Alemanha e Tanzânia debatem atrocidades da era colonial
22 de março de 2023Quando tomou posse há dois anos, a ministra da Cultura da Alemanha, Claudia Roth, declarou que a aproximação à história colonial iria ser uma prioridade para o governo.
Há anos que Berlim negoceia com a Namíbia uma possível compensação pela injustiça colonial. No ano passado, o governo alemão chegou também a acordo com a Nigéria sobre a repatriação dos chamados Bronzes do Benim.
Agora as atenções estão a virar-se para a Tanzânia, que também fazia parte da ex-colónia alemã da África Oriental.
Em cima da mesa está a devolução de restos humanos e bens culturais roubados da Tanzânia na era colonial. O que, aos olhos da ministra de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Katja Keul, poderá ser um primeiro passo neste longo caminho de responsabilização que a Alemanha tem pela frente.
"O que aconteceu não é suficientemente conhecido, tanto na Tanzânia como na Alemanha, e isso é importante, porque é claro que foram cometidos crimes graves", admitiu a governante.
Restituição de crânios roubados
O mesmo diz Hermann Parzinger, presidente da Fundação do Património Cultural Prussiano, que assumiu, em 2011, a grande coleção de crânios humanos roubados da Tanzânia para investigação científica na Alemanha.
"Foram saqueados de cemitérios de aldeias no final do século XIX e início do século XX, com o intuito de realizar investigações antropológicas aqui na Alemanha. Trata-se de destruição grave, de roubo de sepulturas, algo que seria punido aqui na Alemanha, tanto agora, como na altura", sublinha.
A Tanzânia tem estado a pressionar cada vez mais o governo alemão para assumir a responsabilidade pelos crimes de guerra cometidos durante o período colonial.
O embaixador tanzaniano em Berlim, Abdallah Possi, apelou, no início de 2020, à negociação de indemnizações.
"É o momento certo para reconciliar as pessoas e construir um futuro comum", disse em entrevista à DW o historiador tanzaniano Philemon Mtoi, que defende a restituição de bens ao país.
Compensação por atrocidades
Entretanto, foi criada uma comissão especial entre os dois países. "Estão em curso discussões entre o nosso governo e a Embaixada da Alemanha na Tanzânia sobre a forma de repatriar estes restos mortais", confirmou à DW Emmanuel Lucas Temu, diretor dos Assuntos Culturais do Ministério da Cultura, Artes e Desporto da Tanzânia.
"Também serão avaliadas por esta comissão as questões relacionadas com a compensação por atrocidades cometidas durante o período colonial. Uma vez finalizadas e apresentadas as propostas, o governo tomará decisões em conformidade", revelou.
Para o historiador Philemon Mtoi, no entanto, o principal objetivo não devem ser as reparações, uma vez que a história não pode ser compensada com ganhos materiais, mas sim restaurada e honrada.
De acordo com a Fundação do Património Cultural Prussiano em Berlim, a Alemanha tem em sua posse cerca de 1200 crânios humanos da sua ex-colónia - 250 proveem da Tanzânia, 900 do Ruanda e 35 do Quénia.
A Fundação e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha esperam que os restos mortais sejam devolvidos à Tanzânia ou enterrados num local apropriado.