Angola: Governo deverá falar sobre o caso IURD no Parlamento
24 de julho de 2020Depois de ter recebido uma carta do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sobre as divergências na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o chefe de Estado angolano, João Lourenço, orientou o seu Governo a discutir a situação com os deputados na Assembleia Nacional.
A ministra do Estado para Área Social, Carolina Cerqueira, disse esta semana à imprensa que a discórdia na Igreja de Edir Macedo foi analisada recentemente em Conselho de Ministros. O Executivo angolano formou uma comissão multissetorial que está a acompanhar o caso.
"Pensamos que é preciso muita tranquilidade para resolver esta questão". entende Cerqueira.
A DW apurou junto de fontes parlamentares que o Governo deverá ir ao Parlamento falar sobre o caso, no entanto ainda não foi avançado o dia exato do debate.
O porta-voz da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, bispo Alberto Miapia Segunda, diz confiar nas instituições do país: "Acreditamos que os nossos deputados vão discutir o problema e que posteriormente o problema vai ser resolvido."
As acusações dos bispos angolanos
Bispos e pastores angolanos e brasileiros na direção da IURD estão de costas viradas desde novembro de 2019, quando um grupo de mais de 300 pastores nacionais dissidentes subscreveu um manifesto acusando a gestão brasileira de cometer vários crimes, particularmente evasão fiscal, branqueamento de capitais, práticas racistas e outras que atentam contra os hábitos culturais de Angola, como obrigar os pastores a fazer vasectomia.
Em dezembro passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou que está em curso uma investigação relativa a essas denúncias, embora ainda não tenha revelado resultados.
IURD nega as acusações
À DW, o porta-voz da IURD em Angola, de nacionalidade angolana, diz que nenhum pastor é obrigado a fazer vasectomia.
"Como missionários, não paramos num só sítio, hoje estamos aqui e amanhã estamos noutros lugares. Por isso optamos por não ter filhos, outros têm e optaram não fazerem mais para estarmos disponíveis a servir a Deus", começa por esclarecer o porta-voz.
Por isso, o bispo Alberto Miapia entende que "é uma ideia infundada dizer que há uma imposição na questão da vasectomia, porque muitos deles que falam sobre o assunto têm filhos. A maioria deles tem filhos. Só a minoria deles é que não tem. Aqui em Angola temos mais de 125 filhos de pastores".
O bispo nega também as outras acusações dos dissidentes, nomeadamente sobre alegados crimes financeiros, sublinhando que a IURD tem uma gestão transparente. Alberto Miapia Segunda assegura ainda que não existe um conflito entre angolanos e brasileiros na Igreja Universal.
Segundo o porta-voz, os 300 pastores que deixaram de se rever na liderança de Edir Macedo foram afastados por violarem as doutrinas da instituição.
"Somos angolanos e estamos aqui na igreja. Há um grupo de pastores que foi afastado da obra por conduta indecorosa que viola a doutrina da igreja. Por serem desligados da obra, talvez insatisfeitos com o afastamento, passaram a disseminar a ideia de que há discriminação na igreja ou que há uma guerra entre brasileiros e angolanos", diz.
E o bispo sublinha: "Essa ideia de que há uma guerra entre brasileiro e angolanos não é verdade", disse o pastor natural do Kwanza Sul.
"Não devemos ser destratados", diz a CASA-CE
No entanto, o deputado da coligação CASA-CE, a segunda maior força da oposição, Manuel Fernandes, considera graves as alegações dos pastores dissidentes e defende a punição da instituição caso os crimes denunciados se confirmem.
"Não estamos a exercer nenhum protecionismo, defendemos apenas a legalidade, se há uma infração, é claro que os infratores devem ser responsabilizados", disse o parlamentar.
Quanto às declarações de alguns políticos brasileiros face às divergências na IURD, o deputado disse que "Somos um país com uma identidade própria, não devemos ser destratados por quem quer que seja só por ver os seus interesses não muito bem conseguidos".
A IURD tem cerca de 500 mil fiéis em Angola, de acordo com dados divulgados pela instituição. Atualmente, a Igreja Universal conta com 340 pastores, sendo 244 angolanos, 64 brasileiros, 27 moçambicanos e 5 são-tomenses.