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PolíticaSão Tomé e Príncipe

Acordo militar entre Rússia e STP preocupa países europeus

nn | com agências
10 de maio de 2024

Chefe da diplomacia portuguesa diz estar preocupado com relatos de que São Tomé e Príncipe assinou um acordo de cooperação militar com a Rússia, o mais recente de uma série entre Moscovo e várias nações africanas.

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Carlos Vila Nova, Presidente de São Tomé e Príncipe, e Zacarias da Costa, secretário-geral da CPLP
Zacarias da Costa (à direita), secretário executivo da CPLP, defende a soberania de São Tomé e Príncipe e do seu Presidente Carlos Vila Nova (à esquerda) no que toca aos acordos bilaterais que assina, descartando a existência de "dramas" na aproximação a MoscovoFoto: João Carlos/DW

O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal, Paulo Rangel, mostrou numa entrevista na quinta-feira (09.05) à estação de televisão SIC Notícias a preocupação de Lisboa e dos congéneres europeus face à aproximação de São Tomé e Príncipe à Rússia Foi divulgada esta semana a assinatura de um acordo técnico-militar entre os dois países que prevê formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago.

"Assim que tomámos conhecimento deste acordo, iniciámos consultas com as autoridades de São Tomé", disse o MNE português. "Primeiro Portugal, e outros países europeus, expressaram surpresa, apreensão e perplexidade sobre este acordo", acrescentou, reconhecendo que São Tomé é um Estado "independente e soberano".

Mas "dado estarmos numa situação internacional em que a federação russa é responsável por uma guerra de agressão que envolve o continente europeu, manifestámos evidentemente a nossa grande preocupação", frisou.

Paulo Rangel no Parlamento Europeu em Estrasburgo
Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros de PortugalFoto: Jannis Papadimitriou/DW

Esta sexta-feira, o primeiro-ministro são-tomense salientou que o seu país é independente e soberano e que ninguém vai ditar como deve relacionar-se com a Rússia, assegurando que o acordo militar assinado está em vigor e vai ser efetivado.

"Nós somos independentes, soberanos, ninguém vai nos ditar como devemos nos relacionar com a Rússia", declarou Patrice Trovoada, a propósito da polémica gerada.

"Não há dramas"

Na quinta-feira, o secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) também afirmou que não havia dramas quanto ao acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia, sublinhando que é preciso respeitar a soberania dos Estados.

A posição do timorense Zacarias da Costa foi proferida na capital de São Tomé e Príncipe após um encontro com o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, e depois de uma reunião alargada com membros do Executivo.

"A CPLP não sou eu, a CPLP são os nove países que formam essa comunidade. Tendo em conta que nós respeitamos as decisões soberanas de cada Governo, naturalmente temos de respeitar as decisões soberanas das autoridades de São Tomé e Príncipe", sublinhou Zacarias da Costa.

Questionado sobre a sua visão sobre o acordo, o secretário executivo da CPLP considerou que "não há dramas".

"Há questões que são transversais a todos os países, a questão do terrorismo, da droga, temos de encontrar soluções para poder lidar com esses desafios que são comuns, portanto eu não vejo nenhum problema", vincou o secretário executivo da CPLP.

Zacarias da Costa, secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)
Zacarias da Costa, secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)Foto: J. Carlos/DW

Zacarias da Costa defendeu ainda que se deve "olhar mais para o futuro dentro da CPLP do que olhar sempre para o passado".

Acordo "por tempo indeterminado"

São Tomé e Príncipe assinou o acordo técnico e militar com a Rússia "por tempo indeterminado".

Segundo a agência de notícias oficial russa Sputnik, o acordo foi assinado em São Petersburgo em 24 de abril e começou a ser aplicado em 5 de maio. A também russa TASS tinha noticiado uma reunião, nesse dia, em Moscovo, do responsável do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolay Patrushev, com o ministro da Defesa de São Tomé e Príncipe, Jorge Amado, para discutir "questões de interesse mútuo".

Ainda de acordo com a imprensa russa, as duas partes acordaram cooperar nos domínios da formação conjunta de tropas, recrutamento de forças armadas, utilização de armas e equipamento militar, logística, intercâmbio de experiências e informações no quadro da luta contra a ideologia do extremismo e do terrorismo internacional, educação e formação de pessoal. A oposição são-tomense criticou "o secretismo" com que o Executivo assinou o acordo.

Vários países africanos, incluindo o Mali, Níger e Burkina Faso, cancelaram recentemente acordos de defesa com França e firmaram pactos com Moscovo.

Guiné-Bissau como "aliado permanente"

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, garantiu também lealdade ao seu homólogo russo, Vladimir Putin. "A Rússia pode contar com a Guiné-Bissau como um aliado permanente, isso não mudará nunca", afirmou na quinta-feira o chefe de Estado guineense.

Umaro Sissoco Embaló, Presidente da Guiné-Bissau, em Moscovo, na quinta-feira (09.05)
Umaro Sissoco Embaló, Presidente da Guiné-Bissau, em Moscovo, na quinta-feira (09.05)Foto: Alexei Maishev/TASS/dpa/picture alliance

Sissoco Embaló esteve na Rússia como convidado para assistir às comemorações do Dia da Vitória. As declarações de Embaló, numa conferência de imprensa com Putin, foram disponibilizadas pela Presidência guineense.

Umaro Sissoco Embaló agradeceu a Putin "todo o apoio" que a Guiné-Bissau recebeu da antiga União Soviética, durante a luta armada pela independência, e salientou que essa contribuição é mais visível nas Forças Armadas. "Na Guiné-Bissau mais de 70% dos nossos quadros militares foram formados na antiga URSS, para ver qual a ligação que há entre nós e a Rússia", declarou Embaló.

O Presidente guineense instou Vladimir Putin a visitar a Guiné-Bissau assim que fizer um périplo por África e apelou igualmente a que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, visite Bissau.

Cabo Verde em cimeira de paz promovida por Kiev

Em sentido contrário, Cabo Verde parece estreitar os laços com a Ucrânia. O país vai participar na cimeira sobre a fórmula da paz proposta por Kiev para a resolução do conflito com a Rússia, adiantou o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que decorrerá entre 15 e 16 de junho na Suíça.

"Cabo Verde foi um dos primeiros países africanos a confirmar a presença na Cimeira da Paz", frisou o chefe de Estado ucraniano. 

Zelensky agradeceu ao primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, pelo apoio à fórmula de paz de Kiev e pela "sua posição de princípio relativamente à agressão russa", o que mereceu uma reação de Correia e Silva na rede social X. 

Os dois governantes discutiram "os esforços necessários para encorajar o maior número possível de países do continente [africano] a participar na cimeira", vincou Zelensky. "A voz de África é importante quando se trata do apoio global a uma paz justa na Ucrânia", acrescentou.

Artigo atualizado às 21:17 (CET) de 10 de maio de 2024 acrescentando as declarações do primeiro-ministro são-tomense.