Ana Dias Lourenço, o braço direito do Presidente angolano
31 de maio de 2018Ana Dias Lourenço é uma mulher influente. No ano passado, quando chegou ao palácio presidencial ao lado do marido, o chefe de Estado angolano João Lourenço, já tinha um currículo invejável.
A primeira-dama, de 61 anos de idade, estudou economia, especializou-se em gestão de projetos e de políticas macroeconómicas e ocupou cargos importantes em instituições dentro e fora de Angola, incluindo no Banco Mundial.
David Kissadila, especialista em políticas públicas, considera que o poder de influência de Ana Dias Lourenço junto do marido é grande. "Na sua condição de primeira-dama, vai influenciar de facto na formulação das estratégias e na atuação do Presidente, na sua condição como chefe do Executivo", diz.
Experiência política vasta
A experiência política de Ana Dias Lourenço é vasta. Começou nas fileiras da juventude do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e chegou a ser detida por suposta ligação a Nito Alves, acusado de uma tentativa de golpe de Estado a 27 de Maio de 1977. No entanto, fez carreira no seio do partido. Em 1999, chegou ao cargo de ministra do planeamento, no Governo de José Eduardo dos Santos.
Melá Milo, juíza do Tribunal Constitucional de Angola e antiga colega de Ana Dias Lourenço no coro universitário, disse ao jornal português Expresso que a primeira-dama é uma mulher "perspicaz", com grande "sentido de observação". O analista político Osvaldo Mboco concorda Anda dias Lourenço é uma mulher inteligente e experiente.
"É alguém que tem uma certa experiência política ao nível do próprio aparelho do Estado", explica Mboco.
Ana Dias Lourenço foi eleita deputada pela lista do MPLA nas eleições de 23 de agosto de 2017, mas, em outubro do mesmo ano, suspendeu o mandato e criou o gabinete da primeira-dama, onde trabalha com projetos de âmbito social. Mas o seu trabalho não fica por ali.
"A suspensão do mandato resulta muito do facto dos projetos que tem de cuidar e também tem a ver com o auxílio e consultoria ao próprio Presidente da República sobre dossiers que ela conhece", acrescentou Osvaldo Mboco. Ou seja, Ana Dias Lourenço parece atuar como "braço-direito" do chefe de Estado angolano - em assuntos internos e externos.
Contra a "tendência dominante"
Em janeiro, por exemplo, a primeira-dama reuniu-se em Lisboa com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. O que se falou não foi divulgado, mas o encontro ocorreu numa fase em que as relações entre os dois países estavam ensombradas pelo caso do ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, acusado em Portugal de corrupção.
"Isso dá-nos a entender que levou uma mensagem clara sobre a visão de Angola à volta deste caso, que criou um ambiente de crispação entre estes dois Estados", defende o analista Mboco.
Ana Dias Lourenço disse, no início de maio, numa conferência em Cabo Verde que as mulheres são a "alavanca de todas as sociedades" e lamentou que "a tendência dominante" tenha sido "sempre de tentar reduzir a capacidade de as mulheres assumirem cargos de chefia." A primeira-dama apelou a que se contrarie essa tendência.