Trabalhadores independentes tentam sobreviver à crise
3 de abril de 2020Os clientes deveriam estar na fila em frente à carrinha de comida de Jaspa Anchang. Mas o mercado da Winterfeldplatz, em Berlim, está vazio apesar do céu azul e do sol. Quase ninguém está interessado no inhame ou no frango de churrasco que Anchang oferece.
"A maioria dos meus clientes vem dos escritórios nas proximidades. Mas todos estão fechados. As pessoas trabalham de casa. Quase não há clientes", diz o camaronês em entrevista à DW.
É por isso que alguns comerciantes nem abriram as bancas. Mas isso está fora de questão para Anchang. O camaronês trabalha todos os dias no mercado e fica à espera de clientes. E a pressão está a aumentar.
"Eu tenho de pagar as contas. Talvez tenha de desistir dos meus negócios. Mas, na situação atual, não há vagas para me candidatar. E eu não quero depender da ajuda do Governo", diz.
Lojas africanas em risco
Muitos outros trabalhadores africanos que trabalham por conta própria na Alemanha estão numa situação semelhante. Os clientes não aparecem por medo do novo coronavírus. As barbearias, por exemplo, tiveram de fechar as portas devido ao risco de infeção e os restaurantes só podem fazer comida para entrega.
Segundo a Câmara de Comércio e Indústria Alemã, mais de 90% de todas as empresas na Alemanha já estão a sentir os efeitos negativos das medidas de restrição. Uma em cada cinco empresas teme a falência.
Muitos restaurantes africanos, cabeleireiros e lojas africanas são duramente atingidos. "Como posso pagar o aluguer e os salários se isto continuar?", reclama o proprietário de um restaurante africano que não quis ser identificado. "Nesta situação, ainda não estou a conseguir pensar com clareza."
Cursos online
Ayo Nelson-Homiah, nascido na Serra Leoa, continua a olhar para a situação com um certo otimismo, apesar de a crise gerada pela pandemia da Covid-19 ter virado a sua vida do avesso. "Na verdade, deveria ter voltado de Paris hoje", diz o músico à DW.
Nelson-Homiah cresceu na Gâmbia e vive de workshops de música africana. Não só em Berlim, mas também em toda a Europa, o músico ensina as crianças nas escolas e jardins de infância a tocar tambores africanos e balafon. "Agora, todas as aulas foram canceladas, porque as escolas estão fechadas. A Covid-19 paralisou tudo".
No entanto, desistir não é uma opção para Nelson-Homiah. O músico de 61 anos está a dar um curso online para alunos que acompanham tudo de casa. Afinal, é preciso ganhar dinheiro com a crise: "Eu vou sobreviver por mais algumas semanas", diz.
A certo momento, contudo, as reservas de muitos trabalhadores independentes poderão esgotar-se.
"Feliz em viver aqui"
A vida de Kalonji Tshabas também mudou bastante por causa da pandemia. O congolês estabeleceu-se com os seus pais na Alemanha há 40 anos. Agora, dirige o nji Music Box, um espaço com salas de ensaio e estúdios de gravação para músicos numa das melhores áreas da capital alemã.
Se não fosse a crise gerada pelo novo coronavírus, o local estaria com bastante movimento. Os músicos estariam a praticar nas pequenas salas de ensaio e a gravar as suas músicas nos estúdios de gravação; as crianças estariam a aprender a tocar guitarra ou bateria.
Em vez disso, o estúdio está fechado devido ao risco de contaminação. Tshabas tenta manter o negócio trabalhando a partir de casa. "No começo, todo os dias pareciam ser domingo", disse em entrevista à DW. "É claro que temos custos fixos com as salas de ensaio. Se os clientes não comparecem, temos que atravessar esse tempo de alguma forma."
Kalonji Tshabas espera receber ajuda do Governo alemão. "As oportunidades que nos são disponibilizadas são excelentes. Eu conheço muitos artistas de África e só podem sentir-se felizes em morarem aqui", afirma.
Ajuda do Governo
Jaspa Anchang também está a esperar por ajuda estatal para que sua carrinha de comida possa sobreviver à crise. Pequenas e médias empresas em Berlim podem receber até 15 mil euros dos Governos federal e estadual.
A corrida aos fundos é enorme, portanto, grande parte dos pedidos de ajuda ainda não foi processada. Alguns empresários têm medo de que não haja dinheiro suficiente para todos.
"Com a ajuda do Estado, poderia manter o meu negócio. Eu espero que sim, porque quero poder continuar a ganhar o pão de cada dia mesmo depois da crise", sublinha.
Este artigo contou com a colaboração de Harrison Mwilima.