Angola e Moçambique no top 10 do crescimento económico
19 de maio de 2014
Produzido anualmente pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), pelo Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o relatório de 2014 defende que o continente africano pode transformar a sua economia e avançar o seu projecto de desenvolvimento, ao participar de forma mais eficaz na produção global de bens e serviços.
O foco do relatório são as cadeias de valor globais. “Muitas vezes, os produtos vêm de vários países e a composição do produto ocorre ainda noutro país. Isso quer dizer que a estrutura de produção mudou radicalmente a nível mundial”, comenta Jan Rieländer, chefe de unidade do Centro de Desenvolvimento da OCDE.
O que significa que “os países em desenvolvimento têm de pensar em novas estratégias sobre como se pode criar desenvolvimento económico nestes tempos de globalização, quando as estruturas de produção são tão novas”, acrescenta Jan Rieländer.
O documento “Perspectivas Económicas Africanas” mostra ainda que os países africanos têm resistido a choques internos e externos, como a crise dos preços alimentares, a crise económico-financeira global de 2008 e a Primavera Árabe. Mas “pelo menos vemos que estes choques já passaram” lembra Jan Rieländer.
Pelos que os países africanos estão prestes a atingir taxas de crescimento económico saudáveis. “Prevemos que o crescimento vai melhorar nos próximos anos e que iremos recuperar o nível que víamos em África antes de 2008. Com base nisso, prevemos que, em 2013, houve um crescimento económico de 3,9%, e partimos do princípio que em 2014 crescerá até 4,8% e em 2015 para 5,7%, recuperando assim as taxas de entre 5 a 6%”, avalia o chefe de unidade do Centro de Desenvolvimento da OCDE.
Nem tudo o que reluz é ouro em Angola
Segundo o relatório, Angola vai registar um aumento de 7,9% em 2014 e 8,8 % em 2015. A previsão baseia-se nos grandes investimentos em infra-estruturas públicas. Contudo, o relatório nota que os indicadores sociais não acompanharam o crescimento económico, uma vez que 36% da população vive abaixo da linha de pobreza e o desemprego está nos 26%.
A previsão coloca Angola na lista dos 10 países com melhores previsões. Um lista composta principalmente por países ricos em recursos naturais: “República Democrática do Congo, Chade, Nigéria, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa, Moçambique, mas também Ruanda e Etiópia”, enumera Jan Rieländer.
“São especialmente interessantes os casos do Ruanda e da Etiópia porque se tratam de dois países que não são ricos a nível de recursos naturais e que conseguem este crescimento através de reformas estruturais e de uma política económica relativamente boa”, salienta o chefe de unidade do Centro de Desenvolvimento da OCDE.
Mega-projetos empurram Moçambique para top 10
O outro PALOP que entra neste top 10 é Moçambique, que deverá ter um crescimento de 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 e 8,2% em 2015, depois de ter registado um aumento de 7% em 2013.
O crescimento é explicado pelo aumento da produção de carvão, pela implementação de grandes projetos de infraestruturas e pela expansão orçamental.
A OCDE destaca contudo a deterioração da situação política no país e adverte que a aposta em projetos de capital intensivo cria um número limitado de empregos.
Tal como acontece em muitos países do continente, o crescimento económico não é suficiente para acabar com os índices de pobreza.
“As taxas de pobreza em muitos países melhoraram um pouco mas não com a força necessária. E também concluímos que até houve alterações estruturais, mas a criação de postos de trabalho não foi tão alta como devia ter sido”, constata Jan Rieländer.
Crescimento ligeiro em São Tomé, Praia e Bissau
Quanto a São Tomé e Príncipe, a economia vai acelerar para 4,8% este ano e 5,6% no próximo, face aos 4,3% de 2013. O leve aumento deve-se principalmente a um moderado investimento estrangeiro directo. O país é altamente dependente de apoios ao desenvolvimento estrangeiros, o que o torna vulnerável ao abrandamento do crescimento económico global.
3,1% deverá ser o crescimento registado por Cabo Verde em 2014, e 3,3% em 2015. O crescimento tem abrandado no país desde 2012, devido principalmente à situação internacional. A economia cabo-verdiana depende da situação da Zona Euro, o principal parceiro comercial do país, e o aumento previsto apenas se vai concretizar se a diminuição de receitas turísticas não continuar.
Finalmente, para a Guiné-Bissau, a OCDE prevê um crescimento de 2,8% do PIB em 2014 e 2,6% em 2015, estando estes resultados altamente dependentes do ambiente sociopolítico e dos resultados das eleições.
Depois de ter registado um crescimento negativo em 2012, o país continua com valores positivos. Mas o relatório nota que este retorno ao crescimento esconde problemas estruturais graves, que pioraram com a interrupção da maior parte das reformas introduzidas antes do golpe.