Murade Murargy insiste em legalidade na Guiné-Bissau
10 de outubro de 2012Murade Isaac Miguigy Murargy já ocupa a cadeira do Palácio Conde de Penafiel, em Lisboa, desde meados de setembro.
O novo secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tem em mãos o difícil dossier da crise político-militar da Guiné-Bissau.
Esta é uma herança do golpe de Estado de 12 de abril, que entregou a gestão do país a um governo de transição, o qual não goza de reconhecimento internacional.
Continuidade da política para a Guiné-Bissau
Murade Murargy afirma que a posição da CPLP é de que é necessário que a legalidade seja reposta na Guiné-Bissau.
“Que haja um governo inclusivo, com a participação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que as forças da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que se encontram no terreno, sejam transformadas em forças internacionais - isto é, tem que haver outros países a participar nessas forças - e que se criem as condições para eleições livres e justas”, enumera.
Assim, a CPLP mantém a sua posição de não reconhecer o governo de transição indigitado pelo presidente Serifo Nhamadjo, “porque não são só princípios da CPLP, são princípios universais tanto das Nações Unidas como da União Africana”, defende.
Divergências com a CEDEAO
No meio desta crise, Murade Murargy também terá de gerir as divergências com a CEDEAO, que colocou as suas forças na Guiné-Bissau, legitimando o golpe de Estado.
Persiste o diferendo entre as duas organizações e, por isso, os recentes contactos em Nova Iorque não foram frutíferos.
Apesar disso, CPLP e CEDEAO estariam negociando a criação de uma missão de observação do terreno.
“Os dois secretariados teriam que definir os termos de referência, propor a composição da missão e submeter aos ministros das relações exteriores de cada um dos blocos”, conta.
De acordo com o novo secretário executivo da CPLP, o trabalho já está em andamento, ainda que com muitos pontos de divergência, “porque a CEDEAO considera que a situação de facto é aquela e que nós temos que integrar-nos no que já existe no terreno, o que para nós não é aceitável”, diz.
Para o secretário executivo da Comunidade Lusófona destaca ainda um outro componente para solucionar a crise. “É necessário é que os guineenses se encontrem e promovam o diálogo. Este é que é o ponto central”, enfatiza Murargy.
Mediação pode ser o caminho
Embora não tenha conhecimento oficial da proposta, Murade Murargy acolhe a disponibilidade do presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos de Almeida Fonseca, que se ofereceu para mediar a aproximação de posições entre as duas organizações.
“Todas as propostas que conduzam a uma solução para o entendimento entre a CPLP e a CEDEAO serão bem-vindas”, pondera.
Para o secretário-executivo da CPLP, o aperto de mão, em Nova Iorque, no encontro entre o presidente interino deposto, Raimundo Pereira, e o presidente do governo de transição, Serifo Nhamadjo, é já um sinal positivo.
Murade Isaac Miguigy Murargy assegura que a sua ação como secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa centrar-se-á nas decisões tomadas pelos chefes de Estado na cimeira de Maputo, em julho passado. Mas a prioridade vira-se para a problemática da segurança alimentar e nutricional, tema eleito pela presidência moçambicana da organização lusófona.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Cristiane Vieira Teixeira/Renate Krieger