Agricultores moçambicanos adotam alternativa contra as pragas
1 de setembro de 2014Às primeiras horas da manhã, o agricultor Pedro Maulana regressa de mais uma jornada de pulverização dos cajueiros, para combater o oídio, uma doença que afeta esta planta.
A castanha de caju é uma das culturas mais produzidas na província moçambicana de Cabo Delgado, no norte do país. A sua exploração contribui não só para a economia global como também ajuda os produtores a ter uma fonte de rendimento razoável.
Até agora, a produção do caju era garantida pela aplicação de pesticidas, para assim combater eventuais pragas agrícolas. No entanto, tanto produtores como vendedores locais enfrentam sérias dificuldades na utilização destes químicos, nomeadamente com o elevado preço dos mesmos.
Sem químicos, piores resultados
Pedro Maulana é proprietário de 14 hectares de terra arável e há 24 anos que se dedica à produção da castanha de caju em Cabo Delgado. O agricultor diz que é difícil obter uma boa produção sem recorrer aos pesticidas e admite que nas campanhas em que não os utilizou teve piores resultados.
“A recomendação é para fazer a pulverização três vezes [por cultivo]. Eu pulverizei uma vez, depois apareceram alguns focos [infecciosos]. Pulverizei uma segunda vez. Depois voltaram a aparecer. Se nós não pulverizássemos teríamos uma catástrofe total”, assevera o produtor de 45 anos.
O uso dos químicos na pulverização dos cajueiros para além de combater as doenças e pragas, visa fundamentalmente, estimular o aumento da produção.
Para este agricultor, uma alternativa no combate a estas epidemias agrícolas seria a utilização de mudas resistentes, ou seja, plantas desenvolvidas tendo em conta as condições agrícolas e que são capazes de resistir a doenças e pragas devido à aplicação de tratamentos preventivos.
“O método da pulverização química precisa de uma certa economia. Tem de se comprar gasolina, óleo para misturar com a gasolina, e o produtor tem de gastar 30 meticais em cada cajueiro para fazer a pulverização”, relata Pedro Maulana.
“Este método de muda resistentes, que vai agora começar, é uma grande mais-valia”, garante Pedro Maulana. “Assim o produtor não vai gastar nada, é só esperar a produção crescer”, explica o agricultor, embora lamente que o processo seja mais lento.
Campanha anti pesticidas
O coordenador da união provincial de camponeses de Cabo Delgado Assane Juanga defende o uso dos conhecimentos locais para combater as pragas e doenças, em detrimento do uso de pesticidas, que são prejudicais ao meio ambiente.
“Procuramos a todo o custo proteger o meio ambiente. Nas nossas campanhas desencorajamos o uso de químicos. Devem-se encontrar mecanismos, a partir das próprias práticas locais, para se combater as doenças que afetam as nossas culturas, não só no que toca ao caju, mas também em relação a outras culturas”, adianta.
Através de boas práticas agrícolas, segundo Assane Juanga, é possível travar os impactos negativos no meio ambiente, provocado pelo uso excessivo de produtos químicos na agricultura.
“Nós dependemos realmente desses produtos. Se esses produtos aparecem tardiamente, ficamos prejudicados. A nossa ideia foi pensar no que podíamos produzir com o nosso conhecimento para poder salvar as nossas culturas”, esclarece.
No início da década 70, a produção da castanha de caju em Moçambique alcançou níveis elevados, tornando Moçambique o maior produtor mundial deste fruto. No entanto, por causa das pragas de oídio, que afetou os cajueiros, a produção tem vindo a diminuir.