Angola: Braço de ferro na Rádio Despertar
30 de outubro de 2020Em declarações à DW África, esta sexta-feira (30.10) à tarde, o núcleo sindical da Rádio Despertar revelou que oito colaboradores foram suspensos e estão impedidos de entrar nas instalações da emissora na sequência de protestos pelo pagamento de três meses de salários em atraso.
Os trabalhadores estavam a organizar - para a próxima semana - uma marcha até à sede da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), onde tencionavam apresentar as suas reivindicações ao presidente do partido, Adalberto Costa Júnior.
De acordo com o secretário sindical da Rádio Despertar, João Walter dos Santos, a comunicação da suspensão foi feita de forma verbal pelo diretor da rádio, Emanuel Malaquias.
Os trabalhadores pedem à Rádio Despertar melhores condições de trabalho e o pagamento de três meses de salário em atraso.
"Isto é uma situação recorrente, dizem sempre que não há dinheiro, que o partido depende do Orçamento Geral do Estado, mas a rádio também arrecada dinheiro", afirma João Walter dos Santos em entrevista à DW África.
O sindicalista acusa a direção de "arrogância", alegadamente por não conseguir "negociar com os trabalhadores nem resolver os problemas da rádio".
"Muitos colegas estão a passar fome"
Segundo Walter dos Santos, muitos funcionários estão a ter bastantes dificuldades para honrar os compromissos familiares e sociais.
"Está difícil! Muitos colegas estão a passar fome em casa e há males que vêm por bem – se não tivéssemos a Covid-19, muitos de nós não estariam em condições de pagar as propinas dos nossos educandos."
Walter dos Santos diz que a direção da UNITA tem conhecimento destes problemas, mas recusa-se a agir: "Nós achamos que o próprio presidente do partido não está interessado em resolver a nossa situação".
UNITA diz que há diálogo
A DW África ainda não conseguiu obter uma reação da Rádio Despertar ou da UNITA a propósito da suspensão de colaboradores, denunciada esta tarde pelo núcleo sindical. No entanto, antes da revelação, Emanuel Bianco, secretário nacional adjunto de comunicação e marketing da UNITA, garantiu à DW África que a emissora não está de costas voltadas para os trabalhadores e há interesse em resolver a situação salarial.
Sem querer gravar entrevista, Bianco afirmou apenas que há contactos com a direção do sindicato da Rádio Despertar e que o dinheiro para o pagamento dos salários já terá sido desbloqueado. Quanto à intenção dos funcionários marcharem até à sede da UNITA, o responsável não vê motivos para que tal aconteça.
Porém, os trabalhadores prometem ir para a frente com a marcha: "Nós não vamos ficar parados. Hoje é sexta-feira, vamos passar o final de semana à fome, mas, para a semana, nós vamos partir de casa com os nossos filhos e vamos levar pratos e talheres até a presidência da UNITA, para que nos deem aquilo que nos é devido, porque nós trabalhamos", afirma João Walter dos Santos.