Futuro energético
20 de julho de 2010
O anfitrião não é exatamente um país exemplar no uso de fontes limpas para produzir eletricidade. Mas é bem avaliado pela iniciativa de reunir os maiores emissores de gases do efeito estufa para encontrar meios de geração de energia não poluentes.
Na transição de um passado de políticas reticentes a um presente mais ativo, os Estados Unidos sediam até esta terça-feira (20/07) o primeiro encontro de ministros e investidores para lançar iniciativas que ajudem a acelerar a trajetória mundial rumo às tecnologias de energia limpa.
O Brasil está entre os 20 países convidados, com a presença também de Alemanha, China, Índia, França e Reino Unido. Juntos, esses países são responsáveis por 70% das emissões de gases estufa, 80% do Produto Interno Bruto mundial e 80% do mercado de energia limpa.
O que dizem esses números? Que a adoção de fontes alternativas pode crescer nos próximos anos, e que, principalmente, há empresas do ramo atentas às oportunidades de negócios que essa declaração de intenções dos governos presentes no encontro pode gerar. A empresa americana GridPoint, por exemplo, apresenta aos participantes soluções em redes inteligentes de transmissão, eficiência enérgica e fontes renováveis.
Com a ajuda do Brasil
O ministro brasileiro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, propaga nos Estados Unidos a receita brasileira: a produção de eletricidade considerada "a mais limpa do mundo", baseada nas usinas hidrelétricas. O ministro também apresentou algumas iniciativas na área de biomassa a partir do bagaço de cana-de-açúcar.
"Temos dado nossa constante contribuição de como aprovamos leis e implantamos mecanismos para conseguirmos ter as matrizes energéticas e elétricas mais limpas do mundo", diz o ministro brasileiro.
Por outro lado, o país tem dificuldade em extinguir a atividade responsável por aproximadamente 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa: o desmatamento de florestas e outros usos inadequados da terra.
Dentro da programação da conferência, Brasil e Estados Unidos assinaram um acordo de cooperação na área de energia que pretende, entre outros objetivos, combater os efeitos das mudanças climáticas. Segundo o acordo, os dois países trocarão mais informações e experiências em energia renovável, incluindo bicombustíveis e geração de eletricidade.
Embora a cooperação seja, a princípio, dedicada a explorar as tecnologias limpas, os dois governos não deixaram escapar um campo de grande interesse de ambos: exploração de petróleo e gás natural em águas profundas. O documento assinado prevê um maior compartilhamento de informações nessa área, visando também práticas ambientais e de segurança.
"Apesar de sua matriz energética predominantemente baseada em fontes não renováveis, os EUA são, indiscutivelmente, o maior centro de novas tecnologias e inovação do mundo. Neste sentido, uma parceria com os EUA pode prover contribuições expressivas para o desenvolvimento do setor energético brasileiro. A parceria é de inestimável valor para o Brasil na medida em que coaduna recursos naturais à expertise tecnológica", afirmou Zimmermann à Deutsche Welle.
O ministro brasileiro reconhece que o país, por contar com fontes renováveis primárias para a produção de energia elétrica de baixo custo, acabou adiando a inserção de fontes como a eólica e a solar. "No entanto, para aumentar a segurança energética e o desenvolvimento tecnológico nacional, entendemos como necessário o incremento da participação destas fontes na matriz elétrica", adicionou.
Quanto à contribuição brasileira aos países que não são dotados dos mesmos recursos, como a abundância de rios, Zimmermann chama a atenção para o que classifica de agricultura da energia. "Na área de bioenergia, o mundo tem um longo caminho a percorrer e o Brasil já aportou recursos, áreas disponíveis e tecnologia, significando uma experiência interessante a ser compartilhada". Zimmermann explica que a bioenergia corresponde a 28% da matriz brasileira: "Só os derivados de cana-de-açúcar são responsáveis por 18%, tendendo a alcançar 21,5% em 2019".
A longa jornada norte-americana
Steven Chu, secretário norte-americano de Energia e anfitrião do evento, tem a missão de ajudar o governo de Barack Obama a cumprir a Ordem Executiva para Sustentabilidade, que prega a redução de 28% das emissões até 2020 com base em valores de 2008.
Mas há ainda um longo caminho para os norte-americanos: o carvão é a principal fonte de energia elétrica no país, que corresponde a 48,2% do total. Gás natural e energia nuclear aparecem em seguida na lista.
Por outro lado, o uso de fontes renováveis – com exclusão das hidrelétricas – cresceu 19% em 2008, mas corresponde ainda a apenas 1,3% do total. Os investimentos em usinas eólicas foram responsáveis pela elevação do índice.
E para que essa conferência não fique somente no plano das intenções, Steven Chu anunciou no primeiro dia do encontro uma iniciativa para implementar os chamados Cool Roofs, telhados ecologicamente corretos que refletem o calor do sol e reduzem o gasto com ar condicionado.
A tecnologia será primeiramente empregada em prédios da própria Secretaria de Energia e estabelecimentos do governo. "Esse telhado pode economizar até 15% de energia para quem usa ar condicionado. E ajuda também a combater as zonas de calor nas áreas urbanas, já que o calor do sol não fica preso, mas é refletido de volta para o espaço", esclareceu Chu.
O secretário tocou num ponto que interessa também não só às partes comprometidas em amenizar o impacto humano no planeta: "Ao demonstrar os benefícios desse tipo de telhado nos prédios públicos, o governo federal pode levar o país a práticas mais sustentáveis e, ao mesmo tempo, reduzir a pegada de carbono deixada pelo governo e poupar os recursos do contribuinte", expôs Steven Chu com a ajuda do conceito mais sedutor: economia de dinheiro.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer