Salão do Automóvel
9 de janeiro de 2012Para Celia Thomas, vice-presidente da Matrix, organização de ajuda humanitária de Detroit, a carência financeira da cidade não surpreende. Décadas atrás, a indústria automotiva mudou-se para regiões vizinhas mais baratas e, com ela, 1 milhão de pessoas também se mudaram – e, finalmente, o mesmo aconteceu com o dinheiro, responsável por manter viva uma cidade.
Há mais de 20 anos, Thomas vê a pobreza crescer, enquanto, ao mesmo tempo, Detroit perde recursos financeiros. Mais dinheiro seria um alívio de curto prazo, diz Thomas. Em primeiro lugar, é necessário que haja uma ajuda de longo prazo para os mais necessitados, explica.
Cerca de 250 mil pessoas, quase 40% da população total, vivem abaixo da linha de pobreza. Uma família de quatro pessoas ganha, em média, menos de 1.900 dólares por mês. Essas pessoas não trazem dinheiro à cidade, nem através de impostos nem por meio de compras. Muito pelo contrário: elas dependem da ajuda social para sobreviver. Detroit já se encontra há anos em decadência.
Luta contra a pobreza
Uma mulher que espera há mais de uma hora é a primeira a entrar no ginásio de esportes. Ela empurra um carrinho de bebê que transformou em carro de compras. Os voluntários da organização Matrix se encontram por trás de caixas empilhadas com tomates, pimentão, maçãs, iogurte e leite. Ali, centenas de pessoas logo enchem seus carrinhos e sacolas com tudo o que precisam: especialmente alimentos, mas também roupas e livros usados.
No entanto, mesmo se a vice-presidente da Matrix e seus funcionários ajudassem todos os necessitados a assegurar o seu sustento, eles não poderiam salvar a cidade. A infraestrutura de Detroit não pode ser financiada por tão poucas pessoas.
Detroit sofre com o aumento do desemprego
Entre 1950 e 2010, Detroit perdeu mais da metade de seus habitantes, mas os limites da cidade permaneceram os mesmos. Quase 2 milhões de pessoas viviam em Detroit anteriormente. Hoje, residem ali apenas 713.777 habitantes, distribuídos numa área tão grande quanto São Francisco, Boston e Manhattan juntos. Nos cofres da cidade não há mais dinheiro para serviços como iluminação pública ou coleta de lixo.
A maioria da população branca de renda mais alta pôde se mudar. Essa assim chamada "fuga branca" fez com que, atualmente, os afroamericanos perfaçam 83% da população de Detroit.
A imagem da cidade sofre com um desemprego crescente, terrenos baldios e casas abandonadas. As áreas habitadas estão localizadas, agora, mais longe das lojas e locais de trabalho, de forma que os moradores têm que percorrer longas distâncias. Não se pode confiar nos ônibus que circulam irregularmente, diz Celia Thomas, da organização Matrix. "E, por causa da pobreza, a maioria não pode comprar carro."
Sistemas de transportes não funcionam
Em muitas cidades dos EUA, há um sistema de transporte público bem desenvolvido, mas não em Detroit. Mais de 15 mil passageiros utilizam os serviços de ônibus dos arredores. Devido à economia que a cidade vem fazendo desde 2006, a frota de ônibus foi reduzida em um terço. Muitas vezes, o tempo de espera é longo na rodoviária do centro de Detroit. Os políticos da cidade não têm condições de melhorar, em curto prazo, nem a situação do transporte público nem de outros serviços municipais.
O déficit orçamentário equivale a quase 2 bilhões de dólares. A dívida de longo prazo é de mais de 12 bilhões de dólares. Pior ainda são as discussões políticas, diz Tim Killeen, que é membro da câmara distrital. "Não há consenso quanto à direção em que esta cidade deve continuar a se desenvolver". Detroit precisa de dinheiro. De qualquer forma, algumas empresas estão voltando. Mais pessoas e assim também mais recursos retornam à cidade.
Casas vazias e deterioradas
Mais pessoas vindo morar em Detroit seria um grande passo para a cidade. No entanto, cerca de 30% das habitações estão vazias. Os imóveis são baratos. Em Detroit, paga-se por uma residência por volta de 16 mil dólares, contra os mais de 272.900 dólares no resto dos Estados Unidos. O problema é que quem compra uma casa em Detroit tem que investir muito dinheiro para reparar os danos que surgiram ao longo dos anos.
Os políticos da cidade querem economizar principalmente com os 11 mil funcionários municipais. A prefeitura é o maior empregador de Detroit. Nesse meio tempo, os empresários começam a retornar, ruas completas foram revitalizadas com as novas moradias. "Se continuarmos a contribuir para que se façam alterações, para modernizar alguns bairros e revitalizar o centro, a longo prazo, o retorno para a cidade irá valer a pena", explica Susan Mosey, presidente da empresa Midtown Detroit.
Até agora, foram investidos 2 bilhões de dólares no bairro Midtown. Também a revitalização da cena artística torna de novo a cidade mais atraente. Além disso, os empregadores asseguram subsídios habitacionais para pessoas que querem viver em Detroit.
Futuro de esperança?
O sucesso modesto aumenta as esperanças: "É como um quebra-cabeça", diz Celia Thomas. "Todas as partes devem ser reunidas. Estou confiante de que podemos realizar isso". Apesar da grande presença de pessoas na distribuição de alimentos naquele dia, ela se diz otimista. Para ocupar os novos empregos em Detroit, são necessários trabalhadores qualificados, como engenheiros. Os impostos pagos por eles ajudariam a reduzir as dívidas da cidade.
Um pouco de confiança se mescla agora à desolação da cidade norte-americana do automóvel: montadoras de todo o mundo trazem novamente notícias positivas. Nesta segunda-feira (09/01) tem início o Salão do Automóvel de Detroit, cujo nome oficial é Salão Internacional do Automóvel da América do Norte (Naias, na sigla em inglês).
Autora: Kathleen Schuster (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer