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Angola e Alemanha: Barcos-patrulha à vista?

6 de fevereiro de 2020

Chanceler alemã vai visitar Angola e "está criado o ambiente" para a venda de embarcações a Luanda, diz politólogo Orlando Ferraz. Relações bilaterais foram "resgatadas" graças a sinais de João Lourenço, aponta.

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Angela Merkel e João Lourenço durante a visita do Presidente angolano a Berlim, em 2018.Foto: Reuters/H. Hanschke

A chanceler alemã, Angela Merkel, chega a Angola, esta sexta-feira (07.02), naquela que será a sua segunda visita oficial ao país. Angela Merkel terá um encontro com o Presidente da República, João Lourenço e na parte da tarde inaugurará, com o chefe de Estado angolano, o Fórum Económico Alemão-Angolano.

Em entrevista à DW África, Orlando Ferraz, consultor sénior de uma organização não-governamental suíça ligada à emigração, com escritórios na Alemanha, diz acreditar que "está criado o ambiente positivo para que, finalmente, se concretize o negócio dos barcos-patrulha", principalmente porque, afirma, Angola não tem meios para combater a violação de embarcações estrangeiras na sua costa. Para o também membro da Associação Alemã de Política Internacional, é nos setores das infra-estruturas, telecomunicações, banca e educação que a Alemanha pode ser uma grande ajuda para Angola.

DW África: Como descreveria as relações atuais entre Angola e a Alemanha?

Orlando Ferraz (OF): Poderia classificar as relações como tendo sido resgatadas, uma vez que, num passado muito recente, à luz de factos que toda a gente conhece, o estilo bastante autoritário de governar do Presidente José Eduardo dos Santos dificultou imenso a cooperação bilateral. Havia procedimentos que deviam ser respeitados como um Estado de Direito democrático - qualidades que Angola não apresentava - e, naturalmente, por tão boas intenções que a chanceler tivesse, jamais poderia ter êxito. Mas eu acredito que o Presidente João Lourenço tem dado sinais muito claros quanto a esse aspeto e também no sentido de haver maior transparência na intervenção do Estado, principalmente a sua célebre luta contra a corrupção.

DW África: É sabido que a Alemanha tem dado nota positiva a algumas das iniciativas de João Lourenço no combate à corrupção... Na sua opinião, as revelações trazidas a público pelo "Luanda Leaks" e as consequências que daí saíram dão mais confiança às empresas alemães para investir em Angola?

OF: Acredito que agora, pelo menos, foram lançadas as bases para que este cenário mude, no sentido de inspirar maior confiança aos investidores, maior confiança nos agentes que estão envolvidos nessas relações de cooperação bilateral a nível empresarial.

Angola l Politologe Orlando Ferraz
Orlando Ferraz, politólogo angolano na AlemanhaFoto: privat

DW África: Também a Amnistia Internacional alertou, esta semana, que a questão dos direitos humanos em Angola deveria ser uma das prioridades da agenda de Angela Merkel. Acha que será um tema em debate?

OF: Eu não creio que seja um tema que a chanceler iria trazer expressamente na sua agenda de trabalho num encontro a este nível. Há canais próprios para se discutir esses aspectos, mas eu acredito que fora dos holofotes da imprensa a chanceler tocará nesse aspecto junto do Presidente João Lourenço. A questão do respeito pelos direitos humanos é fundamental, mas a cooperação bilateral também transcende muitas vezes certas fronteiras e aqui não é exceção.

DW África: Outro tema que Angola deverá voltar a colocar em cima da mesa durante esta visita de Angela Merkel é a compra dos barcos-patrulha. Em entrevista à DW, uma ONG alemã alertava, recentemente, para os risco destes barcos poderem ser utilizados para resolver outros conflitos internos do país, por exemplo, em Cabinda. São preocupações com fundamento na sua opinião? Acha que há alguma hipótese deste negócio avançar?

OF: Eu penso que há ambiente. O ambiente positivo está criado para que este negócio se concretize. Angola tem uma costa enorme e precisa, naturalmente, de meios para assegurá-la, porque, diariamente, há violações de embarcações estrangeiras que dizimam o pescado nacional. A fronteira marítima não tem meios para  fazer face a técnicas tão desenvolvidas que esses pescadores ilícitos utilizam. É um facto que Angola precisa desses meios. Agora, se esses meios podem ser utilizados de forma nociva é uma questão que também não é subjetiva mas existem, naturalmente, mecanismos para supervisionar o uso desses meios, porque eles serão vendidos para determinados fins e não para serem utilizados em combates e muito menos contra o seu próprio povo.

DW África: E em que áreas é que a Alemanha poderia ser útil a Angola?

OF: A infraestrutura é o grande calcanhar de Aquiles e sabemos que sem infraestrutura não há desenvolvimento nenhum. Telecomunicações é uma área muito importante e depois temos o setor financeiro, bancário, temos lá o Commerzbank e outros bancos europeus, é um factor muito importante, e, como sempre, a educação.

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