Presidente do Egito nega violações dos direitos humanos
19 de novembro de 2016"Certas medidas de segurança tomadas em circunstâncias extraordinárias não são tomadas apenas aqui no Egito, mas sim em toda a região" do Médio Oriente, justificou o Presidente Abdel Fattah al-Sisi, que rejeita as acusações de estar a perseguir organizações civis de direitos humanos.
"Estamos muito comprometidos em encontrar um equilíbrio entre as medidas de segurança e o respeito dos direitos humanos", sublinhou.
Na qualidade de chefe das Forças Armadas egípcias, Al-Sisi protagonizou o golpe militar que depôs o Presidente islamita Mohamed Morsi, em julho de 2013. Venceu depois as eleições presidenciais de maio de 2014, boicotadas pela oposição, nomeadamente pela Irmandade Muçulmana, que apoiava Morsi.
Entretanto, o regime de al-Sisi proibiu a Irmandade Muçulmana, que considera uma organização terrorista, e é acusado de perseguir e condenar os seus membros, assim como outros opositores, e de violar os direitos humanos, segundo organizações não-governamentais e peritos internacionais.
Ainda este sábado (19.11), o presidente do sindicato da imprensa egípcia Yehya Kallache e dois outros membros foram condenados a dois anos de prisão cada, por albergarem dois repórteres "procurados pela justiça", segundo autoridade judicial. A detenção daqueles repórteres, numa operação policial ao sindicato, assim como dos três membros daquela organização deu origem a manifestações de jornalistas, denunciando o "declínio" da liberdade de imprensa desde a chegada ao poder de al-Sisi.
Mas o Presidente egípcio nega essas acusações e diz até o contrário: "Queremos que os nossos parceiros compreendam que estamos a trabalhar para promover os direitos humanos. É muito importante que os egípcios usufruam de educação, cuidados médicos, habitação, oportunidades de emprego e uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida", tudo questões que "são também direitos humanos".
Nos protestos contra Mohamed Morsi, em junho e julho de 2013, saíram à rua 30 milhões de pessoas. Na altura, havia uma "ameaça concreta de uma grande guerra civil”, segundo al-Sisi.
O Egito tem 92 milhões de pessoas, "uma população que supera a Síria, Iraque e a Líbia combinadas". E "se a guerra civil tivesse ocorrido e as coisas tivessem ficado fora de controlo", "como teria sido a emigração ilegal? Quantas vítimas iriam sofrer por causa disto ou por causa das consequências de uma guerra civil para a região e possivelmente para todo o mundo?", vaticina o chefe de Estado egípcio.
Amnistia Internacional apela ao diálogo com Presidente egípcio
Abdel Fattah al-Sisi estará em Portugal na segunda e terça-feira (21 e 22.11) para uma visita oficial, a primeira em 24 anos. Será recebido pelo seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo primeiro-ministro, António Costa.
Para a Amnistia Internacional a visita de al-Sisi é "uma oportunidade de diálogo e apelo" para que as autoridades egípcias se empenhem mais no respeito pelos direitos humanos.
O diretor-executivo da secção portuguesa da organização de defesa dos direitos humanos, Pedro Neto, alerta para a realidade "alarmante" no Egito, nomeadamente para a "falta de liberdade de expressão, repressão à sociedade civil, perseguição e intimidação, desaparecimentos forçados e maus-tratos na prisão".
Em causa está a lei antiterrorismo de 2015, segundo a qual, "por todas as razões, todos são suspeitos e todos podem ser presos", acrescenta Pedro Neto.
O diretor-executivo da Amnitia Internacional em Portugal apelou às autoridades egípcias para que "revertam o caminho" e apontou como um exemplo positivo a anulação, na semana passada, da condenação à pena de morte do antigo Presidente islamita Mohamed Morsi, por um tribunal de recurso.
Uma delegação da Amnistia Internacional foi recebida no Ministério dos Negócios Estrangeiros português, na sexta-feira (18.11), numa reunião destinada a transmitir as preocupações da organização sobre a situação no Egito.