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Al-Sisi na presidência da União Africana gera preocupação

Madalena Sampaio | DW (Deutsche Welle) | Reuters | EFE
11 de fevereiro de 2019

A União Africana tem um novo presidente. Mas a eleição do egípcio Abdel Fattah al-Sisi tem sido criticada por organizações internacionais, que se dizem preocupadas com eventuais consequências para os direitos humanos.

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UA: Presidência de Al-Sisi é vista de lado por defensores dos direitos humanosFoto: REUTERS

Abdel Fattah al-Sisi, Presidente do Egito, é desde domingo (10.02) o novo líder da União Africana (UA), que esteve dois dias reunida em Addis Abeba, capital da Etiópia, para a sua 32.ª cimeira.

A luta contra o terrorismo e o extremismo, que Al-Sisi define como "as maiores ameaças do continente africano", será um dos cavalos de batalha do sucessor do Presidente ruandês Paul Kagame.

"Apesar dos esforços incansáveis para conter os conflitos no nosso continente e de um plano ambicioso para silenciar as armas até 2020, todos sabemos que é ainda longo o caminho que temos pela frente para acabar com todos os combates em África", disse no dia em que assumiu o cargo.

"Desprezo pelos direitos humanos"

Mas a nova presidência da UA tem gerado críticas e despertado receios entre os defensores dos direitos humanos. A Amnistia Internacional lembra que, como Presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi tem demonstrado um "desprezo chocante" pelos direitos humanos.

A organização acusa o Egito de orquestrar um "ataque político contínuo" contra a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, órgão que monitoriza o cumprimento de direitos em África.

Al-Sisi na presidência da União Africana gera preocupação

"Os Estados-membros devem assegurar que o Egito defende os valores e princípios da União Africana, incluindo o respeito pelos direitos humanos e dos povos", pediu a diretora da Amnistia Internacional para o Norte da África, Najia Bounaim.

E as críticas não ficam por aqui. As organizações de direitos humanos também denunciam regularmente casos de violação da liberdade de expressão e de manifestação sob o regime de Al-Sisi. Jornalistas incómodos também continuam a ser perseguidos pelo Governo.

Coletes amarelos proibidos no Egito

Recentemente, o Executivo até proibiu a venda de coletes de segurança amarelos - como os que são usados em França, desde novembro, para contestar o aumento do preço dos combustíveis. Só empresas certificadas pelo Estado estão autorizadas a recebê-los.

Al-Sisi tem medo de ver "coletes amarelos" espalhados pelas ruas do Cairo. "Al-Sisi não deixa espaço de manobra, ele tenta ter tudo sob controlo. Até o mais pequeno sinal de protesto é imediatamente combatido", lembra a ativista egípcia Aida Seif al-Dawla, que não ficou surpreendida com as "medidas preventivas" do Presidente. "Ele prende pessoas para prevenir ações que possam vir a acontecer", explica.

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Manifestações dos "coletes amarelos" em França duram há 13 semanasFoto: imago/IP3press

Abdel Fattah al-Sisi foi eleito Presidente pela primeira vez em 2014 e reeleito em 2018. Nas últimas eleições, os principais adversários de Al-Sisi foram presos ou pressionados a desistir das suas campanhas.

Mudanças para se perpetuar no poder

Os egípcios sabem muito pouco da vida privada do Presidente de 64 anos, de origem humilde, que faz questão de se manter afastado dos holofotes mediáticos. Al-Sisi prefere descrever-se como alguém que "faz mais e fala menos". E cultiva essa imagem. "Eu não sou um político que só fala. Nunca fiz isso. Estamos a construir o país, mas não é com palavreado!", disse em tempos.

Mas para ter tempo suficiente para implementar as suas reformas, Abdel Fattah al-Sisi pode bem vir a perpetuar-se no poder. O Parlamento egípcio prepara-se para votar uma proposta de alteração à Constituição, que permitirá ao Presidente permanecer no cargo até 2034, muito além do atual limite de dois mandatos.

O deputado Gamal Al-Sherif, da coligação parlamentar da oposição 25-30, já alertou para os riscos. "A transferência de poder é um princípio moral que foi criado pelas revoluções de 25 de janeiro e 30 de junho. É inadmissível adulterar esse princípio moral", critica o deputado.

Caso contrário, sublinha, "ficaremos numa posição que deixará o povo egípcio sem moral ou sem preservação dos princípios, com os quais todos concordamos nesta Constituição. Este contrato social "é obrigatório tanto para o governante como para aqueles que são governados", lembra a coligação da oposição.