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Zeitgeist: O complexo sistema eleitoral americano

7 de novembro de 2016

Nas eleições nos Estados Unidos, nem sempre o mais votado é eleito presidente. Foi assim, por exemplo, no duelo Bush-Gore em 2000. Pleito é indireto, e cada estado tem peso diferente. Entenda.

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Vorwahlen Ohio USA
Foto: picture-alliance/dpa/D.Maxwell

A eleição presidencial brasileira segue um princípio simples: o voto de cada eleitor tem o mesmo peso, e vence o candidato que somar o maior número de votos. Nos Estados Unidos, o sistema é bem mais complexo: o voto de um eleitor pode valer mais do que o de outro, e a vitória pode ser de um candidato que não somou o maior número de votos.

Foi o que aconteceu em 2000, quando o democrata Al Gore somou mais votos do que o republicano George W. Bush, mas não venceu a eleição.

Isso porque, nos Estados Unidos, o presidente é eleito pelo Colégio Eleitoral, e os cidadãos elegem apenas os representantes do seu estado nesse colégio, que é formado por 538 pessoas.

Cada um dos 50 estados americanos, mais o distrito federal Washington, está representado no Colégio Eleitoral, mais ou menos de acordo com a sua população.

Assim, estados mais populosos têm mais delegados do que estados menores – o mínimo de representantes que um estado tem no Colégio Eleitoral é três.

A Califórnia, estado mais populoso dos Estados Unidos, tem 55 delegados. O Wyoming, onde moram apenas 600 mil pessoas, tem apenas três.

Para vencer a eleição, o candidato precisa ter a maioria no Colégio Eleitoral, ou seja, 270 votos.

Só que os representantes de cada estado no Colégio Eleitoral não votam como eles próprios acharem melhor. Eles seguem a tendência de seus estados, e é nesse ponto que entra um aspecto fundamental: a maioria dos estados usa o chamado sistema winner-takes-all (o vencedor leva tudo). Ou seja, quem vencer na Califórnia, por exemplo, fica com todos os 55 votos da Califórnia.

Apenas dois estados não seguem essa lógica: Maine e Nebraska. Eles usam o sistema de distritos. Nesse método, o estado é dividido em distritos, e cada distrito equivale a um dos votos do estado no Colégio Eleitoral. Além disso, há dois votos extras para o vencedor no estado.

Como costumam ser favoritos na Califórnia, onde venceram em todas as presidenciais desde 1992, os democratas contam com os 55 votos do estado. O mesmo vale para os republicanos, que vencem no Texas desde 1980 e contam com os 38 votos do estado no Colégio Eleitoral.

Em cerca de 40 estados é assim: um partido já parte do princípio de que vai vencer lá – porque tradicionalmente vence – e já sabe que terá todos os votos do estado por causa do sistema winner-takes-all.

Em consequência, o partido que sabe que vai perder num estado nem se interessa muito em fazer campanha eleitoral por lá.

Mas restam cerca de dez estados onde uma vez ganha um, na outra vez ganha o outro. São os chamados swing states. Como a vitória lá não está assegurada para nenhum dos dois partidos, eles concentram a campanha eleitoral por lá: Iowa, Flórida, Ohio, Pensilvânia e Carolina do Norte são alguns desses estados.

Claro que um estado que sempre votou num partido pode trocar de lado, mas isso é muito raro. Na eleição de 2016 (por si só já repleta de situações raras), o Texas, um bastião republicano, virou, para alguns analistas, um swing state – ainda que os republicanos cantem vitória lá.

Se um estado for swing state e, além disso, ainda tiver um grande número de delegados no Colégio Eleitoral, ele vira uma das joias da coroa, disputada acirradamente pelos dois partidos. A Flórida, por exemplo, é um swing state com 29 votos no Colégio Eleitoral. Ohio tem 18. Vencer nesses dois estados é praticamente vencer a eleição.

Apesar da complexidade, o sistema americano costuma refletir a vontade popular: em 48 de 52 eleições foi eleito presidente aquele que também conseguiu o maior número de votos entre a população.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.