas voltou ao tempo anterior à candidatura de Schulz, como também ocorreu um verdadeiro revival da CDU nas eleições estaduais. Em anos anteriores, o partido não esteve necessariamente acostumada ao sucesso em pleitos regionais. E isso era considerado uma falha de Merkel. Porque, com isso, a CDU não tinha maioria no Bundesrat, a câmara alta do Parlamento alemão, cujos assentos são definidos conforme as maiorias nos governos estaduais.
A nova tendência parece ser uma prova de que a CDU novamente consegue mobilizar o eleitorado. Na Renânia do Norte-Vestfália, a legenda conseguiu atrair a maioria dos eleitores do campo dos que antes não votavam. Uma razão pode ser o fato de o partido estar experimentando há vários meses a realização de uma campanha eleitoral por meio de panfletagem de porta em porta, com auxílio de recursos digitais. Dizem que em Saarland e Schleswig-Holstein isso contribuiu para que muitos cidadãos fossem às urnas.
Qualquer que seja o resultado da luta entre o "efeito Schulz" e a mobilização da CDU, o certo é que os tempos da apatia dos eleitores na Alemanha ficaram para trás. Pois a taxa de comparecimento às urnas vem aumentando.
A AfD parou
Já a extrema direita populista alemã tem se mantido estacionada em valores de um dígito nas pesquisas de intenção de voto das últimas semanas. Ela provavelmente conseguirá atingir a marca de 5%, que permite a um partido entrar no Parlamento. Mas, ao contrário do que ocorre em outros países europeus, a legenda deverá permanecer, junto com os verdes, os liberais e os socialistas, na área dos chamados pequenos partidos.
Já CDU e SPD devem atingir marcas acima de 30%, confirmando sua posição como principais partidos alemães. A paisagem político-partidária permanece, assim, relativamente estável na Alemanha.
Com isso, começam a aparecer alternativas para a grande coalizão entre CDU e SPD, sempre considerada mais uma cooperação forçada. Isso se deve principalmente à força recuperada pelo Partido Liberal Democrático (FDP), que há quatro anos não obteve votos suficientes para ficar no Parlamento e agora pode retornar à casa, se colocando à disposição para alianças novas ou de sucesso já comprovado.