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200 adeptos da seleção de futebol do Gana pedem asilo no Brasil

Maria João Pinto / Isaac Kaledzi 11 de julho de 2014

Cidadãos ganeses entraram no país com vistos de turista para assistir aos jogos do Mundial de Futebol 2014. Os agora requerentes do estatuto de refugiado são muçulmanos e alegam perseguição religiosa no Gana.

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Foto: Francisco Leong/AFP/Getty Images

Os 193 cidadãos ganeses terão entrado no país por Natal, Fortaleza e Brasília, cidades onde se realizaram os jogos da seleção do Gana, seguindo depois para o sul em busca de trabalho, tendo sido recebidos na cidade de Caxias do Sul, onde a Polícia Federal está a tentar resolver estes casos e tem uma estrutura de acolhimento, o Centro de Atendimento ao Migrante, ligado à igreja católica.

Os cidadãos faziam parte dos cerca de 500 fãs da seleção de futebol ganesa enviados pelo Governo do Gana para o país anfitrião do Mundial 2014. O recentemente empossado ministro da Juventude e Desporto, Mahama Ayariga, afirma que o Executivo está “desapontado” com este caso e vai apurar os factos antes de entrar em acção.

“Escrevi ao nosso ministro dos Negócios Estrangeiros e Integração Regional para que use as nossas instalações na embaixada do Brasil para confirmar a veracidade destas informações que estamos a receber. Caso se venham a confirmar, iremos identificar todos os indivíduos que pediram asilo no Brasil”, declarou Mahama Ayariga à DW África.

"Não há perseguição religiosa no Gana", dizem autoridades do país

O Governo do Gana nega a existência de perseguição religiosa aos muçulmanos no país. De acordo com o ministro, “os motivos alegados para requerer asilo no Brasil são totalmente falsos e não há nenhum lugar neste país onde exista conflito religioso ou perseguição a qualquer grupo que seja razão para procurar asilo fora do território do Gana”

Alhaji Jawula, clérigo muçulmano que é também chefe do distrito de Gonja, no Gana, diz-se preocupado com a imagem negativa da comunidade islâmica pintada pelos 200 ganeses no Brasil. “Não há problemas islâmicos neste país, nem problemas religiosos entre muçulmanos e cristãos, ou dentro de cada uma dessas comunidades. Isto é uma farsa”, considera, considerando ainda “que se trata de motivos económicos e estes cidadãos só estão à procura de uma desculpa para sair do país. O Gana é um país muito pacífico”.

Nas ruas de Accra, a população está revoltada com as notícias e sente que o seu país está a ser humilhado pelas acções dos seus conterrâneos no Brasil. Os ganeses pedem punições para estes cidadãos, quando voltarem ao Gana. “Temos vergonha, porque as razões que eles alegam para pedir asilo são erradas. Não há luta religiosa. Se és ganês e vives no Gana tens de ter vergonha destas coisas, porque vivemos bem”, diz um dos habitantes. “Não acho que isto seja uma coisa boa. Aqui não há violência religiosa. É uma desgraça para o nosso país. Deviam encontrar quem está a fazer isto e puni-los”, considera uma outra cidadã ganesa.

FIFA Fußball WM 2014 USA Ghana
Adepto do Gana durante o jogo frente à seleção norte-americanaFoto: Reuters

O fim do envio de adeptos para o estrangeiro?

Enquanto decorrem as investigações do Governo, muitos pedem que se ponha fim ao transporte de adeptos para apoiar as suas equipas de futebol no estrangeiro. Samuel Okudzeto Ablakwah , vice-ministro da Educação, é uma das vozes críticas, considerando que “só deram ao país uma má imagem”. “Não houve qualquer gratidão e é por isso que começo a concordar com aqueles que dizem: “sabem estes fãs que temos enviado para fora desde que nos qualificamos para o Mundial de 2006? Vamos parar com isto”.

Entretanto, no Brasil, os 200 cidadãos ganeses concentram-se em Caxias do Sul, onde entregaram as solicitações de refúgio à Polícia Federal. Em comunicado enviado à DW África, o Ministério da Justiça brasileiro afirma que “enviará uma missão especial do Comité Nacional para Refugiados para entrevistar os solicitantes”. “O objetivo”, citamos, “é encaminhar relatórios que possibilitem aos conselheiros do comité tomar decisões sobre cada caso, nos termos previstos na lei”.

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