O ex-presidente e agora futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sua apertada vitória nas urnas principalmente ao fato de que muitos brasileiros o veem como o mal menor.
Afinal, durante seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro dividiu a sociedade com seu discurso de ódio, abandonou a população durante a pandemia e cortou verbas da educação.
Mas também há muito ceticismo em relação a Lula: apenas uma minoria pequena, mas leal, vê no petista de 77 anos um bom presidente. Afinal de contas, Lula é politicamente responsável por um gigantesco escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e até hoje, nega qualquer envolvimento. Além disso, ele não apresentou um programa econômico convincente. E ainda defende ditaduras como Cuba e Venezuela.
No entanto, Lula provou repetidamente em sua longa carreira política que é um defensor declarado da democracia. Com sua vitória eleitoral, ele conteve, por enquanto, a crescente erosão das democracias no Ocidente. Este é um sinal importante vindo do quinto maior país do mundo. Em um segundo mandato, Bolsonaro provavelmente teria minado a democracia, o que também prejudicaria a economia – algo que muitos empresários e investidores ainda não querem admitir.
Com Lula como presidente, o isolamento internacional do Brasil deve acabar. Bolsonaro tornou-se persona non grata tanto na Europa como nos Estados Unidos com suas políticas ambientais desastrosas, sua admiração descarada por Trump, Putin e outros populistas, e seus insultos pessoais contra líderes como Macron e Merkel.
Lula certamente tentará reavivar as outrora boas relações com a Europa. Ele vai querer jogar novamente na primeira liga em política climática e proteção ambiental, mas também em outros temas de política internacional e globalização. Assim como fez durante seus governos, de 2003 a 2010.
Nesse contexto, ajuda o fato de sua reputação política ser muito melhor no exterior do que no próprio Brasil. Em casa, Lula está diante de um mandato difícil. O bloco conservador no Congresso e os estados dificultarão seu governo. E é justamente por isso que Lula depende de apoio estrangeiro.
Nós, na Europa, devemos aproveitar a oportunidade para nos aproximarmos novamente do Brasil o mais rápido possível. Pois assim como Lula pode fazer bom uso do apoio do Ocidente, um parceiro democrático estável e forte na América Latina é extremamente importante para os europeus. Se hesitarmos novamente em nos relacionar seriamente com o Brasil, outras nações interessadas estão prontas – a China, por exemplo.
Não será muito útil se a Europa agora enviar sinais de que espera que o Brasil primeiro apresente algo em termos de proteção ambiental para depois decidir que forma a cooperação pode assumir.
No momento, realmente não cabe a nós na Europa dar ao Brasil lições de democracia.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
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