2020 em revista: O ano assolado pela Covid-19
30 de dezembro de 2020Falar em 2020, em jeito de balanço, é falar inevitavelmente de Covid-19. O vírus que começou em dezembro de 2019, na China, mas que rapidamente atravessou fronteiras devastando em 2020 os quatro cantos do mundo quando menos esperávamos. E a nossa vida mudou.
A gravidade da situação e os níveis "alarmantes" de disseminação do vírus levaram a que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarasse pandemia mundial a 11 de março.
"Podemos esperar que o número de casos, mortes e países afetados aumente", disse, na altura, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Só não imaginávamos, imbuídos de esperança, o quanto aumentariam esses números nem que estávamos apenas no início de uma longa caminhada, que não chega ao fim em 2020 apesar da descoberta da vacina.
Em África, o primeiro caso do novo coronavírus foi anunciado pelo governo egípcio, ainda em fevereiro.
Em Moçambique, o anúncio do primeiro caso de Covid-19 aconteceu a 22 de março e passados menos de dez dias, o Presidente da República, Filipe Nyusi, declarou estado de emergência no país.
"Decidi decretar o estado de emergência em todo o território nacional. Esta decisão não foi fácil. Depois de muita ponderação consideramos que esta opção é aquela que melhor serve os interesses do nosso povo”, disse.
A declaração de Nyusi foi replicada em todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) onde, num ápice, os números de novos casos foram aumentando.
Os novos hábitos, como o usa da máscara, regras de distanciamento e de convivência que a Covid-19 nos impos e que hoje apelidamos de "novo normal” levaram o seu tempo para se enraizarem.
"Deve-se usar a máscara. Não é uma situação de brincadeira. É uma situação mesmo séria. Temos de pôr essas máscaras e lavar as mãos”."Temos de criar uma distância, não podemos nos aglomerar. A prioridade é a saúde, tem que seguir regras.", recomendavam as pessoas aos mais resistentes.
Juventude angolana fez-se ouvir
Em Angola o ano ficou também marcado por diversas manifestações , nas quais marcou presença especialmente a camada mais jovem.
"O povo precisa saber que precisa limpar o MPLA e sobretudo limpar a elite militar e os polícias que são os maiores corruptos nesse país! Porque é preciso perceber uma coisa. Os políticos não abusam porque querem abusar. Eles abusam porque sabem que têm bonecos obedientes!", ouviu-se pelas ruas de Luanda.
O fim da corrupção em Angola, a defesa da realização de eleições autárquicas, protesto contra o regime e o elevado custo de vida no país, foram algumas das motivações dos protestantes. Críticas à governação de João Lourenço também se fizeram ouvir.
"A juventude angolana perfaz um número maior da população em Angola. A juventude está desempregada e numa época como esta… com as promessas eleitorais que João Lourenço fez aquando da sua eleição, de que poderia criar aproximadamente 500 mil empregos. Mas passados três anos até agora não está a cumprir com as promessas eleitorais."
"Nós não gostamos da governação do MPLA e estamos aqui a mostrar as nossas caras. E falar bem alto: Abaixo o MPLA! Abaixo!"
Grande parte dos protestos foram reprimidos pelas autoridades e acabaram em violência e "brutalidade policial”. Em novembro, uma das manifestações resultou mesmo na morte de um jovem de 26 anos de idade.
Destino de Chang continua incerto
Em Moçambique, o caso dívidas ocultas não teve grandes desenvolvimentos e o ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, continua detido na África do Sul, sem julgamento, há já dois anos.
O caso das dívidas ocultas lesou o Estado moçambicano em mais de 2 mil milhões de euros.
Na Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló tomou posse em fevereiro como Presidente do país, à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. O combate à corrupção foi uma das suas bandeiras.
"Saliento que o combate feroz à corrupção, o narcotráfico e o banditismo constituíram objetivos estratégicos e destacados na minha magistratura”, frisou.
A presidência de Embaló tem sido, porém, marcada por críticas de opressão e perseguição política. O primeiro-ministro, Aristides Gomes, despedido pelo Presidente teve inclusivamente de se refugiar na sede da ONU, em Bissau, para salvaguardar a sua segurança.
Mesmo a fechar o ano, o país volta a ser notícia pelo mandado de captura internacional de Domingos Simões Pereira, emitido pela Procuradoria Geral da República e pela possibilidade de dissolução do parlamento por parte de Embaló, que acabou por cair por terra depois de um encontro do PR com os líderes das bancadas parlamentares.
Multiplicam-se os deslocados em Cabo Delgado
Voltando a Moçambique, 2020 foi mais um ano de violência armada em Cabo Delgado, tendo a ONU descrito a situação humanitária na região como sendo "extremamente crítica".
Os conflitos já resultaram em mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
"Chegam, a maioria deles desidratados, alguns doentes, alguns a passar mal e muita gente sem documentos. Chegam numa situação muito difícil, física e psicologicamente. Chegam quase sem nada."
A situação não passou despercebida ao Papa Francisco, que manifestou a sua preocupação e solidariedade para com as populações afetadas. Doou este mês 100 mil euros que serão destinados para a construção de dois postos de saúde.
Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo extremista Estado Islâmico desde 2019.
Acabar com o terrorismo e a crise humanitária em Moçambique é um dos grandes desafios de 2021. A nível mundial, fazer chegar às pessoas a vacina contra a Covid-19, a doença que marcou para sempre o ano de 2020.
Confira abaixo 15 momentos que marcaram o ano: