34% de mulheres na Guiné-Bissau favoráveis à mutilação
23 de julho de 2013Apesar do relatório divulgado pela UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, apontar um declinio da prática da mutilação genital feminina, o risco deste fenómeno parece permanecer inalterado.
A UNICEF diz que 30 milhões de crianças estão sujeitas a serem submetidas a esta prática na próxima década e revela que se contabilizaram mais de 125 milhões de mulheres sobreviventes à prática da Mutilação Genital Feminina.
Segundo a UNICEF, nos 29 países analisados - todos em África e no Médio Oriente - metade dos casos registados acontecem em raparigas antes de atingirem os 5 anos de idade.
Em países como a Somália, Guiné-Conacri ou Egito é uma prática quase universal, com taxas superiores a 90% da população feminina a passar pelo processo. Já em Estados como os Camarões ou o Uganda a prática afeta apenas 1% das mulheres.
No geral a tendência baixa
Em geral, o apoio à prática está a baixar, e a vice-diretora executiva das Nações Unidas, Geeta Rao Gupta, sublinha a importância da problemática para a organização: "É central para o nosso mandato porque enfraquece os direitos das mulheres; contribui para as desigualdades de género; controla as mulheres e as raparigas sexualmente, que é uma caracteristica essencial das desiguladades de género e é uma violação contra as mulheres e raparigas."
Estas são questões que a UNICEF dá grande prioridade, de acordo com a vice-diretora executiva, "porque a Convenção dos Direitos das Crianças afirma que este género de práticas têm que acabar", explica.
O relatorio da UNICEF mostra que há um número significativo de homens e rapazes que condenam a prática e que no Chade, na Guiné Conacri e na Serra Leoa existem mesmo, mais homens que mulheres contra a mutilação. São dados reveladores, que não ficam por aqui.
Claudia Cappa, especialista em Estatísticas e Monotorização da UNICEF, fala da profundidade do estudo: "Este relatório é importante porque ilustra pela primeira vez, como esta prática é difundida, também as atitudes em torno desta prática e a razão porque é praticada em crianças."
É também o primeiro relatório que inclui dados sobre países como o Iraque, e segundo Claudia Cappa "é o país em que não temos representante nacional para a mutilação genital feminina."
Guiné-Bissau contraria tendência
Contudo há países que não alteram as suas práticas. A Guiné-Bissau, é um caso que inverte a tendência de décrescimo que se vive nos restantes Estados analisados.
No caso particular do país, 50% das mulheres são mutiladas, e em 2010 contabilizou-se 34% das mulheres guineenses a favor da prática.
De acordo com o relatório, as mulheres que foram submetidas, são tendencialmente mais favoráveis à continuação.
Abubacar Sultan, representante da UNICEF na Guiné-Bissau, diz que é uma questão cultural: "Existem fatores extremamente fortes e fortemente enraizados tanto no indivíduo como na comunidade, no seio dos grupos que a praticam. Essa questão da mutilação genital feminina é suportada por um conjunto de crenças, um conjunto de práticas e é sobretudo uma convenção social."
O representante da UNICEF no país argumenta que é importante entender a decisão como uma convenção social, para que depois possamos perceber que não pode ser mudada de um dia para o outro: "Ela exige um apoio continuo às mulheres de forma a que o abandono possa ser num processo natural o que normalmente caracteriza o abandono de convenções sociais."
A luta contra esta prática acontece a duas velocidades. Por um lado, há um crescente "número de compromissos públicos" e por outro os valores "reais de abandono" da Mutilação Genital Feminina, por parte das comunidades de diversos países, que parecem não acompanhar estes apelos.
Francesca Moneti, especialista da proteção Infantil da UNICEF, acredita que intimamente muitos são contra a mutilação.
A clara problemática que o relatório denuncia é que tem que se manter visivel que as pessoas na sua esfera pessoal, não apoiam a prática, considera Moneti e argumenta: "Então, eu posso não apoiá-la, e tu podes não apoiá-la mas eu vejo-te a cortares a tua filha, e tu vês-me a cortar a minha filha. E tu pensas que eu apoio a prática porque vês o que eu faço, mas não conversamos sobre isso..."
A UNICEF apela para um maior diálogo onde as diversas vozes se tornem mais claras para gerar debate e reflexão.