Amnistia saúda abolição da pena de morte na Guiné Equatorial
20 de setembro de 2022O vice-Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Obiang Mangue, anunciou a abolição da pena de morte no país, após muitos anos de pressão internacional.
"Histórico e memorável para o nosso país na gestão do respeito dos Direitos Humanos", escreveu Teodorin Obiang, como é conhecido o vice-Presidente, na rede social Twitter.
As Nações Unidas saudaram a mudança no Código Penal. Nada Al-Nashif, Alta Comissária interina das Nações Unidas para os Direitos Humanos, lembrou que "a pena de morte é incompatível com os princípios fundamentais dos direitos humanos e da dignidade".
A Amnistia Internacional também aplaude a decisão. Refere, no entanto, que ainda "há muito trabalho a fazer" na Guiné Equatorial no capítulo dos direitos humanos. Pedro Neto, diretor executivo da organização em Portugal, alerta também que é necessário averiguar se a pena de morte já foi abolida do Código Militar equato-guineense.
DW África: Como é que a Amnistia vê esta tomada de decisão, depois de mais de 8 anos de pressão, desde da admissão da Guiné Equatorial, no seio da CPLP.
Pedro Neto (PN): Há vários anos que andamos a fazer esta pressão. Não era preciso muito para abolir a pena de morte em termos processuais, e este trabalho parece finalmente ter sido feito. Pelo menos, em termos documentais podemos confirmar que a pena de morte foi retirada do Código Penal da Guiné equatorial. Temos que continuar atentos. Os Estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que acolheram a Guiné Equatorial na organização, devem estar vigilantes, monitorizar e exigir estes avanços a este país.
Agora, é preciso perceber se vai ser abolida do Código Militar, que é também uma parte importante da Justiça naquele país. Se não for abolida do Código Militar, pode abrir caminhos para que civis sejam julgados por essa via.
DW África: Então, a Amnistia internacional vai continuar a acompanhar este processo, para garantir a sua efetividade?
PN: O que desejamos é que a pena de morte seja abolida de facto e que não haja lugar a este crime disfarçado de justiça. Esta é uma questão que deve ser observada e monitorizada. Tem que haver sinais sobre isso, não só no sistema judicial, mas também na prática, [acabando com] as detenções arbitrárias ou acusações absurdas com o objetivo de silenciar a dissidência.
DW África: A Guiné Equatorial ainda precisa de fazer mais no capítulo dos direitos humanos?
PN: Há muito trabalho a fazer. Desde logo, [é preciso parar com] as detenções arbitrárias, que ainda são uma arma de intimidação massiva do regime vigente. Também é preciso trabalhar numa Justiça que seja independente do poder político... Ainda há muitos passos para o cumprimento pleno dos direitos humanos e da democracia naquele país.